Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
08/11/2019 07h00
DAR O QUE TEM (30)

Tomé estava em Caná da Galileia, em meditação, procurando buscar pela razão a essência espiritual dos elevados princípios ensinados pelo Mestre. Em uma tarde, sentiu a inspiração divina lhe comandando até as portas de um casebre. A intuição lhe sugeriu que deveria dar o que estivesse ao seu alcance, pois os sofredores sempre abrem os braços para todos que se propõem a consolá-los. Era uma família triste que perdera uma filha. Tomé, cientificado do caso, começou a dar ânimo aos familiares. “Por que chorais tanto reclamando de um fato comum? Não queirais impedir a vontade de Deus. Quando morremos aqui no corpo físico, nascemos em corpo espiritual, e a vida continua com mais amplitude.” As quatro pessoas que lamentavam a morte da moça calaram-se e escutaram com interesse a palavra do apóstolo. Fazia efeito extraordinário no coração dos parentes.

Tomé entrou na sala onde o corpo da moça estava, pôs a mão na cabeça da morta e pediu ao Senhor Todo Poderoso para que aquela alma pudesse abrir os olhos no mundo espiritual com a alegria de ter vivido na Terra. Quando o discípulo terminou a oração, ouviu nitidamente uma voz falar dentro de sua cabeça. “Meu Senhor! Deus te abençoe no trabalho de confortar as criaturas. Fizestes muito por essa gente que me acolheu por 30 anos e a quem muito devo. Estou livre deste fardo que vai ser entregue a terra, mas ficarei sempre com o amor por esses.”

Tomé ainda estava impressionado com o que acontecera, da voz em sua cabeça que se identificou como Maria Celeste e que depois os parentes confirmaram o nome. Ficou contrariado por não ter pedido ao espírito que falara em sua cabeça para se tornar visível, a fim de que ele, Tomé, desse aprovação do fato e sentisse a realidade da existência do espírito depois da morte. Esquecera. Que pena!

Estava em Betsaída em reunião rotineira com os colegas quando perguntou ao Mestre: “podes nos explicar sobre o Dar o Que Tem de modo a nos justificarmos com justiça perante os deveres que temos conosco mesmos e com a nossa família? Que queres dizer com isso, quando nos pede para darmos o que temos?

Jesus, leu na sua mente os fenômenos mais recentes ocorridos com ele, analisou os fatos e respondeu com segurança e carinho.

- Tomé! O usurário não é somente aquele que junta o ouro, os bens terrenos, mas muito mais, quem já começou a ser rico com Deus, na Sua ciência espiritual e na dinâmica do Seu amor. A sabedoria é qual um rio que se expressa por grande volume de águas e que necessita dessa água para ser útil à coletividade. Haverá de percorrer milhares de quilômetros, contornando todos tipos de obstáculos, ajudando sem cessar e encontrando nisso maior motivo de vida, até se integrar de onde procedeu, pois a alma tem as mesmas funções. A inteligência é muito mais expressiva, muito maior que todos os rios da Terra e  pode fazer benefícios maiores. Ela é uma fonte inesgotável e, quando educada nas hostes do amor, ela é Deus mais presente, consolando e instruindo os mais necessitados de tais bênçãos do Criador. É bom que compreendas, meu filho, que “Dar o Que Tem”, no trabalho que vamos fazer entre os seres humanos, está sujeito às perseguições, aos ataques, às calúnias. Serve de instrumento sem nem de leve apresentar exigências, que aparecem nas ideias disfarçadas, de modo que até os escolhidos são enganados por suas vestes. Faz o bem pelo prazer de fazê-lo. Se ainda não podes executar essa linha do amor, faz o que podes fazer, mas nunca te esquecendo de pensar e fazer com que a tua conduta se encaminhe para a perfeição.

