Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
25/10/2018 23h59
CARTA DA PSIQUIATRIA

            Recebi de um colega clínico, envolvido na medicina comunitária, naturalista, uma carta onde diversos colegas psiquiatras manifestam apoio a Fernando Haddad do PT. Irei reproduzir a carta, pretensamente assinada pelos colegas, para nossa reflexão.

            PSIQUIATRAS EM APOIO A FERNANDO HADDAD

A prática da psiquiatria, através da escuta e do olhar observador, compreensivo e não-julgador, objetiva acompanhar uma pessoa na liberdade de ser quem ela é, respeitando suas especificidades e particularidades, seja através da diminuição ou remissão de sintomas, seja através da potencialização de suas possibilidades existenciais. A saúde mental engloba o meio social em que cada indivíduo se encontra, que deve garantir condições básicas para uma existência digna.

A partir destas premissas, nós, psiquiatras, diante do processo eleitoral em que nos encontramos, nos colocamos em oposição ao candidato que ao longo de sua vida exaltou a tortura, considerou a eliminação de minorias e desdenhou de direitos básicos imprescindíveis para a garantia da saúde mental. Nós, que nos servimos da escuta como ferramenta profissional, nos colocamos contra o discurso de intolerância e ódio e contra a isenção e o silêncio que banalizam este mesmo discurso. As palavras e os afetos nos dizem quem uma pessoa é, ou pelo menos quem ela quer ser; as palavras constroem histórias, e não podemos desconsiderar o que foi e tem sido dito.

Como psiquiatras entendemos que os comportamentos e possibilidades de expressão humanas são diversos e múltiplos. Valores como a tolerância, o respeito, a solidariedade e a compreensão são geradores de um espaço de liberdade em que cada vida é celebrada em toda sua potencialidade. Todas e todos devem ter seu direito à felicidade protegido. A democracia foi, tem sido e será o espaço de inclusão para toda a diversidade humana.

Nós, psiquiatras abaixo-assinados, declaramos nosso voto em Fernando Haddad, pelo respeito a direitos básicos e porque escutamos nas palavras do outro candidato elementos incompatíveis com as premissas da saúde mental.

Segue uma lista de pretensos colegas que assinam a carta.

No primeiro parágrafo é colocado o contexto do trabalho do psiquiatra que acredito, nenhum colega se oponha. Porém, no segundo parágrafo, observo considerações superficiais sobre a posição política do candidato Bolsonaro. Não há uma reflexão do contexto da dita tortura, não há em seu discurso nenhuma proposta de eliminação de minorias e não vejo o desdém dos direitos básicos imprescindíveis para a saúde mental. Pelo contrário, o partido do candidato Haddad, o PT, foi quem desmoronou a assistência hospitalar dos pacientes psiquiátricos, com uma desospitalização irresponsável que até hoje perdura, com hospitais sucateados, falta de medicamentos e profissionais, sem uma rede alternativa suficiente extra-hospitalar, o que obriga os hospitais sucateados, como o nosso Hospital João Machado acumular pacientes em ambiente de Pronto Socorro, em condições sub-humanas, leito chão, sem a devida supervisão por falta de profissionais, e sem ter aonde encaminhar para internar por falta de vagas. Dentro desse cenário, cai por terra toda a linguagem poética de “valores como a tolerância e a compreensão são geradores de um espaço de liberdade em que cada vida é celebrada em toda sua potencialidade. Todas e todos devem ter seu direito à felicidade protegidos”. Como tolerar o comportamento de pessoas que praticam a corrupção em todos os níveis da administração, causando a carência e a falência de serviços essenciais como saúde, educação e segurança, que envia graciosamente nossos recursos para países de igual ideologia, que enche seus bolsos, de familiares e amigos se enchendo de felicidade enquanto a nação se desmancha na infelicidade?... Milhões foram às ruas em todo o País contra esse estágio de coisas, inclusive eu... Quem eu via e ouvia no Congresso Nacional, denunciar com toda veemência esse estado de iniquidades, era o Deputado Bolsonaro, por isso ele se tornou a voz da nação naquele momento e agora. Não é a construção de narrativas que manipulam a verdade que vai retirar a convicção da maioria dos brasileiros que devemos varrer de uma vez por todas esse sistema de corrupção e deterioração dos valores éticos, do poder nacional.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 25/10/2018 às 23h59