Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
04/07/2019 00h03
O FANTASMA DA ÓPERA – UM MITO (05)

            Continuando a transcrição da palestra sobre a obra de Gaston Leroux, O Fantasma da Ópera, feita pela professora Lucia Helena, voluntária da Nova Acrópole, e que está disponível no Youtube, muito útil para nossas reflexões.

            O próximo personagem, Eric, o nome dele significa glorioso, grandioso. Ele é aquele que foi escondido num determinado momento, nos subterrâneos do teatro. Mas você vai contestar, ele era deformado, que tem a ver isso com nosso espírito?

            Existe uma obra indiana, chamada Bhagavad Gita, que ela coloca dois grupos de personagens associadas à juventude e aos vícios humanos. As virtudes são príncipes pândavas e os vícios príncipes kurus. A história é complexa e não quero que vocês entendam isso agora, mas agora eu quero citar para vocês uma passagem desse livro, dessa tradição, onde eles dizem o seguinte: se surgisse um pândava (ser virtuoso) adulto e armado diante de nós neste momento, nós teríamos pavor e sairíamos correndo. O que será que o Bhagavad Gita queria dizer com isso? Imaginem vocês ... é um monstro! Está querendo roubar tudo aquilo que me diverte, tudo aquilo que dá sentido à minha vida. Então me parece desfigurado, parece um monstro. Mas isso não é a sua verdadeira face. A sua verdadeira face é aquilo que ele traz à tona em mim, que é firmeza, harmonia, brilho. Ele ensinou Christine a sentir a música e com isso ela é uma cantora tão brilhante. Mas ela, e todos na sociedade, no confronto, acham que ele é um monstro. Por que? Ele é um rosto que não estamos preparados para ver. Para uma personalidade cheia de vícios e debilidades, ele é uma monstruosidade que é o oposto da morte. Significa a morte de tudo aquilo que ela tem como prazeroso e como estímulo para a sua vida diária. Então, esse é Eric, aquele que vive nas sombras, o de rosto deformado.

            Chego as vezes a me considerar um ser deformado, como esse Fantasma da Ópera. Fiz certa vez um texto nesse sentido, me comparando com o Corcunda de Notre Dame. E por que me sinto assim? Onde está minha deformidade?

            Minha deformidade consiste em amar de forma diferente ao que a cultura defende. Um amor incondicional, um amor sem limites, sem exclusividade. Isso parece um aleijão para quem está acostumado a amar condicionalmente.

            Nessa condição, os meus relacionamentos afetivos são conduzidos. Todas sabem da minha deformidade, porque faço questão de não esconder, de conviver com uma pessoa a iludindo. Não, todas sabem que sou assim deformado psiquicamente, mesmo assim muitas aceitam a convivência, pois afinal, sou tão delicado!

            Esta minha deformidade que acredito ser uma das mais altas virtudes, a prática do amor incondicional, tento fazer minhas diversas companheiras acreditar e também praticar. Mas a feiura do que parece ser monstruoso, frente aos valores culturais, apenas assusta, e um dia, sem mais conseguir suportar, me expulsam de suas vidas.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 04/07/2019 às 00h03