Veremos uma história da sabedoria budista para nossa reflexão e reforço de nossas intenções.
O Buda e o Mendigo
Era uma vez um pobre mendigo que estava tentando juntar comida. Mas ele reparava, porém, que todos os dias a sua comida desaparecia. Um dia ele apanhou um rato que lhe roubava a comida. Perguntou então ao rato porque ele lhe roubava a comida, afinal ele era um mendigo. Que ele fosse roubar pessoas ricas, elas nem vão perceber.
O Rato respondeu: "Mas o meu destino é roubar de ti". Porque?? Perguntou o mendigo. Porque faz parte do teu destino só ter 8 itens em tua posse. Por mais que mendigas, por mais que consigas juntar isso é tudo que poderás ter.... respondeu o rato.
O Mendigo ficou espantado e também de coração destroçado. Ele se questionou a razão deste ser o seu destino. O rato disse então que não sabia, mas que ele deveria tentar perguntar a Buda, que talvez ele soubesse. Então o mendigo deu início a sua viagem em busca de Buda. Ele viajou o dia todo e ao entardecer, por fim, chegou a propriedade de uma família rica. Cansado e com sono ele decidiu passar ali a noite. Dirigiu-se a porta e bateu.
- Senhor, disse ele, está ficando escuro e eu sou novo por aqui, será que posso passar aqui a noite, por favor?
- Sim...pode entrar. Disse o dono da casa.
Assim que o mendigo entrou em casa o homem perguntou-lhe:
- Para onde vais e qual a razão de viajares tão tarde?
- Eu tenho uma questão para colocar a Buda e vou ao encontro dele.
Nesse momento a mulher do homem rico entrou e ouviu o que foi dito.
- Podemos te dar uma questão, para que perguntes a Buda? Perguntou ela.
- Sim, presumo que posso colocar uma questão em vosso nome. Qual é a sua questão, senhora?
- Nós temos uma filha de 16 anos que não consegue falar. Nós só queremos perguntar o que temos que fazer para resolver o problema.
Na manhã seguinte o mendigo agradeceu a hospitalidade deles e assegurou-lhes que colocaria a sua questão a Buda. E ele prosseguiu com a sua viagem. Até que viu um mar de montanhas que tinha que atravessar. Ele subiu em uma montanha e encontrou um feiticeiro, que carregava um grande cajado.
- Feiticeiro, perguntou ele, podes me ajudar a atravessar as montanhas?
O feiticeiro disse que sim. O mendigo então salta no cajado do feiticeiro, que o usou para transportar o mendigo e ele próprio, através do mar de montanhas. Enquanto eles voavam o feiticeiro perguntou ao jovem:
- Para onde você vai? Porque decidiu atravessar todas essas montanhas?
- Eu vou me encontrar com Buda e colocar uma questão sobre o meu destino, respondeu ele.
- Sério? Por favor, posso te pedir para colocar uma questão à Buda? É que há mil anos tento ir para o paraíso e segundo os meus conhecimentos, já deveria poder ir. Por favor, podes perguntar a Buda o que eu tenho que fazer para chegar ao paraíso? Questionou o feiticeiro.
- É claro que vou colocar a tua questão, respondeu o mendigo.
À medida que ele prosseguia em sua viagem ele deparou-se com seu último obstáculo. Um rio que ele era incapaz de atravessar. Por sorte apareceu uma tartaruga gigante, que decidiu leva-lo até o outro lado do rio. Enquanto atravessavam o rio, a tartaruga perguntou-lhe:
- Onde vais?
- Eu vou ver Buda, e colocar-lhe uma questão sobre o meu destino…respondeu.
- Podes colocar-lhe uma questão por mim? Por favor? Perguntou a tartaruga.
- Claro, qual é?
- Eu, há 500 anos tento transformar-me num dragão, segundo os meus conhecimentos já deveria ter me transformado num dragão. Por favor, podes perguntar ao Buda o que eu tenho que fazer para me transformar num dragão?
