Vivemos atualmente num mundo cheio de violência, de agressividade, de delinquência. As pessoas que procuram viver dentro das normas sentem-se constantemente ameaçadas pelos delinquentes e surge naturalmente um sentimento de revolta, de justiça, de vingança. O Evangelho aponta para a direção contrária, que não devemos abominar os delinquentes, pois podem ter delinquido por invigilância ou insanidade, que por terem resvalado na estrada da vida, podem estar em profundo fosso de inomináveis sofrimentos.
Talvez isso não chegue à nossa consciência, mas muitos deles dariam a metade da existência se pudessem recomeçar toda sua vida em vez de estar preso entre grades, ou sendo surrados nas ruas, caídos na lama, sorvendo as lágrimas de fogo numa taça de remorsos.
São esses pobres sofredores, homens e mulheres, às vezes crianças, que se envolvem em todos os tipos de delinquência e formam um batalhão que jornadeiam nas ondas fortes da ansiedade.
São mulheres que expulsaram a maternidade no ato criminoso do aborto e que choram solitárias a sua angústia, e agora, tudo dariam para reter o filho que supunham não desejar; são outros que caminham cadaverizados dominados pelas drogas, amedrontados e envergonhados do exame a si mesmo; são assassinos vítimas do momento insano, que convertem o cérebro em presídio, recordando e sofrendo sem paz nem esperança; são viciados de toda a natureza, sexo, drogas, jogos, e até a recente tecnologia midiática que deixam cada um preso a tela de um celular em qualquer ocasião, sem respeito às pessoas presentes que ficam privadas de suas companhias.
Mesmo que sejamos tentados a julgar, condenar e punir, lembremos da lição do Mestre ao ser confrontado com o problema da adúltera que foi pega nessa delinquência e por isso foi levada para o caso ser decidido por Ele. Jesus percebeu a armadilha que queriam colocá-lo, pois se defendesse a ré, perdoando-a, estaria indo contra a lei de Moisés; se observasse a Lei de Moisés, autorizando o apedrejamento, estaria indo de encontro a Lei do Amor que Ele sempre ensinava. No entanto, o Mestre frente a adúltera, só pensou em ajudar, considerando que a delinquente conduz o fardo pesado do crime a torturar-lhe a consciência, tanto no momento atual quanto no amanhã.
Analisemos a nossa posição, nosso norte. Examinemos os nossos débitos e compromissos negativos. A escada moral sempre tem mais um degrau, sempre vai mais abaixo. A ligação com a irresponsabilidade ou a ambição não se rompe facilmente, e o primeiro engano, quando não corrigido, é convite para outro engano. O sabor de enganar o próximo é ópio mentiroso e o delito em planejamento mental é crime em corporificação. Ora, enganar ao próximo é fácil... o difícil depois é explicar a Deus.
Também, devemos nos submeter aos fatores cármicos do nosso nascimento e até rejubilarmos com eles. Lembremos da história da rã que queria ser forte quanto um boi. Foi estufando, estufando, estufando até que... pum!!!
Auscultemos o pensamento divino que perpassa por tudo e assim compreenderemos a necessidade de sermos felizes com o que temos, como estamos. Consideremos os que delinquiram e procuremos amá-los, mesmo que isso seja muito difícil e pareça incoerente. Visitemos esses delinquentes no cárcere, nos leitos hospitalares, aonde possamos ir...
Reconheçamos a última lição do Mestre: foi crucificado como delinquente entre dois ladrões. A hora da sua morte entre eles é como se o Mestre quisesse nos dizer sobre a necessidade de sermos piedosos em relação aqueles que, imprudentes ou enlouquecidos, deliram com os seus crimes.