A cena da crucificação onde Jesus está entre dois ladrões tem um significado mais profundo do que a simples apresentação daqueles três corpos. Representa a variação que a justiça humana pode representar: um homem justo que foi empurrado para a crucificação, com todos os meios lícitos e ilícitos usados para atender os interesses dos poderosos; um ladrão, chamado Gestas, cheio de ironia e sarcasmo e outro ladrão de bom coração, chamado Dimas, que reconhece a justiça de seu castigo e que está ao lado de um homem justo, acredita no que Ele diz e pede para participar do Reino que Ele ensina.
Na Bíblia o nome do bom ladrão não aparece. Ele expressa a crença de que Jesus “virá no Reino de Deus”, e este pede que, nesse dia, Jesus se lembre dele:
“39 Então um dos malfeitores que estavam pendurados, blasfemava dele dizendo: não és tú o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós. 40 Respondendo, porém, o outro repreendia-o dizendo: nem ao menos temes a Deus, estando na mesma condenação? 41 E nós, na verdade, com justiça; porque recebemos o que os nossos feitos merecem; mas este nenhum mal fez. 42 Então disse: Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino. 43 Respondeu-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso. “ (Lucas 23:39-43)
No Evangelho Árabe da Infância de Jesus (apócrifo do século VI), o bebê Jesus encontra os dois ladrões, Tito e Dumachus, e prevê que, depois de 30 anos eles serão crucificados com Ele.
Uma das mais antigas lendas populares do cristianismo nos conta que o bom ladrão teria nascido em um covil de ladrões, filho do chefe do bando, e, ainda muito pequeno, teria contraído lepra. Sempre de acordo com a lenda, a Sagrada Família teria buscado refúgio naquela cova para passar uma noite durante a fuga para o Egito. Na manhã seguinte, a mulher do chefe do bando lavou o seu filhinho com a mesma água que a Santíssima Virgem Maria tinha usado para lavar o menino Jesus – e a lepra desapareceu. O menino, porém, tornou-se um ladrão como seu pai. Quando adulto, acabou sendo capturado, conduzido a Jerusalém e condenado à morte por Pôncio Pilatos. Foi quando Dimas pôde ver Nosso Senhor carregando a cruz e sendo crucificado ao seu lado. Ele se rendeu à graça de Deus e proclamou aquele gesto de fé e de amor que ficou registrado para sempre no Evangelho; um gesto de fé que lhe rendeu a mais sublime promessa do próprio filho de Deus: “ainda hoje estarás comigo no paraíso”.
De fato, esta é a única informação histórica sobre esse homem que ficou conhecido como “o bom ladrão”. Se todo o seu passado é um mistério que a imaginação piedosa procurou pintar com a lenda, o seu futuro é uma certeza de fé!
Pela tradição cristã, São Dimas é o protetor dos pobres agonizantes, sobretudo daqueles cuja conversão na última hora parece mais difícil. Entregam a São Dimas a proteção das casa e propriedades contra os ladrões. Invocam-no nas causas difíceis, sobretudo nos negócios financeiros, para a conversão dos bêbados, dos jogadores e ladrões. É protetor dos presos e das penitenciárias, dos carroceiros e condutores de veículos. A Igreja Católica celebra o dia 25 de março como o dia de São Dimas.
Feito toda essa consideração sobre o “bom ladrão” para chegar ao momento político atual no Brasil. Observamos uma quadrilha de corruptores que tomaram conta do nosso país, entre eles o atual presidente que assumiu o cargo por força das circunstâncias. Logo surgiram os insatisfeitos e prejudicados com a nova administração e cunharam o nome de “golpe” ao processo legítimo de impeachment, à luz da legislação em vigor e com toda a transparência dos diversos atos.
Observei no desfile de escolas de samba neste carnaval, uma delas a Paraíso do Tuiuti, representando o presidente como um vampiro, e entendi como um dos ladrões ao lado do Mestre. Mas faltou a representação do outro ladrão, aquele que nega tudo e já está condenado pela Justiça e sempre vociferando. Claro, não cabia nessa representação a crucificação de Jesus, mas cabia a representação dos dois ladrões que alimentaram a corrupção ao máximo.
Qual dos dois é o mau e o bom ladrão? Aquele que tenta corrigir os efeitos maléficos da corrupção ou aquele que nega sempre os seus atos e ameaça quem tenta mostrar a verdade dos fatos?