Evitemos contender, litigiar, brigar, mesmo que nominalmente sejamos convidados ao debate. Isso quase sempre representa semeadura de espinhos para colheita de aflições futuras. Da discussão nem sempre nasce a luz, pelo contrário.
Raramente a discussão é mantida no alto nível da exposição serena. Os discutidores quase sempre são inseguros sobre o que debatem, personalistas, impõem opiniões não amadurecidas, não pensadas, mas defendidas com vigor e entusiasmo apaixonado.
Contender é diferente de esclarecer. Raros são aqueles que conseguem terminado o debate, guardar a paz íntima, e alinhar o equilíbrio das emoções. Quase sempre a contenda deixa fel nos lábios e desorganização mental, entorpecendo os centros de discernimento. Geralmente conduz os discutidores ao auto envenenamento absorvendo altas doses da ira ou da cólera imprevista.
Esclarecer significa examinar com calma a questão, expor o assunto e deixar a mensagem. Reserva ao outro o direito de digerir o conceito, aceita-lo ou não. Se alguém aceitar nos ouvir, isso deve nos alegrar, mas, a recusa não deve nos magoar.
Elucidar uma questão é também ocasião de aprender, de raciocinar na medida mental de quem escuta, conseguindo novas conclusões resultantes dos esclarecimentos examinados.
Em contendas, pelo contrário, consomem-se energias na inutilidade do debate, desarmonizam-se os painéis mentais, florescem as disputas em favor do personalismo, e intensificam-se as animosidades.
Geralmente existe uma disposição combativa dentro de cada um de nós, que é adquirida nas lutas da vaidade, que gera o clima de rebeldia, predispondo a violência. Devemos silenciar a palavra dura que leva ao debate quando sentimos que o argumento da serenidade está recusado. Por que se envolver em tão ásperas disputas, se amanhã as opiniões podem ter mudado?
O nosso objetivo deve sempre ser o de ajudar, não de vencer. Vencer deve ser o apelo principal para vencermos a nós mesmo. O homem que sabe e compreende a relatividade das coisas, que conhece o incomensurável do que ignora, silencia para meditar, examina para aprender melhor, e quanto mais sabe, mais se compenetra de humildade.
Ajudar ao nosso próximo evitando as contendas não constitui um fardo, quando compreendemos que esse próximo é nosso irmão, e melhor ainda, quando intuímos que estamos ao serviço de Deus, ajudando o nosso próximo, percebendo que isso não é um fardo, e sim uma honra.
Os homens superiores desenvolvem essa compreensão, ignoram os triunfos sobre os outros, em contendas, preocupados que estão em se superarem. Fiscalizam as palavras e mantém a serenidade para que o verbo exale o aroma da sabedoria e da compreensão.
O imperador e filósofo romano Marco Aurélio, já dizia que “o homem comum é exigente com os outros, enquanto o homem superior é exigente consigo mesmo.
Finalmente, lembremos das lições do Mestre, que nunca procurava tergiversar com o adversário que aqui e acolá se fazia presente em sua vida. Até mesmo diante da autoridade do governador Pôncio Pilatos, que lhe perguntava se ele era o Rei dos Judeus, quando os sacerdotes judeus o estavam acusando com intenção de matar através de Roma: “Tú o dizes. Meu reino não é deste mundo”. E silenciava. Não entrou em debates reconhecendo a inconveniência, a incapacidade do interlocutor de alcançar a dimensão do que ensinava. Deixou apenas o norte para que houvesse reflexão e a consciência de cada um pudesse ser acionada no reconhecimento da Verdade, por mais distante que estivesse dos conhecimentos ou dos interesses de quem lhe rodeava.