- Obrigado tartaruga por ter me ajudado a atravessar o rio. Claro, vou colocar-lhe a tua questão.
O mendigo prosseguiu a sua viagem em busca de Buda. E por fim chegou ao local onde ele morava. O mendigo parou em frente ao mosteiro e respirou profundamente. O mendigo caminhou determinado e entusiasmado. Pronto para colocar a sua questão e a de todos os outros.
Assim que ele entrou fez uma reverência perante Buda.
- Por favor aceita as minhas felicitações, Buda. Viajei desde muito longe para te colocar algumas questões. Posso coloca-las, por favor?
- É claro que sim, respondeu Buda. Mas apenas responderei a três questões, apenas três questões.
O jovem mendigo ficou chocado. Ele tinha quatro questões. Ele decidiu pensar cuidadosamente. Pensou na tartaruga, há 500 anos que ela tentava tornar-se um dragão. Depois ele pensou no feiticeiro, que há mil anos tentava chegar ao paraíso. E por fim pensou na pobre menina que iria passar toda a sua vida sem conseguir falar. E depois olhou para si próprio.
- Eu sou apenas um mendigo eu posso voltar pra casa e voltar a pedir. Já estou habituado, nada irá mudar. Mas para eles tudo pode mudar se obtiverem respostas.
Depois dele olhar para os problemas de todos os outros, de súbito percebeu que o seu era muito pequeno. Ele sentiu pena da tartaruga, do feiticeiro e da menina. Por isso resolveu colocar as questões deles. E como o esperado, Buda respondeu-lhe.
- A tartaruga é não está disposta a sair do casco, enquanto ela não estiver disposta a deixar o conforto do seu casco.... ela nunca vai se tornar um dragão. O mago carrega sempre o seu cajado, nunca solta ele. E o cajado tem um peso, age como uma âncora, não deixando ele ir ao paraíso. E a menina, ela só vai conseguir falar quando ela encontrar a sua alma gêmea.
Então o mendigo agradece a Buda e começa a sua jornada de volta para casa. Ele então encontrou a tartaruga, que lhe pergunta:
- Então, perguntastes a Buda?
- Sim, Claro. Só tens que abandonar o teu casco para te tornar um Dragão!
A tartaruga tirou o seu casco e dentro dela tinha pérolas preciosas, encontradas nas zonas mais fundas do oceano. Ela ofereceu-as ao mendigo em agradecimento. O mendigo então voltou a encontrar o feiticeiro no topo da montanha.
- Tu só precisas soltar o teu cajado e poderás ir para o paraíso. Disse o mendigo ao feiticeiro.
O feiticeiro libertou-se do seu bastão oferecendo-o ao jovem e disse-lhe que graças a ele poderia ascender ao paraíso. O jovem tinha agora a riqueza da tartaruga e o poder do feiticeiro. Ele regressou para junto da família que lhe tinha oferecido abrigo. Eles ficaram muito felizes ao vê-lo de volta e aguardavam uma resposta.
- O grande Buda disse que a vossa filha voltará a falar quando encontrar a sua alma gêmea. Disse o jovem mendigo.
Nesse momento, a filha desceu as escadas e falou:
- Ei, não é esse o homem que esteve aqui semana passada?
A jovem e seus pais ficaram espantados... Eles olharam para o mendigo.... Ele era a alma gêmea da filha. Os pais marcaram o casamento e eles viveram felizes para sempre.
Essa história ensina que as vezes temos que nos doar para que algumas coisas boas aconteçam. Que precisamos deixar algumas coisas para trás se quisermos atingir nossos objetivos. Os sonhos materialistas que guardamos na memória desde a adolescência, devem ser descartados se quisermos alcançar as metas espirituais que a maturidade nos traz. Ao fazer isso, podemos constatar que Deus, sempre atento ao que fazemos e ao que sentimos, nos aceita como alma gêmea.