Símão Pedro Bar Jonas ou Cefas, era natural de Betsaída, mudou-se para Cafarnaum, do outro lado do Mar da Galileia. Era homem simples e bondoso, porém quando irritado, enérgico e por vezes violento. Passados alguns minutos, arrependia-se de sua reação chegando até as lágrimas. Seu irmão André o assessorava na pesca e era quem refletia com ele em certas discussões. Era grandalhão e forte, desconhecia dificuldades suas e dos outros que não estivesse pronto a resolver, somente com o interesse de servir. Foi grande admirador de João Batista, tanto que não perdia suas pregações à beira do Jordão. Foi o primeiro a ter o privilégio de ouvir o “segue-me” de Jesus.
Ao certificar-se da notícia do novo Messias, André, embora com muito respeito a João Batista, insistiu, como se tivesse inspirado pelos céus, para que Pedro fosse vê-lo.
Foi esse Pedro que o dedo de Cristo escolheu como pedra angular da nova doutrina de amor e paz que o mundo iria conhecer. Foi a porta de entrada pela qual os outros discípulos entraram.
Ocorreu um fato interessante que reforçou a crença de Pedro em que o Mestre era realmente um enviado divino.
O Cristo viu uma mãe aflita lhe expor seu filho paralítico, com acentuado escândalo, gritando, chorando e pedindo socorro. Reconhecendo o Messias, ela não queria perder a oportunidade de ser abençoada juntamente com seu filho. Vendo aquela situação, Pedro avançou para proteger o Mestre em meio à brutalidade peculiar das massas. Foi quando viu o carinho do Mestre em relação a mãe do doente, e mudando o seu foco de ação, ajudou o Mestre a descobrir o enfermo que estava deitado num cesto, esquelético, pernas mirradas.
Pedro ao ver aquele morto-vivo, esfriou o coração, era impossível curar... Mas, Jesus falou brandamente: Pedro, põe o enfermo em teu colo e ama-o como se fosse o teu próprio filho, que teu amor poderá curá-lo.
Ao abraçar o doente, envolvido com os maiores sentimentos de paternidade e carinho, viu o Mestre sorrir levemente: Ajuda-o, Pedro, e anda com ele!
Nisso o rapaz esticou as finas pernas, apoiado em Pedro, andando e gritando sobre a areia: Mamãe! Mamãe! Este é o Cristo de que a senhora falou!
Daí a pouco estavam todos reunidos com o Mestre na grande casa emprestada em Betsaída, para que servisse de templo, e de onde surgiu a nova e engenhosa mensagem espiritual capaz de provar a humanidade que existe o amor...
Judas é convidado a orar. Depois da prece, Pedro emocionado pelos recentes acontecimentos, sente que Jesus lhe fala na acústica da alma: “Pedro, desliga-te um pouco da meditação, pois o que é demais costuma sobrar, e a sobra, por vezes, é desperdício de energia.” Entendeu que deveria dizer alguma coisa, e começa a falar.
Mestre! Há muito tempo que me integro em vários grupos de homens, e em muitas modalidades me empenho. Eles, esses amigos, me chamam por gentileza, de Companheiro. Na sua profundidade, o que quer dizer esse tratamento?
Jesus, com serenidade responde: Pedro! Ser companheiro não é apenas ser amigo dos que comungam dos nossos ideais. É acompanha-los em alguns dos seus também.
Não podemos dizer que é a fusão completa de todos os sentimentos de pessoas ou grupos de almas. Deixemos esse fenômeno difícil para o amor.
Acompanhar os outros é o que tu fazes, em alguns casos, no labor da tua pesca. É ajudar sempre, dentro das possibilidades, aos que se envolvem em dificuldades, sem se empenhar no ganho. O prazer de ajudar por ajudar é que nos torna verdadeiros Companheiros do beneficiado.
Quando somos o alvo da assistência é que nos certificamos de quanto é bom ter Companheiros fiéis ao lema: um por todos e todos por um.
O amor, Pedro, se divide em modalidades infinitas e uma delas representa o assunto levantado por ti. Essa virtude divina se ramifica em repartes sem conta, procurando despertar nos corações todos os tipos de sentimento do bem, que uns veem como Companheirismo. Outros veem como tolerância, bondade, além do trabalho, coragem, otimismo, fé, confiança e muitas outras virtudes. Qualidades provindas do amor.
Pedro pensa e Jesus capta: “então a gente pode deixar de ser Companheiro de alguém sem que isso seja um desprezo de nossa parte? E aí, onde está a amizade? ”
- Pedro, eu deposito em ti a minha confiança pela fé com que podes despertar para a aliança com o Evangelho. Verdadeiramente te digo que podes deixar por algum tempo de ser Companheiro de alguém, ou de algum grupo de irmãos, quando estes se esfriarem em seus ideais mais nobres. O Companheiro do bem é aquele que alimenta nos outros o entusiasmo pelas coisas que o bom senso sempre aprovou. A amizade, pois, pode perdurar até que venha a se coadunar de novo com as qualidades de intenções. Mesmo vivendo distante um do outro, o elo da fraternidade pode vibrar, e por esse caminho, algum dia o amor é convidado a transitar.
É bom não esquecermos, meu filho, que há casos em que dois amigos, dedicados ao bem comum, não são companheiros na extensão profunda da palavra, porque do dever a que um foi chamado o outro foi dispensado, e vice-versa. Porém, reconhecem que todo o bem se converte para a felicidade.
O Evangelho pede dedicação de todos vós e, em casos apropriados, sacrifícios. Sois os primeiros a se iluminarem, portanto, é justo que deveis ser os primeiros a dar o testemunho de fidelidade a Deus.
Nesta comunidade que ora se inicia e para a qual fostes escolhidos antes de nascerem, eu desejo que todos sejam meus Companheiros, e o regozijo é todo meu, se fizerdes o que eu faço.
Continua, Pedro, a aderir às boas ações dos que desejarem praticá-lo e aprende com eles o que ainda não sabes. E é bom que o faças com humildade, porque a pretensão escorraça o entendimento.
Pedro, o que quero acrescentar, para que tenhas mais confiança, é que não deves esmorecer nas lutas que abraças pela Boa Nova do Reino de Deus. Se a tua consciência estiver tranquila pelo ideal do bem que alimentas no coração, segue avante, que algum dia, em nome de Deus, haverá um só rebanho e um só pastor, onde todos, mas todos, se unificarão na verdade, e a verdade vos levará ao amor.
É muito justo que a tua preocupação cresça diante de tanto desajuste que presencias no convívio com os outros. Não deixes que essa preocupação prejudique as tuas sensibilidades, que foram feitas para trabalhos mais nobres. O que presencias é fração dos acontecimentos do mundo, e, se pudésseis vê-los de uma só vez, esmorecerias, achando sem solução os problemas da humanidade. Contudo, se queres dar a tua cooperação, podes fazê-lo logo, principiando por um sorriso aos enfermos, dividindo o teu alimento com o faminto e ofertando tua túnica ao nu, conversando com os desesperados e dando exemplo de trabalho aos preguiçosos.
Nunca deves alimentar ideias negativas, porque, se Deus, na nossa compreensão, pensou para fazer o mundo, a nossa razão nos diz que os nossos pensamentos podem fazer alguma coisa de boa ou de ruim, dependendo do nosso estado de alma. A faculdade de pensar que temos, é a maior que desfrutamos por enquanto por misericórdia do Criador.