Nossos relacionamentos humanos são cheios de afetos e desafetos. Em um momento estamos encantados por alguém, compreensivos, apaixonados; em outro momento, desinteressados, irritados, intolerantes.
Esse fluxo de sentimentos e emoções se torna uma constante em nossas vidas e por trás deles existe um direcionamento dos afetos que fazem nos aproximar ou distanciar de uma convivência harmoniosa. É como se fosse o mar com seus momentos de enchimento (preamar) e de esvaziamento (baixa-mar) das marés, mas sempre, por cima, os movimentos das ondas que quebram nas areias da praia e logo retornam para o seio das águas profundas.
Assim são nossos sentimentos direcionados as pessoas, como marés, principalmente aquelas que estão mais próximas cujos afetos quebram, como ondas, nos relacionamentos mais íntimos, principalmente os sexuais.
Lembro com nostalgia de todos esses movimentos feitos por meus sentimentos ao longo de minha vida. Quantas pessoas das quais me aproximei com as marés dos meus sentimentos; quantas ondas foram quebradas, algumas com tanta energia, nos gestos românticos, abraços fraternos, beijos “calientes”, trocas de fluido, e logo depois... vem o afastamento, os gestos físicos de raiva, palavras de críticas, troca de insultos e até agressões verbais e físicas.
Minhas lembranças das marés cheias trazem saudades imorredouras ao meu coração, que nem mesmo os momentos de ressaca, de marés baixas, conseguem apagar. Às vezes me pego nos sonhos, a fazer movimentos de maré cheia com algumas pessoas especiais. Noto toda a coreografia social da aproximação afetiva, dos gestos românticos que parecem ressuscitar por trás do esquecimento dos ressentimentos.
Ao acordar vejo que, por mais que eu direcione meu coração para os momentos de maré cheia, de aproximação afetiva, jamais as ondas quebrarão como antes quebravam nos nossos corpos incendiados pela paixão.
Ao encontrar com a pessoa afastada, que antes fora tão aproximada e que hoje apenas sonho com farelos de nossos afetos, vejo que o Amor é o grande artífice dos meus sentimentos, que não deixa prosperar nos meus pensamentos nenhuma memória dos momentos difíceis, e sim, como registrados no mármore, todos os momentos de romantismo que encantaram nossas vidas em algum momentos de nossas existências.