Série da Netflix, segundo episódio.
A cena acompanha o caminhar de Trótski pela cidade até a entrada de um atelier onde encontra Natália posando nua para diversos pintores. Observa de longe o cenário daquela bela mulher despida, sendo pintada por vários alunos com seus pincéis. Ela, como se percebesse intuitivamente que estava sendo observada com tanto ardor, vira o rosto para onde se encontra Trótski e faz um ar de riso sem que ele perceba. Depois do seu trabalho, Natália se despede e vai ao encontro de Trótski.
- N. Oi, Leon. Apreciando lindas paisagens?
- T. Centenas, até milhares de pessoas verão essas imagens. Sou apenas o primeiro.
- N. Você não gostou.
- T. Você não me conhece, Natália. Creio que ninguém deve dizer a uma mulher o que fazer com seu corpo. Esta moral é do passado, eu vivo pelo futuro.
- N. Então, seu futuro é imoral?
- T. Uma mulher deve decidir sozinha a quem entregar o seu corpo. Seu corpo e seu coração. Se ela escolher livremente ser fiel a apenas um homem, será mais sincero que esses morais dúbios. E então, isso é lindo.
- N. Sim, é mesmo. E você tem razão. Sou eu quem decido para quem me entregar.
- T. Você disse que gosta de Freud. Tome.
- N. Palestra do Freud?
- T. Isso.
- N. Em Viena.
- T. Sim. O trem parte em uma hora. É melhor corrermos.
A cena se desloca para a viagem de trem. Trótski e Natália estão juntos na mesma cabine. Ele folheia um jornal em pé, ela está sentada.
- N. Vai ter um congresso?
- T. Isso mesmo. De Viena vou para Bruxelas. Venha comigo.
- N. Para Bruxelas?
- T. Sim.
- N. É chato.
Batem na porta da cabine, os guardas entram e solicitam documentos. O guarda tenta soletrar o nome que consta no passaporte. Trótski ajuda.
- T. Kristo Samokovalov. Nós búlgaros temos nomes longos.
Natália se mostra surpresa. Os guardas saem e ela pergunta.
- N. Trótski! Que diabo foi isso?
- T. É a rotina diária de um democrata social.
Dois aspectos surgem para a compreensão de Natalia de quem é Trótski. Primeiro, sua visão da mulher, como deve ser vista, como deve se comportar. Isso deve ter agradado a Natalia. Também concordo com a opinião dele, mesmo que eu veja uma pontinha de machismo quando ele valoriza a posição da mulher virtuosa ser fiel a apenas um homem. Será que a mulher que ele deixou em sua cidade com uma filha, está liberada para ter um novo envolvimento como ele está tendo? Será que o seu ideal de justiça social também se aplica a justiça conjugal, onde a mulher deve ter o mesmo direito que o homem? Será que sua razão associada a justiça conseguirá vencer o instinto associado ao preconceito?
O segundo aspecto pode ter deixado ela com certa preocupação. O trabalho que ele faz como revolucionário, é um trabalho clandestino e que a qualquer momento pode ser preso ou mesmo eliminado pelas forças do poder constituído. Mas isso não deve constituir impedimento para uma paixão que está se desenvolvendo.