Concedei-nos, Senhor, serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar, coragem para modificar aquelas que podemos, e sabedoria para distinguir umas das outras.
Esta singela oração é a âncora que desperta para a espiritualidade os membros dos grupos de mútua ajuda, principalmente Alcoólicos Anônimos, que foi quem primeiro usou, no início e final de cada reunião.
Serve como reflexão íntima daquilo que a pessoa percebe como negativo dentro de si, e que pode ou não modificar. A patologia, por exemplo, aprende que adquiriu a doença do alcoolismo e sendo uma doença crônica, incurável, vai ter que saber conviver com ela durante toda a sua vida. Vai ser necessário ter serenidade para aceitar esse fato e coragem para evitar o primeiro gole que desencadeia a doença. Ele pode não ter forças para curar a doença, mas pode ter forças para evitar tomar o primeiro gole.
Da mesma forma esse pedido da oração serve para ajustar o seu comportamento dentro dos seus diversos relacionamentos, familiar, profissional, e social de forma geral. Muitos problemas, conflitos, que foram gerados ocasionaram traumas incontornáveis, que a pessoa deve ter a serenidade para suportar e entender, o comportamento de tal pessoa em função daquilo que ela se sente prejudicada, vitimada, desonrada. Aqueles conflitos que podem serem perdoados, deve ter coragem de ir até a vítima, com humildade, e justificar seus atos em função do alcoolismo, implorando pelo perdão, que está seguindo uma linha de recuperação que sugere que isso seja feito.
Não ficam somente aí os benefícios da oração da serenidade quando ela é seguida em todos os meandros da vida. Mesmo eu não sendo alcoólico, frequento semanalmente uma reunião de AA e procuro aplicar a oração dentro dos meus diversos relacionamentos. Foi e está sendo bastante útil nessa campanha política que enfrentamos no último mês. Diversos amigos mostraram uma forte convicção em votar e apoiar o candidato que eu via como negativo. Consegui suportar uma avalanche de argumentos que eu sabia fazer parte de uma narrativa destrutiva, que os fatos de destruição do Brasil não eram considerados. Suportei com serenidade essas tentativas de modificar a minha opinião, de aceitar o amigo com a sua opinião que para mim era equivocada. Para quem eu sabia que estava na situação de obstinação, que poderia avaliar com neutralidade outros argumentos, eu colocava o que pensava, com os argumentos que eu possuía, sem causar constrangimentos ou repulsa. Hoje, passado o momento eleitoral, continuo respeitando a posição de quem votou contrário, e procuro a coragem para realizar o trabalho que deve ser feito para apoiar as propostas positivas do candidato vitorioso. Acredito que esta posição, com a colheita dos frutos que virão, servirá para corrigir o pensamento, que ainda continua distorcido, das pessoas de bem.