‘Tomé! Já pensaste se alguma coisa pudesse interromper o caminho dos rios? As águas, ao invés de beneficiarem muitas aldeias pelo trajeto, onde residem e trabalham milhares de famílias, com sua ausência tornariam a lavoura impraticável, acabariam os animais, as pastagens, enfim, toda a vida da comunidade. Represar egoisticamente o que se tem para dar, é morrer. Pois é isso que acontece com a alma que tem para dar e se faz esquecida pelo amor próprio, pela ganância de viver sozinha. Fizeste muito bem quando entraste naquela casa onde a maior preocupação era a dor, o sofrimento. Procuraste dar consolo que muito agradou. Foi um gesto do coração. No entanto, desvalorizaste muito a tua dádiva, ao ficares contrariado pela não aparição do anjo que deixava aquele ninho familiar. Esquecestes de que já estavas recebendo testemunho que ultrapassa os limites do existir. A tua dúvida é como fogo que queima as tuas próprias vestes, embriaga a tua mente, de tal forma que não agradeces a cama onde dormiste, nem dá graças a Deus pela água que bebestes todos os dias.

‘Tomé! Volta àqueles que ficaram sofrendo pela ausência do familiar que partiu e repara, com todo desprendimento, o que fizeste no silêncio e o que te pede o dever. Já tiveste, Tomé, muitos testemunhos e havereis de ter mais ainda, mas provavelmente a tua exigência vai continuar na sequencia do tempo, porque a dúvida no ser humano, é uma espécie de enfermidade da alma, que somente os milênios tem o poder de curar. Não basta ver para crer, é preciso, acima de tudo, conhecer a verdade, sentindo-a e amando-a. É muito lindo contemplar a vida no além, desde que a espontaneidade seja a força dessa presença. É sempre justo que peçamos ao Senhor que faça a vontade d’Ele e não a nossa, ou que esperemos por Ele, que sabe mais do que todos nós juntos: o que devemos suportar e que caminhos devemos percorrer.

Tomé, quanta coisa bela falaste aquela família. Foste inspirado pelo anjo familiar. A tua presença naquela casa não foi obra do acaso, como queiras talvez pensar. Alguém te levou. Foi a própria morta que, livre do fardo físico, encontrou em ti melhores condições para servir aos que ficaram. Não sejas qual o agricultou descuidado que lança a semente no solo e esquece de cuidá-la, deixando que os pássaros, percebendo a falta de vigilância, desenterrem e comam a semente. Quando puderes, junta-te aos que sofrem e lanças a semente da imortalidade, do perdão, da caridade e do amor, da crença em Deus.

‘Porém, não deixes de cuidar dessas sementes de luz, para que cada criatura que ajudares se torne uma estrela nos céus de Deus. E o mais importante é que cuides dessas sementes de luz em ti mesmo, pra que não venhas a duvidar daquilo que falas com os outros nem a desacreditar, pelo exemplo, do que dispões a ensinar por palavras. Dar o que tens para dar, Tomé, não tira o teu dever contigo mesmo e com os teus. Amplia mais ainda esse teu trabalho. Escuta bem essa verdade: bem-aventurado aquele que tem para dar com abundância. Se a inteligência e o coração são rios espirituais que encontram na sua frente o imenso campo humano para servir, faz a tua luz clarearem as trevas, pois a paz maior será a tua. Quem trabalha por amor carrega consigo a paz da consciência e paz universal. Não esqueças de alimentar teu coração com a fé, pois ela é a alavanca capaz de remover o mundo das imperfeiçoes. Estou na Terra para dar o que tenho para dar, de mim e da parte do Nosso Pai Celestial. É muito bom que aprendais a receber. As vossas intenções são nobres, mas não bastam só boas intenções no campo de aprendizado em que estais. As condições em que vos encontrais requerem algo mais, é executar o que pensais e o que falais aos outros daquilo que ouviste de mim. Dar o que tem para dar, não se refere somente aos bens terrenos. Uma palavra na hora certa, nascida do coração, pode valer muito mais que toneladas de ouro. A fortuna que tens na consciência, quanto mais dá, mais se multiplica.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 08/11/2019 às 07h00