Dentro do trabalho que irei iniciar sobre Egoísmo, a palestra “Os diversos graus de egoísmo” do psiquiatra Flávio Gikovate, postada no Youtube em 2014, vem trazer bons subsídios. Continuando...
Então, o que acaba acontecendo é que o Egoísmo, no conjunto, também significa a ausência de certos valores de ordem moral. São pessoas que não se frustram, se esforçam para não ter que sofrer frustrações, de dores, já que lida mal com isso. O Egoísta cuida muito mais do seu Eu e se preocupa muito pouco em provocar ou não o sofrimento nas outras pessoas. Então, o egoísta é um indivíduo muito voltado para os seus próprios interesses e muito negligente com os interesses da coletividade o que do ponto de vista moral, significa ausência de sentimento de culpa, ou seja, não fica triste por dentro, quando eles causam danos a outras pessoas.
Algumas pessoas, mais egoístas, não tem nenhum freio. A grande maioria dos egoístas mostra vários aspectos. Não tem a culpa que é uma espécie de freio interno que caracteriza o verdadeiro sentimento moral do indivíduo. Não faz determinadas coisas porque acha que é errado; errou porque não tem nenhuma disposição psíquica de evitar fazer dano indevido a outras pessoas. São princípios enraizados dentro de si mesmo e só corresponde a uma metade da população e é um dos pontos que eu acho que a psicanálise do Freud foi muito equivocada, porque ela achava que esse sentimento moral interno, aquilo que ele chamava de superego correspondia a 100% das pessoas. Na verdade, só corresponde a 50%. A outra metade da população que responde as vezes por vergonha que não age dessa ou daquela maneira por vergonha das outras pessoas, que, portanto, depende de freios externos: medo de represálias, medo de castigo, de cadeia, medo de algum tipo de punição de fora. Tem pessoas que tem praticamente muito pouco medo, e essas que têm muito pouco medo, não tem quase como um freio a elas e são comportamentos que vão até o nível do anti social. Então tem graus de egoísmo. Vamos ver, um egoísta que tem culpa, tem vergonha, tem medo, então ele se comporta dentro de certos limites tentando inclusive disfarçar o seu egoísmo.
O egoísta médio é bem mais exigente, mais cobrador, mais radical, as vezes muito estourado e agressivo. Quando ele é muito estourado e agressivo, ele se descontrola com facilidade a ponto de se tornar realmente violento fisicamente, e até agir violentamente contra si mesmo. Então, faz parte já de um tipo de personalidade que se chama de borderline, uma fronteira entre a neurose e a psicose. Quer dizer, é o indivíduo que em certo momento parece que perde o juízo, sai fora de si... isso seria o domínio da psicose. Quem desenvolve algumas propriedades mais persecutórias isso é bem notado.
Quando eles não estão em crise, as coisas estão razoavelmente acomodadas, não tem estourado e não se sentem perseguidos, mas são egoístas bastante severos também.
Existe também uma certa tendência a depressão e algumas ideias de caráter persecutório. Isso faz parte de um complemento, quase patológico, mais grave, vamos dizer assim. É como no fundo uma psicopatia dentro de uma rede social, sem medo, sem culpa nem vergonha e, portanto, quase impossível de ser domesticado.
Mas, de todo modo, são sempre personagens onde predomina o egoísmo com graus variados. Isso tem ajudado as pessoas a parar de ver o próprio egoísmo, quando modesto, como uma coisa aceitável. Não há egoísmo aceitável, é sempre uma coisa que define imaturidade, insuficiência, incapacidade do indivíduo de ser gestor de toda sua riqueza, autossuficiente como todos temos de ser, os adultos do vir a ser.
Esta visão científica, clínica, do Egoísmo dentro do comportamento humano, serve para chamar nossa atenção para ver esse sentimento como um aspecto negativo para a nossa evolução principalmente a espiritual, uma espécie de doença da alma adquirida pelos mecanismos criados por Deus para nossa sobrevivência material, biológica. Recurso importante nos primeiros dias de vida, mas que se torna inoportuno, doentio, à medida que vamos assumindo a autossuficiência da condição adulta. Portanto, devemos reconhecer com clareza esses aspectos e criar força moral para disciplinar as forças egóicas que existem dentro de nós, para que possamos alcançar uma sociedade harmônica, fraterna, capaz de construir o Reino de Deus.