Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
16/07/2019 00h15
O FANTASMA DA ÓPERA – UM MITO (12) – DOIS EM UM

            Continuando a transcrição da palestra sobre a obra de Gaston Leroux, O Fantasma da Ópera, feita pela professora Lucia Helena, voluntária da Nova Acrópole, e que está disponível no Youtube, muito útil para nossas reflexões.

Já devem ter tido experiências de algumas vezes ouvir dois músicos, dois cantores, que têm uma técnica equivalente. Mas um canta com a alma e o outro é meramente... um, digamos, um exibicionismo técnico, uma performance técnica. Lembro bastante quando eu ouvi um compositor argentino que uma vez interpretou uma música que lembro, Astor Piazolla. Diziam que era um prodígio ao tocar no bandoneon suas obras e que depois de uma apresentação chegaram para ele e disseram: nossa, você tocou maravilhosamente! E ele teria dito: muitas vezes eu toco maravilhosamente, mas poucas vezes eu faço música.

É muito interessante, fazendo a comparação é como se o Fantasma dissesse: muitas vezes eu falo como Christine, mas algumas vezes falo como Eric. Ela usa minha voz para eu vir ao mundo e ela forma tipo um canal, o cano de bambu lá dos paulistas.

Através desse cano há o sopro do espírito que chega ao mundo, ela se torna um canal de manifestação divino no mundo. O divino que vive dentro de mim mesmo. Então, ele fala isso claramente.

Christine & Fantasma

-Seu espírito e minha voz reunidos em um;

O Fantasma da Ópera está aqui,

Dentro da sua mente

            Veja, seu espírito, Eric, que é o meu próprio espírito, grandioso. E a minha voz, Christine, a voz da personalidade, seja o meu aparelho fonador, a minha projeção de voz, a técnica, a ferramenta, o veículo, mas o espírito que está por trás, aí, os dois, não um só.

            Isso é muito bonito. Pensem um pouco a respeito e vejam como isso obviamente está falando pra nós sobre o sentido mítico da obra.

            Continuando ainda nessa música, o Fantasma vai dizer:

Fantasma:

-Em todas suas fantasias, você sempre soube

Do homem e do mistério,

            Ou seja, da superfície e da profundidade. E Christine responde:

Christine:

-Ambos em você.

            Em todas as suas fantasias, você sempre soube que havia o homem e o mistério, e ela responde: ambos em você. Através de você eu reconheço os dois. É um momento de lucidez extrema nos subterrâneos do teatro, caminhando para o casamento, mas ela ainda olhava para trás, ela tinha que virar estátua de sal. E Christine e o Fantasma cantam em dueto:

Christine & Fantasma:

-E neste labirinto onde a noite é cega,

O Fantasma da Ópera está aqui

Dentro da minha (sua) mente.

            Nesse labirinto interior que é o mesmo labirinto que Teseu penetrou e conseguiu matar o Minotauro, usando um machado do fio que trabalhava sobre sua personalidade externa e sobre a sua essência interior. Juntando esses dois num só, ele entra no labirinto da vida e vence todas as provas que o animaliza.

            Eu procuro dar voz ao meu “Fantasma da Ópera”, talvez quem participe atuando como eu seja na maior parte do tempo ele. Mas, talvez ninguém perceba isso, a não ser que se interesse e procure conhecer a minha intimidade. Mas será que irá tolerar, compreender a “feiura”, segundo os padrões da sociedade, que está por trás da máscara?

            Já tenho tido essas experiências, e o máximo que obtenho de positividade é um misto de horror e admiração. Por isso eu sinto que meu destino é viver sozinho, pois quem tem a coragem de conviver com esse meu “Fantasma da Ópera” chega um momento que não suporta a pressão da sociedade e termina por me expulsar do seu convívio. Rogo a Deus que não seja com violência, pois eu não reagirei e continuarei a entender...

Publicado por Sióstio de Lapa
em 16/07/2019 às 00h15