Sióstio de Lapa
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10/11/2019 00h09
KALIL GIBRAN – O AMOR - I (02)

Continuação do pensamento da filósofa Lucia Helena sobre o escritor Kalil Gibran que contribuirá para a maturação de nossa consciência. Este texto inicia sua interpretação sobre as colocações do Gibran sobre o Amor.

            Quando o amor vos chamar, segui-o, embora os seus caminhos sejam árduos e íngremes. A figura foi muito apropriada, “seus caminhos são árduos e íngremes”, porque o amor classicamente é colocado como aquilo, é a busca daquilo que te falta para ser completo como ser humano, portanto, amar significa ser cada vez mais humano.

Platão tem uma frase muito famosa que ele diz o seguinte: a melhor coisa que você pode fazer pelas pessoas que ama, é crescer como ser humano, que só você pode garantir alguma coisa a elas. A melhor coisa não é ficar grudado, nem dar coisas materiais; é crescer como ser humano, assim você pode garantir alguma coisa a pessoa que ama.

Crescer é vertical, é íngreme, exige esforço, é árduo, algumas coisas têm que ser deixadas pra trás. Tem uma estátua de Marte, deus da guerra, com a deusa do amor, que pode parecer engraçado, amor junto com a guerra. Na prática dentro de nós é assim, uma guerra para poder deixar as coisas que atrapalham o amor para trás, quando necessário, e crescermos com liberdade.                       

O amor é resultado da derrota de certas debilidades, certos defeitos, e a conquista de territórios novos de capacidade e fraternidade, de compreensão, de profundidade. Percebemos que amor e guerra andam juntos, tem que ter sido vitorioso por alguma coisa para se elevar a um novo patamar de generosidade, de fraternidade, de entrega que nos permita evoluir verdadeiramente.

Então, algumas coisas vão ficando pra trás no caminho árduo, íngreme. Há gente acostumada a ver aquele cupido com aquela bochecha cor-de-rosa, e aquela flechinha ´´ó, que coisa doce´´ e de repente o Gibran trás pra gente o que é forte, exigente, duro. Ele praticamente te reconstrói. Não se estava esperando por isso, a gente estava esperando uma coisa doce e cândida. Bem, esse não é Gibran. Aquele coraçãozinho vermelho é um símbolo, lembrando que é da paixão e não do amor. A brincadeira que eu sempre faço com o desenho do coração porque sobe desce, sobe desce e começa tudo de novo, não é amor e sim paixão.

Então, esse amor que Gibran fala é duro é árduo e íngreme, muito de você  e ele vai continuar, ele assusta realmente aqueles que estão querendo viver o amor, e pra quem não está esperando esse tipo de definição: “e quando as suas asas vos envolverem, abraçai-o, embora a espada oculta sob as suas asas vos possa ferir”. Ou seja, o amor vai lapidar você, vai tirar tudo aquilo que sobra, ele vai lhe deixar cada vez mais leve, e Gibran o tempo todo vai estar falando sobre isso.

O amor o convida para esse voo ascensional, ele vai exigir de você que seja mais leve para poder voar junto com ele, portanto, algumas coisas você vai deixar para trás. É como se você imaginasse que estivesse subindo uma montanha com mochila bem pesada nas costas, ai eu digo pra vocês: “deixa esse travesseiro, esse... sei lá, essa coisa que você quer levar e não sobe de jeito nenhum”.

Observamos o pensamento de Gibran interpretado por Lucia Helena, que coloca pensamentos de outros autores para reforçar o que é dito. Percebemos uma forma mais dura, objetiva, de compreender o amor, como um instrumento para burilar a alma, de deixar coisas insignificantes ou negativistas para trás, para não atrapalhar ou impedir a nossa caminhada ascensional.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 10/11/2019 às 00h09