No dia 15-12-19 participei do VI Seminário de AA, CTO (Comitê Trabalhando com os Outros), realizado no Centro Cultural da Zona Norte. Na ocasião fui convidado a falar sobre a minha experiência no Grupo Ceará Mirim onde participo a cada semana, nos domingos. Foi esta a minha fala.
Obrigado, amigos de AA, pela acolhida. Desde 1980, tornei-me amigo de AA, quando terminei meu curso médico e descobri que os medicamentos que eu tinha à disposição eram ineficazes para curar a doença do alcoolismo. Descobri que era a Irmandade de AA que dava a solução para o problema que eu tinha nas mãos. A partir daí eu me aproximei e fique sempre perto de AA. Agora, há cerca de dois anos, eu me aproximei mais ainda, pois em Ceará-Mirim-RN, eu estou frequentando semanalmente, aos domingos, o grupo Ceará-Mirim. Participo ativamente e vejo a dinâmica do que está acontecendo, e por isso decidi vir hoje aqui para este Seminário, porque é abordado muitas questões que estou vivenciando lá e que foram discutidas aqui.
Vou colocar aqui uma das sugestões que eu apresentei antecipadamente no fórum e que acho muito importante. É o que chamo de apadrinhamento mútuo, pois da mesma forma que eu passo informações para orientar a sobriedade de cada membro do grupo, o grupo coloca nos seus depoimentos muita informação importante para o meu desempenho profissional enquanto médico, que não vou encontrar nos livros acadêmicos.
Mais ainda, há o fortalecimento espiritual, introduzido pela oração da serenidade e pelo Poder Superior que sentimos a sua manifestação quando os depoimentos se iniciam.
Como o tempo é pouco, vou colocar somente alguns aspectos interessantes. É sabido que o lema de AA é que, “quando qualquer um pedir ajuda a mão de AA ajudará”. O nosso lema enquanto técnico deve ser “quando qualquer alcoólico estiver sofrendo sem condições de sair sozinho da doença, temos que saber motivá-lo para pedir ajuda”. Esta é a parceria entre AA e profissionais.
Outra questão que foi abordada hoje, foi sobre o acolhimento. Encontrei um alcoólico que motivei para o ingresso no grupo, ele não tinha mais comparecido e perguntei porquê. Ele respondeu que se sentiu humilhado, pois as pessoas que o acolheu no grupo, passam por ele na rua e não cumprimentam, é como se ele não existisse. Fica a orientação, o acolhimento inicia na sala e se expande para a comunidade.
Outro dado que me chama atenção é o paradoxo. Vivemos numa guerra espiritual entre o bem e o mal. O mal criou uma bomba para nos destruir, o álcool. A doença agora exige o veneno para se manter, a pessoa passa mal quando sente a falta do álcool no organismo. E quanto mais bebe para se aliviar, mais aprofunda a sua doença. O que Deus fez? Proporcionou o encontro de Bill e Bob para conversarem sobre o problema e sentirem sobre eles o Poder Superior capaz de vencer a compulsão. Conclusão: o álcool é o veneno que o alcoólico toma para se sentir melhor e ao mesmo tempo aprofundar sua doença; o alcoólico na ativa é o remédio para que o membro do AA se mantenha na sobriedade. Por isso é importante que cada membro de AA procure trazer para a sala mais um alcoólico que sofre, que ao mesmo tempo paga com a gratidão o benefício que recebeu e fortalece a sua sobriedade.
Para finalizar, lembramos o despertar espiritual que foi mostrado aqui. Quando o alcoólico está na ativa, ele não está dormindo. Ele está em coma espiritual! É preciso que alguém faça algum esforço para trazê-lo a uma sala de AA e ele possa deixar o álcool. Saindo do coma, ele está apto para o despertar espiritual que vai acontecer no cumprimento dos 12 passos para a recuperação. Atingindo a conscientização da doença, vem o processo da gratidão, reconhece que não foi pago nada para a sua recuperação. O pagamento que ele deve fazer é o serviço. Onde está o serviço? No grupo de AA que se torna o coração de AA. E qual é o coração do grupo? É o CTO. Assim, o CTO é o coração do grupo, e o grupo é o coração de AA.
Nesse processo acontece a evolução espiritual, pois esta é uma missão de Deus. E fazendo isso todos estamos evoluindo espiritualmente, não só vocês alcoólicos, e sim, nós, profissionais, também sentimos essa evolução espiritual, o Poder Superior em nossas vidas. Por isso agradeço a todos por essa evolução espiritual em direção ao Pai.