Tenho a compreensão e convicção do mundo espiritual, da dicotomia matéria e espírito, da evolução conjunta, mas com prioridade para o espiritual. Dentro desse contexto, vejo que o meu espírito exerce constante vigilância sobre os interesses carnais, os prazeres da biologia. Procuro ficar sempre energizado com os pensamentos edificantes que encontro em diversos livros espiritualistas.
Tive ocasião de vivenciar um duelo dentro da minha consciência entre os interesses do Ego, associado ao corpo e seus instintos, e os interesses do Eu, associado ao espírito e sua necessidade de evolução moral, seguindo as lições do Mestre Jesus.
Tudo aconteceu por ocasião de meu retorno à Natal, depois do trabalho que realizo quinzenalmente em Caicó. Como sempre faço, compro a passagem no ônibus expresso com antecedência e pegar uma das primeiras cadeiras, com o objetivo de ver o panorama da viagem.
Acontecia tudo dentro do previsto. O ônibus chegou, entrei e me acomodei na cadeira da frente ao lado de uma senhora. Abri a cortina que cobria a visão da estrada e aguardei a partida. Quando o motorista chegou, foi logo fechando a cortina, sem pedir licença a nós. A senhora logo reclamou, que gostaria da cortina aberta, e tentou chamar a atenção do motorista para o seu pedido. Ele não ouviu ou fez que não. eu disse que também gostaria de viajar com a cortina aberta, e chamei mais alto o motorista para atender o nosso pedido. Mas aí ficou claro, ele ouviu, pois o meu chamado foi bastante alto, mas ele fingia que não ouvia, fazendo outra tarefa. Nesse momento o meu Ego se inflamou, fui até a cortina e abri do jeito que estava antes. O motorista percebendo aquilo, me chamou de mal-educado, pois ele acabara de fechar a cortina. Eu repliquei que mal-educado era ele, pois fechou a cortina que nós abrimos, eu e a senhora que também estava interessada na abertura da cortina. Ele disse que era autoridade no ônibus e eu disse que como passageiro e consumidor, ele estava ali para nos atender. Procurei falar com o funcionário para intermediar a questão e procurei saber se o gerente ou pessoa qualificada poderia vir para resolver a questão. Não apareceu ninguém e o motorista não voltou a fechar a cortina.
Viajamos com a cortina aberta e o motorista não voltou a falar conosco. Mas durante a viagem o meu Eu chamou a atenção da minha consciência. Lembrou que as vezes o escândalo é necessário, mas ai daquele que provoca o escândalo. Que eu deveria ter exercido a tolerância e ter procurado colocar os argumentos de forma mais didática e serena. Ao invés disso, investi contra o problema causando mal-estar no outro frente a sua autoridade de motorista. A consciência, com esses argumentos, logo gerou uma possibilidade de pedir desculpas pelo ato impulsivo e intempestivo. Mas, frente a esta possibilidade, o Ego se manifestou, dizendo que eu não deveria fazer isso, pois o motorista iniciou todo o processo de má educação e que eu fui apenas em busca de meus direitos, mesmo porque eu tenho a posição social mais alta.
Este foi duelo travado no meu campo mental entre o meu Ego, responsável pelo meu corpo e o meu Eu, representante do Espírito, o qual tem a responsabilidade de manter o Ego e seus instintos sob controle. Como tenho a convicção de seguir os princípios cristãos, meu Eu decidiu que eu iria pedir desculpas quando o ônibus parasse 10m em Currais Novos.
Assim aconteceu. Pedi as desculpas por minha má educação, como ele havia frisado. Ele aceitou e disse que eu poderia viajar com as cortinas abertas. Ao chegar em meu destino em Natal, agradeci por seu trabalho e ele em resposta disse que eu poderia viajar sempre com ele com as cortinas abertas.
Senti-me gratificado pelo meu comportamento, e em condições de falar com mais propriedade na palestra que estava preparando sobre Tolerância.