Vamos considerar dois tipos de escândalos: escândalo tradicional, aquele que é negativo e nos causa espanto, crítica; e escândalo, aquele que também nos causa espanto e crítica, mas que tem um caráter positivo.
Com relação ao escândalo, Jesus já advertia que era melhor entrar na vida espiritual sem o membro que causou o escândalo do que com ele. Se o olho direito leva você a pecar, arranque-o e jogue-o fora! É melhor perder um membro, do que o seu corpo todo ser jogado no inferno. “Se a mão direita leva você a pecar, corte-a e jogue-a fora! É melhor perder um membro do que o seu corpo todo ir para o inferno” (Jesus Cristo).
Temos na história alguns escândalos provocados por personalidades: Alcibíades, um general ateniense, mandou cortar a cauda do seu cão de estimação, que lhe custara uma fortuna, para causar um escândalo; Cornélia, dama célebre da família dos Gracos, interrogada por uma rica patrícia da Campânia sobre as suas joias, apresentou-lhe os filhos dizendo que eles eram suas joias e adornos preciosos; Júlio César, imperador romano, ao retornar das Gálias, contraiu altos empréstimos para construir uma residência suntuosa, e antes de habitá-la mandou demolir e ergueu sobre os escombros outro palácio mais luxuoso, para escandalizar Roma; e Guatimozim, último imperador indígena do México, condenado por Cortez a ter o corpo untado e erguido sobre brasa, escandalizou os espanhóis quando o seu secretário que sofria o mesmo martírio, gritou – Deixa-me falar, não aguento mais. E eu, respondeu o imperador, estarei por acaso sobre um leito de flores?
Agora, existem casos de escândalos, por exemplo, com os cristão que mantém uma firmeza na sua prática evangélica, que escandalizam aqueles que reconhecem o valor positivo, ético, dessa prática, mas que eles se sentem incapazes de realizar da mesma forma. Mas esse deve ser o caráter do aprendiz do Evangelho, mesmo que isso cause escândalo em quem não pode praticá-lo. Veremos que não se pode conciliar os interesses do mundo com os objetivos do espírito. Os verdadeiros cristãos não usam máscaras, suas atitudes revelam a presença de Deus.
Existem diversos exemplos de pessoas que fazem e vivem sem a identificação com a Verdade. São negociantes que atuam de forma ambiciosa e atormentada; são profissionais de quaisquer ramos do saber que lutam com quaisquer armas tendo em vista o triunfo imediato; agricultores que exploram a terra e os seus ajudantes pensando apenas em si; industriais que negociam por processos escusos; e servidores públicos que negam-se ao dever da pontualidade e da execução das tarefas.
Na atualidade muitos se referem aos adeptos sinceros do Evangelho com apelidos deprimentes (besta, idiota, inocente etc.) desenvolvendo neles o mesmo culto da personalidade que os arrasta a posições lamentáveis e ociosas.
Creem muitos cristãos, na impossibilidade de viverem com retidão, quando campeia a rapina, a ambição, a desonestidade, o abuso do sexo, a mentira, a leviandade e todo séquito de maus exemplos que já não produzem escândalos.
Podemos fazer a comparação de que no tempo dos mártires, a ocasião de servir ao Cristo não era diferente das condições sócio morais da Terra de hoje. Acontece que os cristãos de hoje o são, sem Cristo. Cidadãos do mundo, que servem-se dele e, no entanto, apegados a Ele.
Vamos ter coragem de produzir esses escândalos, dando fiel cumprimento aos impositivos da fé que germina vitoriosamente no solo dos nossos espíritos. Vão dizer para ferir-nos que é loucura ser pobre, quando facilmente se pode aumentar as posses. Dirão que os dias de honra já se foram. Afirmarão que a fé não deve interferir nas atividades da vida cotidiana.
São por causa desses loucos, como o Mestre de Nazaré, e doutores como Paulo de Tarso e os diversos discípulos da Boa Nova, que temos o clima mental da esperança evangélica para um dia sairmos de tanto egoísmo ao nosso redor e dentro da gente.