Jesus passou 40 dias no deserto antes de começar a sua missão. Foi tentado de diversas formas, mas resistiu a todas elas, se mostrando capacitado de começar a tarefa que o Pai lhe destinou.
A quaresma lembra para mim esses 40 dias no deserto. Sinto que o Pai também tem uma missão para mim, não tão dura e importante como aquela que o Mestre recebeu, mas enfim, como aquele beija-flor da lenda, eu tenho que levar também o meu pinguinho d’água.
Não tenho um deserto para ir fisicamente, mas posso criar esse deserto na minha imaginação. Posso entrar nele e saber que não tenho muitos recursos que a carne deseja. Então tenho que reduzir a alimentação ao mínimo da sobrevivência e ainda mais, com a quantidade suficiente para reduzir o excesso de peso que o meu corpo acumulou, nos excessos dos prazeres da gula que ele gozou.
Além dos ataques da gula, tenho consciência que irei ser atacado de outras formas, principalmente a emocional, associada a missão que o Pai me deu. Irei ser testado se estarei preparado para manter a promessa com o Pai e deixar de lado qualquer vantagem que o demônio queira me oferecer, como poder, segurança, sexo, conforto, etc.
Nesse período recebi o pedido de ajuda de uma pessoa já conhecida, que tem um bom nível de espiritualidade, mas que possui o apelo do sexo e por isso é mal vista por outras pessoas. É um teste. Como eu irei me comportar? Não darei o pedido de ajuda e ficarei em paz com todas as pessoas ao meu redor, inclusive a minha companheira? Ou darei ajuda e sentirei na pele a resistência de quem não quer que eu faça isso? O que Jesus faria no meu lugar? Acredito que não titubearia, daria a ajuda. Também fiz isso, dei a ajuda e quando interrogado, disse a verdade. Foi como eu imaginei, sofri uma série de represálias, inclusive ser impedido de entrar numa casa que diziam ser minha também.
Resisti, acatei as represálias sem nenhuma admoestação, reclamação. Fui sozinho para o meu apartamento onde deve ser o meu lugar, longe da ingratidão, da intolerância, da mesquinharia, da falta de compaixão.
A casa que eu tanto gostava e tanto cuidava, ficou contaminada pelo ódio, ressentimento, ciúme, principalmente. A minha mente amorosa não pode ficar harmonizada num ambiente como esse.
O deserto fica cada vez mais quente nesse embate, sofro as consequências de me manter fiel à confiança que o Pai tem em mim. Sei que Ele me observa e sonda meu coração. Sinto a Sua aprovação nas minhas atitudes, e Ele me banha com o analgésico da sua graça para atenuar as dores que invadem o meu coração.
Mantenho firme as minhas convicções neste deserto mental que tão forte joga as suas consequências meu físico.