Ao ler o livro de um dos maiores publicitários do país, “Duda Mendonça – casos e coisas”, encontrei um trecho que merece nossa reflexão e a comparação com os dias mais atualizados.
Ao se referir ao diagnóstico verdadeiro que o médico americano deu ao câncer que sua mãe sofria, o publicitário escreveu:
“Isso nunca saiu da minha cabeça: jogar claro, aberto, colocando as coisas nos seus devidos lugares, desde o princípio, de um modo bastante objetivo.
Quando decido aceitar um cliente e assumir a responsabilidade de fazer a campanha política, minha disposição é uma só. Eu entro para ganhar.
O ditado que reza que “o importante é competir” não faz parte da minha cartilha.”
Na condição de marqueteiro político, acredito que seja muito difícil ele colocar essas premissas em prática, de jogar claro, aberto, colocando as coisas nos seus devidos lugares desde o início. Pois senão, vejamos, ele foi o responsável pela primeira campanha vitoriosa do PT à presidência em 2002, momento que eu também votei em Lula pela primeira vez. E encontro no site da VEJA, revista semanal, no blog do colunista Reinaldo Azevedo, em abril de 2017, o seguinte:
Investigação
Com essa nova citação ao seu nome, Duda Mendonça deve entrar outra vez na mira das autoridades. Seu nome já havia aparecido no Mensalão – escândalo de compra de votos no primeiro mandato do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva – mas ele acabou sendo absolvido no julgamento.
Na ocasião, o Ministério Público Federal apontava que ele e Zilmar Fernandes, sócia de Duda, teriam lavado e remetido criminosamente para o exterior recursos de caixa 2 da campanha de Lula em 2002. Em 2006, os dois chegaram a ter seus bens bloqueados pelo ministro Joaquim Barbosa a pedido do MPF como forma de garantir o pagamento da dívida que teriam com o Fisco, calculada à época em R$ 30 milhões. A defesa dos dois admitia uma dívida próxima a R$ 7 milhões. Relator do processo, Joaquim Barbosa deferiu pedido de bloqueio dos bens em 2006. Com a absolvição, os recursos foram liberados.
Defesa
A reportagem tentou contato insistentemente com Duda Mendonça pelo celular, mas ninguém atendeu. Foi encaminhada mensagem para o marqueteiro, também sem resposta.
Podemos observar que as intenções do publicitário, divulgada pessoalmente em seu livro, não está coerente com o que foi praticado nessas campanhas políticas. Não quero dizer que ele esteja envolvido na prática da corrupção que os seus contratantes se envolveram, mas é muito difícil acreditar que ele, com toda a inteligência que demonstra ter em sua agência de publicidade, não teria conhecimento da fonte criminosa dos recursos que recebia. Inclusive, pelo reconhecimento de sua defesa com de uma dívida no valor de R$ 7 milhões de reais com o Fisco e a esquiva de falar com a imprensa sobre o assunto.
Sei que pode haver outros motivos que não sejam criminosos nessas aparentes provas de cumplicidade com a corrupção, mas isso serve de lição para todos nós que estamos do outro lado, na posição de “juízes”, com “pedras na mão”, prontos para destruir o delinquente.
Ele como todos nós, com raríssimas exceções, lutamos para vencer na vida as maiores privações, medos, resistências, equívocos... nessa luta, apesar de nossas boas intenções, estamos ao lado de pequenos gestos de corrupção que para nós, parece normal, como fazer um trabalho da escola usando a xerox e o papel da empresa que trabalhamos, guardar para nós o dinheiro achado numa bolsa com documentos e endereço do seu proprietário, deixar de trabalhar algumas horas numa empresa para prestar serviço em outras, ou mesmo esquecer um contrato de dedicação exclusiva com uma empresa e trabalhar para outros entes no mercado... essas “pequenas contravenções” são feitas à luz do dia, todos observam e tratam com naturalidade. Inclusive os próprios arautos da honestidade sofrem desses “pequenos desvios éticos”, inclusive o autor deste texto.
Ao escrever aqui essas reflexões, penso nos diversos “pequenos desvios éticos” que pratico a todo momento. Não estou muito distante de Duda Mendonça ou de qualquer corrupto que um dia pensava com tantas boas intenções.
Acredito que o fator principal para evitar nossa queda na franca corrupção de tirar do bolso da população milhões do seu suor ou até da sua vida, é a manutenção da Verdade em nossas ações. Se cairmos na tentação de omitir e principalmente mentir sobre o que praticamos ou dizemos que iremos praticar, estaremos pavimentando a estrada dos crimes que irão sair de nossas ações.
Portanto, temos duas armas a esgrimir, a Verdade ou a Mentira, para determinar quem será o vencedor dessa peleja, o Bem ou o Mal. Sabemos por estudos prévios, que o Bem é nossa destinação, que todos alcançaremos o estágio de perfeição no caminho evolutivo, mas enquanto isso não acontece, fiquemos ao lado da Verdade. Pois somente aqui aquele ditado não deve prevalecer: o importante não é competir, mas vencer!