André, irmão de Pedro, também de Betsaída, era pescador de profissão, como seu irmão. Tinha um caráter formado na religião judaica que apresentava como lei central os Dez Mandamentos, para que todos pudessem disciplinar seus impulsos, amando a Deus para amar ao próximo.
André, quando conheceu Jesus, já era discípulo de João, o Batista, que o convidou para passar uma noite com ele no deserto. Conversaram sobre as coisas de Deus, sobre a vida futura, sobre o dever do homem a respeito da vida na Terra, o caminho do arrependimento, no sentido de alcançar melhor e mais profundo entendimento sobre os preceitos de Deus.
Dizia assim, o Batista:
- André, queres saber realmente quando o Messias terá de vir para salvar a humanidade? Eu te falo como se fosse da boca do Senhor que está nos céus. Ele já está na Terra, e eu, em primeiro lugar, já o conheço há muito tempo, sem, contudo, ter a ciência de que Ele era o salvador do mundo. E, se queres saber, ele é Jesus de Nazaré, o filho de Maria.
André estremeceu nos seus alicerces! Pensara muitas vezes que o Salvador era João Batista. E João continuou falando a André com segurança:
- Eu, André, vim primeiro abrir as veredas, dar o sinal, abrir as portas do coração pelo arrependimento, para que o amor encontre acesso na alma faminta das gerações.
Esse Messias de que te falo tem a assistência de grande movimento de anjos nos céus, que tomam providências no sentido que sua palavra seja cumprida. Não sou digno de ser seu servo. Tudo que foi dito dEle há de se cumprir, para que reconheçamos a Sua missão na Terra.
André conversava bastante, mas com pessoas da sua amizade. Logo que começava a juntar mais gente, calava-se, era introvertido. O acanhamento era uma barreira que o impedia, às vezes, de realizar muitas coisas. Em meio à multidão, mesmo que dominasse um assunto, perdia totalmente a inspiração e corava com facilidade. O seu estado emocional tirava-o de muitas alegrias. Conversou com João sobre isso e foi aconselhado que esperasse, que poderia ser uma porta fechada por Deus para que ele pudesse crescer em algumas virtudes e saber controlar, mais tarde, suas próprias emoções.
André já havia conversado com Pedro acerca de suas dúvidas na maneira pela qual entendia a igualdade e, na hora, sentiu que alguém que ele não via pedia-lhe para perguntar a Jesus sobre esse tema que tanto fascina os humildes e pequeninos, quanto é desprezado pelos latifundiários. Aproveitou a intuição e fez a pergunta.
- Mestre! Tomo a liberdade de perguntar ao Senhor qual o papel da Igualdade no seio da comunidade humana e, por assim dizer, no nosso meio, tendo a Tua presença como se fosse o próprio Deus? Abaixou a cabeça e esperou escutar a verdade. Olhou várias vezes para Pedro, sorridente, que aprovou o seu gesto.
Respondeu o Mestre, percebendo a dificuldade do discípulo.
- André! Sendo Deus todo amor e justiça, não poderíamos acreditar em desigualdade no mundo e no grande rebanho do seu coração. Contudo, assim como não és capaz de encontrar uma folha igualzinha a outra na imensidão da floresta, nem árvores, nem animais, nem insetos, também não encontrastes nunca um rosto, chorando, sorrindo ou em estado normal igual a outro na sua estrutura física. E no caráter, na disposição do bem? No fundo, todos somos feitos iguais, como, certamente, as coisas que nos cercam.
Porém, cada um de nós e cada coisa está como expressa no sonho de Jacó, em forma de escada: cada um e cada coisa vive em um degrau da vida, expressando o mundo em que vive.
André tinha dificuldade de compreensão e procurava gravar o que ouvira, mas pouco entendia das comparações do Mestre. Olhava muito para o irmão, que era mais avançado no entendimento.
Pedro percebeu, chegou perto do irmão e falou: - Não te desesperes, André. Deixa primeiro cozinhar para que tu tenhas maior sabor na comida. Ainda não temos capacidade de entender o Cristo com a mesma facilidade com que perguntamos por nossos problemas. Por vezes tenho dificuldade até de formular as perguntas, e, muito pior, entender o que Ele fala. Não te aflijas, espera.
O Mestre continuava nas explicações.
- André, será que quando alimentas o ideal de Igualdade, não pensas somente em seres igual aos que estão bem situados no mundo da riqueza e no domínio dos poderes da Terra? Já pensastes na Igualdade daqueles que estão nos vales dos leprosos, sem esperança, para que possas, com a fé que tens, consolá-los? Será que já passou por tua cabeça seres igual, na posição em que te encontras, aos andarilhos sem destino e, às vezes sem pátria, passando as maiores necessidades que o destino lhes impõe, para que, junto a eles, possas idealizar meios e movimentar recursos, pelo que já sabes, para aliviá-los dos seus sofrimentos? Será que pretendes igualar-te aos velhos sem teto e às crianças órfãs, para que, junto a eles, venhas a colocar a tua inteligência a serviço da segurança desses que sofrem o desprezo na carne e no coração? Por certo que não!
‘A Igualdade que todos, ou quase todos pretendem, meu filho, tem algo de egoísmo, tem muito de bem-estar próprio. Todo homem revoltado na vida é assim porque não conseguiu atingir o lugar que os outros desfrutam nos píncaros dos poderes de César.
Seria muito mais justo e humano, se ele quisesse beneficiar os outros, desfrutando também, que ele trabalhasse em silêncio, em qualquer atividade em que a dignidade fosse a meta, em que a sinceridade fosse o comando, em que o amor fosse o interesse. Mesmo assim, não seria igual aos teus semelhantes, por existirem detalhes que não percebes, impedindo essa possibilidade.
‘Quando o impulso da desigualdade ascende no coração de um homem, é para ser desigual aos pobres, aos párias, aos incultos, mesmo pertencendo a essa faixa de testemunhos. Devemos lutar com todas as nossas forças no sentido de que todas as camadas da vida, ao se aproximarem de nós, sintam no coração que estamos nos apresentando como se fôssemos eles, em benefício deles: Esquecendo posições, caso haja; esquecendo sabedoria, caso a tenhamos; esquecendo fortuna, caso desfrutemos dela.
‘Sejamos iguais por amor, pois a caridade se estende sem barreiras. Na verdade, vos digo que todos somos iguais em Deus, mas diversificamo-nos ao infinito, para que possamos fazer parte da criação na melodia harmoniosa e universal.
Finalmente, o Cristo conclui seu pensamento.
- André, procura o amor e ama a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo, e não queiras modificar as coisas feitas por Deus, porque por ora, não te é dado entender.
A reunião estava encerrada. Os dois irmãos saíram conversando sobre o assunto da reunião inesquecível.