O livro de Roberto Shinyashiki, “A Carícia Essencial”, traz importantes elucubrações sobre uma forma de fazer terapia. Começa citando Eric Berne, um psiquiatra canadense que desenvolveu o conceito de strokes, que significa carícia, toque, estímulo e reconhecimento.
A introdução feita pelo psiquiatra José Ângelo Gaiarsa, afirma que “é preciso começar a trocar carícias, a proporcionar prazer, a fazer com o outro todas as coisas boas que a gente tem vontade de fazer e não faz, porque ‘não fica bem’ mostrar bons sentimentos”.
A citação de Sigmund Freud coloca mais ênfase na forma de fazer terapia com mais afeto, pois diz que ele ajudou a atrapalhar mostrando o quanto nós escondemos de ruim. Porém, não é só coisas ruins que colocamos dentro da chamada Caixa Preta. Também escondemos dentro dela o que é bom em nós, a ternura, o encantamento, a alegria, o romantismo, a poesia, sobretudo o brincar com o outro.
Por que tudo tem que ser tão sério, respeitável, comedido, contido, fúnebre, chato, restritivo? Por que o desejo, mesmo tendo sintonia com o Amor Incondicional deva ser reprimido? Até porque o desejo tem a ver com o sideral, com as estrelas. Seguir o desejo é seguir a estrela, estar orientado, saber para onde se vai, conhecer a direção.
A gama de preconceitos em nossa cultura não deve impedir de tomarmos a direção correta, seguir o desejo compatível com o Amor Incondicional, principalmente em terapia, quando o outro que está ao meu lado merece ter todos os recursos, os mais apropriados para a melhora de sua condição afetada.
Nesse contexto, o medo é nosso maior inimigo, pois o outro está sempre observando atentamente tudo que fazemos e que não pode sofrer desvios do padrão cultural estabelecido. Assim, criamos mentalmente uma prisão sem grades para o nosso comportamento. Vivemos sob vigilância mútua, todos contra todos, observando, criticando, comentando.
Quem tem coragem e quebra essas algemas mentais e faz o que dita a sua consciência, logo vai para a fogueira moderna queimar nas labaredas da maledicência até voltar a ser pequenos, insignificantes, imperceptíveis, uma espécie de normopatia.
O corajoso que assume abrir sua Caixa Preta e assumir qualquer conduta que não se afasta do Amor Incondicional, pode ser considerado um iluminado, apesar de todos o considerar um louco delirante que faz tudo diferente de todos. Interessante é que fazendo assim, o corajoso mostra um alto senso de dignidade humana, o que faz ele se tornar insuportável para todos os outros, que são indignos.
Amar ao próximo deixa de ser um idealismo místico de alguns poucos espiritualistas honestos. Iremos observar que a união na sintonia do Amor nos transfere sua força. Iremos, afinal, construir o Reino de Deus, recuperando nossos irmãos com afetos em primeiro plano.