O discurso proferido em 08-12-1949 na Câmara dos Comuns, na Inglaterra, pelo 1º Ministro Winston Churchill, referente à criticada decisão que tomou das forças militares inglesas serem firmes na Grécia, recentemente dominada pelos nazistas e no momento sofrendo a investida dos comunistas, é de grande valor para compreendermos mais um pouco de nossa realidade atual. Vale a pena lermos trechos desse discurso que foi publicada em seu livro, “Memórias da 2ª Guerra Mundial”, volume 2, para nossa reflexão.
A acusação feita contra nós (...) é a de estarmos usando as forças de Sua Majestade para desarmar os amigos da democracia, na Grécia e em outras partes da Europa, e para sufocar os movimentos populares que tão valorosamente auxiliaram na derrota do inimigo. (...)
Mas surge a questão – e podemos permitir-nos refletir sobre ela por um momento – de saber quem são os amigos da democracia, e como interpretar a palavra “democracia”. A ideia que faço dela é que o homem simples, humilde, comum, homem do povo que sustenta mulher e filhos, que sai em luta por seu pais quando este se acha em dificuldades, que comparece às urnas nas ocasiões adequadas e coloca seu x na cédula eleitoral, mostrando o candidato que deseja eleger para o Parlamento, minha ideia é que esse homem constitui o fundamento da democracia. E é também essencial para esse fundamento que tal homem ou tal mulher faça isso sem medo e sem forma alguma de intimidação ou de coação. O cidadão marca sua cédula em rigoroso sigilo e, depois, os representantes eleitos se reúnem e decidem, juntos, que governo – ou até, em tempos de aflição, que forma de governo – desejam ter em seu pais. Se isso é a democracia, eu a saúdo. Defendo-a. Disponho-me a trabalhar por ela. (...). Apoio-me no fundamento das eleições livres, baseadas no voto universal, e é isso que consideramos a base da democracia. Mas tenho um sentimento muito diferente em relação aos simulacros de democracia, às democracias que se denominam democracias por serem de esquerda. Há que haver toda sorte de gente para compor uma democracia, e não apenas esquerdistas, ou mesmo comunistas. Não admito que um partido ou um órgão se denomine democrata por estar enveredando cada vez para as formas mais extremadas de revolução. Não aceito que um partido seja necessariamente representante da democracia pelo fato de se tornar tão mais violento quanto menos numeroso é.
Há que se ter respeito pela democracia e não usar essa palavra de maneira leviana. A última coisa que pode se assemelhar à democracia é a lei da turba, com bando de gângsteres equipados com armas mortíferas a forçarem a entrada em grandes cidades, tomarem as delegacias policiais e as sedes principais do governo, empenharem-se em introduzir um regime totalitário com mão de ferro e clamarem, como eles costumam fazer hoje em dia, quando conseguem o poder... (interrupção).
A democracia não se baseia na violência nem no terrorismo, mas na razão, no jogo limpo, na liberdade, no respeito ao direito dos outros. A democracia não é meretriz apanhada na rua por um homem de metralhadora. Confio no povo, na massa da população de quase todos os países, mas gosto de me certificar de que se trata mesmo do povo, e não de uma quadrilha de bandidos que, pela violência, acham que podem derrubar a autoridade constituída – em alguns casos, antigos parlamentos, governos e estados. (...).
Churchill relata que só trinta deputados votaram contra e quase trezentos deram seu voto de confiança. Um exemplo da aplicação da democracia, dentro da Casa que congrega os representantes eleitos pelo povo. Certamente entre esses que votaram contra estão aqueles que colocaram a carapuça naquilo que Churchill acusou. Mas, a grande maioria apoio o discurso e apoiou a tomada de decisões no enfrentamento de hostilidades na Grécia, mesmo que a imprensa, não sintonizada que a essência da democracia, tenha feito tantas críticas e induzido ao erro tantos cidadãos, que sem saber na verdade o que se passava, passaram a criticar o Primeiro Ministro da Inglaterra.
Algo muito parecido se passa no Brasil. Aqueles que pegaram em armas no passado e que hoje se dizem defensores da democracia, que se elegeram de forma democrática com esse discurso, logo mostraram suas reais intenções, em quase levar o Estado brasileiro à falência e o deixar até hoje aparelhado com suas ideias totalitárias, usando sem dó ou piedade os mecanismos da corrupção.