Pecado é um erro que se comete; pecador é aquele que comete o erro. Os ensinos cristãos dizem para amarmos o pecador, mas que abominemos o pecado. É uma sábia lição que se devidamente aplicada nos ajudaria bastante a atingir o ideal do Reino de Deus aqui na Terra.
Tem um exemplo esclarecedor na doença do alcoolismo. Considerando a doença como o pecado, a pessoa embriagada estaria dominada pelo pecado. Nessas circunstâncias não podemos ter tolerância com o pecado, pois o pecador está incapacitado pelo tóxico que domina a sua mente. Porém, quando o pecador está sóbrio, a doença está adormecida, e posso falar com toda paciência, solidariedade e compreensão com os alegados problemas que justificam a queda no erro. A pessoa deve saber que tem todo o apoio enquanto está sóbrio, enquanto luta para não permitir que a doença volte a dominar a sua vida. E isso ele consegue evitando tomar o primeiro gole. Nesse caso está bem delimitado o doente/doença; pecador/pecado.
Agora, tem outras situações que este limite não fica tão claro assim. Vejamos a depressão. A pessoa está com o psiquismo íntegro e por algum motivo se torna negativista, sem prazer, angustiada, sem ânimo para viver. Ela não tomou nenhuma iniciativa, como o alcoolista faz, para entrar no nível da doença. Nesse caso, como podemos amar o pecador/doente e abominar o pecado/doença, se eles estão intrinsecamente dentro um do outro? Posso falar com o doente, mas ele está dominado pela doença, como acontece com o alcoólico quando está intoxicado. Se o alcoólico parar de beber, em 24 horas está desintoxicado, e posso falar com ele sem o efeito da doença. Mas tal não acontece na depressão. O doente mesmo tomando remédio específico, não vai se livrar da doença com 24 horas, uma semana ou um mês.
Como vencer os sintomas da doença sem a ajuda da medicação? O doente teria que se determinar em enfrentar o desconforto de sair da zona de conforto, do sofá, da cama, de dentro de casa. Ele vai dizer que não consegue, que a doença é muito forte. Seu psiquismo se sente derrotado, não consegue ter a esperança de melhora com ações positivas. Sente que todos seus aparelhos, físico e psíquico estão paralisados, incapazes de reagir. Nesse momento é importante que pessoas próximas atuem como terapeutas, que motivem, que levantem os doentes de suas zonas de conforto, como se fossem deficientes físicos ou psíquicos, que realmente estão nessa condição, nesse momento.
O doente deve entender que está numa situação deficitária e impotente em resolver sozinho o seu problema, e que mesmo sentindo-se desconfortável deve se submeter a ação ativa exercida sobre si, esperando que esse tipo de movimento vença a inércia que caracteriza a doença, assim como a intoxicação caracteriza o alcoolismo. No alcoolismo, o próprio metabolismo se encarrega de devolver o doente à normalidade, mas no depressivo o metabolismo não consegue fazer isso, principalmente em curto prazo, necessita de uma ação externa, seja química ou física.