O cristão quando assume a doutrina do Cristo e procura pratica-la, vai encontrar muitas dificuldades, verdadeiros suplícios. Pode ser que depois de assediado, de comprimido pelas forças materialistas, o cristão termine agindo com desinteresse para com as aspirações que havia desenvolvido, sente que elas foram demolidas.
Pode ser que as palavras ditas por um eloquente pastor, que serviam de roteiro de vida para a construção de um mundo melhor, tenham perdido a vitalidade, e o próprio pastor caminha atônito, sem rumo, como vimos alguns que chegaram a ser presos, identificado os seus crimes no Congresso Nacional.
Pode ser que o livro nobre que motivou a alma do cristão, adornando-a com Luz, pareça agora sem combustível ao ser constatado a realidade que espera aquele que já conseguiu aplicar a lei do amor em sua vida.
As vidas que servem de exemplo aos cristãos, que constituíam exemplos de alento vivo, bruxuleiam na mente inquieta de alguns cristãos, como se fossem lendas da infância, que a maturidade apaga com os chumaços de dissabores.
Os planos fascinantes com os quais eram trabalhados a terra do coração para os empreendimentos da esperança, não mais acionam a maquinaria paralisada dos altos objetivos desses irmãos supliciados.
Muitos experimentam a convicção que se acentua, que a Terra se converte paulatinamente em presídio para alienados, vítimas da própria imprevidência e que tudo isso forma sombras pesadas sobre nossas existências.
Por outro lado, existem os exemplos de luta que a Natureza oferece e que mostram que não podemos nos esquivar desse enfrentamento. Se o débil vegetal pudesse imaginar, quando em semente, sobre as dificuldades a vencer, tais como: a dureza do solo que teria de enfrentar para se ver germinar, as tempestades que poderiam acontecer a qualquer hora e destruir a sua vida, animais e homens que a poderiam colher para se alimentar... talvez esse vegetal recuasse e a vida assim estaria condenada desde o princípio.
Da mesma forma podemos simular com a gota d’água. Se ela temesse a chegada ao oceano onde se consome, talvez se negasse a evaporar, formar nuvens e se condensar na forma de chuva, e assim ignoraríamos os rios que matam a sede.
Se a chama temesse a ventania e se negasse a arder nos primeiros tempos, nós não teríamos o progresso que temos hoje.
Se o amor ficasse inibido diante das enfermidades do egoísmo, o caos voltaria a reinar desde os turbilhões do começo da existência...
Obedecendo aos jogos das transformações, vemos que o imenso Universo é formado pelo humílimo átomo, e a gotícula é a base para nova vida. No aparente vácuo em que os mundos estão envolvidos e distanciados entre si, existe a glória de Deus, inacessível à nossa minúscula consciência.
Tudo que existe é chamamento a ação, apelo ao trabalho e as transformações que a partir daí vão surgimento.
Nós, cristãos, temos uma tarefa pela frente. Não podemos ficar inibidos quando os aplausos sobre o que fizemos deixarem de existir. Devemos sempre prosseguir, evitando as ciladas da covardia e seguir nos passos dos desbravadores da Terra e da Verdade.
Lembremos que os supliciados em nome do Cristo, aparentemente destruídos, pelo fogo, dentes de animais selvagens, decapitações, etc., passaram, assim como os servidores da fé, das artes, das ciências, dos descobrimentos em geral, mesmo pisando no sarcasmo, nas pústulas do desdém, demandaram para os cimos da existência para onde rumam todos nós que vivemos a verdadeira vida, a espiritual.
Alguns desses trabalhadores das lições do Cristo, não tiveram sequer o reconhecimento da sociedade, mas o que fizeram, o que sofreram, tornou-se o cimento da redenção e da vitória de milhões.
Agora, atenção! Não podemos fitar a trilha dos desertores que conhecendo o Cristo desviam de suas lições. Suas pegadas são destruídas pelo tempo. Ao invés disso, firmemos a disposição de deixar-nos manter pelas linhas basilares do ensino salutar. Resignemos, mesmo prosseguindo sem companheiros ao lado, sem elos com outros, pois mesmo assim nunca estaremos sozinhos, sempre estaremos ligados ao Triunfador Solitário, que do alto de um madeiro, ao lado de dois ladrões, abandonado pela maioria dos seus discípulos e por quem havia feito tanto bem, ainda tinha a coragem moral de dizer: Pai, perdoa-os, pois não sabem o que fazem.
Foi esse mesmo Mestre que os amigos queriam fazer dEle um rei para a glória de Israel, sem compreender que Ele pensava no suplício da cruz e que seria pendurado para a glória de Deus, sem pedir a ninguém que participasse de tamanha tortura.
Os próprios companheiros não O entenderam, todavia, ainda hoje a sua semente de Luz é sol de incessante aurora nos horizontes da vida eterna.