O narcotráfico é uma poderosa força criminosa que faz girar uma fortuna nas mãos dos traficantes, quer sejam esses moradores das favelas ou aqueles, mais ocultos ainda, moradores em ricas mansões ou frequentadores das altas rodas.
O Estado até agora tem se mostrado inócuo a essa força paralela, que evoluiu à ponto de dominar grandes áreas como as favelas e as vias que passam em seu entorno. O número de mortes encontradas entre os próprios envolvidos e entre os inocentes, aqueles que estão fora desse jogo, é enorme. Sem falar do alto nível de corrupção que é incentivado. Os jovens logo cedo percebem que podem ganhar mais dinheiro e serem respeitados entrando para o tráfico do que ser um trabalhador de salário mínimo. Isso é um forte atrativo para causar um arrastão entre nossos jovens para o crime organizado que logo cedo deixam de ser cidadãos para serem bandidos.
O que fazer dentro deste contexto? Onde parece que cada vez mais, cada vez que as forças de repressão atuam mais fortalecem e valorizam o produto que os traficantes comercializam?
Muito tempo passei defendendo as forças da repressão, defendendo a proibição de todas as drogas consideradas ilícitas, mesmo porque, trabalhando na área como médico e sabedor dos prejuízos trazidos pelas drogas, sei dos graves riscos à saúde mental dos usuários. Mas agora, estou me rendendo à força dos fatos, dos acontecimentos. Vejo que a grande quantidade de mortes causadas pelo tráfico das drogas e fortalecida pela proibição, tem de acabar. Como fazer isso? Acabando a proibição do uso de drogas e construindo instituições, um misto de hospital e supermercado, onde as pessoas poderiam comprar suas drogas de preferência do próprio Estado. Poderiam comprar suas quantidades e ir para casa, ou ficar internados usando a droga por maior tempo dentro da instituição. Poderiam correr risco de vida dentro dessa instituição? Sim, poderiam, mas todos eram informados desse risco e decidiriam, se queriam parar ou não... se queriam usar até a aproximação fatal da overdose.
Com isso, todos saberiam que a principal fonte de uso da droga que a pessoa quisesse seria o próprio Estado. A pressão social que levava as pessoas em busca dos traficantes e deixar com eles suas moedas, deixaria de existir. A quantidade de recursos usados para montar e fazer atuar as forças da repressão, agora seriam redirecionadas para a contratação de técnicos que produzissem a Psicoeducação e o tratamento de desintoxicação e libertação da dependência para quem desejasse sair dessa condição.
Saindo da minha posição de defensor das forças de repressão, agora eu serei defensor de um Estado que permita a liberdade do cidadão usar a droga que ele queira, dentro dos limites comerciais impostos pela própria lei do mercado. Certamente aumentará o número de mortes e de internações causados pelo uso das drogas, mas com certeza será compensado pela falta de morte dos inocentes que sairiam dessa linha de fogo do poder dos traficantes.