Ao despertar fui fazer exercício. Chovia muito, o tempo estava totalmente tomado pelas nuvens, prometendo chuva duradoura. Comecei os meus exercícios dentro de casa procurando a sintonia com Deus, e na metade dos exercícios que sempre faço, veio a ideia de sair em caminhada na chuva, aproveitando os pingos no meu corpo e a agua corrente nos pés.
Convidei o meu amigo que mora vizinho e ele topou a ideia. Tomamos logo uma ducha na biqueira assim que saímos de casa, e começamos a caminhada. Antes de pegar a estrada, tínhamos que atravessar as correntezas de água que desciam das ruas, formando valas que dificultavam nossa passagem. Em certo trecho tínhamos que pular a correnteza e nesse momento meu pé escorregou no chinelo e cai sobre os detritos que a chuva empurrava, cortando a perna de forma superficial. O corte ardia e eu temia infecção, já que a agua trazia no seu bojo muita sujeira.
Mais adiante encontramos um motorista que dirigia o seu carro sozinho e que estancou dentro da correnteza. Tivemos que ajudá-lo a tirar o carro daquela situação, dentro da corrente d’água. Empurramos o carro com muito esforço, contra a gravidade e contra a correnteza, para sair de dentro do fluxo. Não adiantou minhas preocupações com a infecção da ferida, a necessidade de ajudarmos o próximo falou mais alto.
Continuamos a caminhada, a chuva não era intensa, mas persistente. Observávamos as plantas viçosas com seu verdor resplandecente, como se estivessem também louvando ao Senhor. Os pássaros singravam os céus, alguns com seus gritos estridentes ou coreografias audaciosas. Os sapos davam aqui e acolá uma espécie de sussurro, a vacas aparentando calma, ficavam parada, comtemplando a nossa passagem, com suas tetas cheias e curiosidade na mente.
Encontramos na margem do caminho, uma cajazeira imponente nos seus seis metros de altura. Paramos para colher os cajás maduros que caíram ao redor do tronco. Como não havíamos levado nenhum tipo de sacola, retirei a minha camisa e improvisei um tipo de bolsa. Colhemos os cajás que encontramos, e mais adiante, já voltando para casa, encontramos juazeiros com centenas de frutos maduros que deixavam a copa da árvore com a aparência de estar adornada de pérolas. Colhemos alguns e deixamos juntos com os cajás.
Mais adiante encontramos uma cobra morta, havia sido cortada pela metade. Meu amigo ficou preocupado se ela não estava viva e enterrada pela metade, e pronta para dar o bote. Mas ao mexer com um pau, verificou que realmente ela estava morta.
Voltamos para casa por um caminho diferente, uma trilha apertadinha pelo capim alto e viçoso, mas sem provocar irritação na pele. Entrei pela casa do meu amigo e fui completar os exercícios abdominais para entrar no chuveiro.
Agradeço a Deus a oportunidade de aproveitar o dia que Ele nos deu como presente, cheio de sua manifestação em cada trilha que se abria à nossa frente.