No filme da Netflix, baseado em fatos reais, são apresentados diálogos interessantes entre o papa Bento XVI e o cardeal Jorge Bergoglio, que é importante vermos e refletirmos. Vou ter a permissão de entrar na conversa, como uma ovelha disposta a aprender com meus pastores, podendo colocar minhas opiniões e dúvidas sobre o que se está tratando. Deixo a mesma permissão aos meus leitores, e principalmente nas críticas por minhas intervenções.
O Cardeal Jorge Bergoglio, da Argentina, termina a conversa com o papa Bento XVI em sua residência de verão, caminhando ambos pelo jardim.
-B – Ah... esse é seu ego falando. Acha que é dono da verdade?
-J – Eu sou argentino. Como um argentino se mata? Ele sobe no topo do próprio ego e pula.
-B – Há... Há... Há... Eu não conheço essa parte do jardim. Onde estamos?
-J – Vamos para aquele lado, tem sombra.
-B – Sim, talvez encontremos Deus ali, no caminho. Eu te apresento a Ele. Defendemos dois mil anos de tradições, mas o cardeal Bergoglio é quem sabe mais.
-J – Não, não. Passamos os últimos anos disciplinando qualquer um que discordasse da nossa visão sobre o divórcio, controle da natalidade, ou sobre ser gay. Enquanto o planeta está sendo destruído, enquanto a desigualdade crescia como um câncer, nos preocupávamos se a missa seria falada em latim, se meninas podiam servir no altar... Construímos muros ao nosso redor enquanto o real perigo estava dentro, conosco.
-B – Do que está falando?
-J – Creio que sabe do que estou falando. Sabíamos que sacerdotes, bispos, padres e homens da igreja molestavam crianças, e o que fizemos?
-B – Nós...
-J – Ouvimos a confissão deles e os mudávamos de paróquia, onde podiam começar tudo de novo.
-B – Acreditamos que a confissão...
-J – Melhor nove crianças sofrerem, do que nove milhões perderem a fé por causa de um escândalo.
-B – Não, claro que não. Isso é grotesco.
-J – Um bispo me disse isso.
-B – E o que disse a ele?
-J – Pedi para que tirasse o padre do ministério e que iniciasse um julgamento canônico. Imediatamente! Não acreditei que palavras mágicas de um sacerdote iriam fazer tudo ficar bem.
-B – Palavras mágicas? É assim que chama um sacramento?
-J – A confissão limpa a alma do pecador, mas não ajuda a vítima. O pecado é uma ferida, não uma mancha. Ela precisa ser curada, ser tratada, e o perdão não é suficiente.
-B – Você diz “nós”, mas está culpando a mim.
-J – Santo Padre, por favor...
-B – Preste atenção! Sua aposentadoria é um protesto contra a Santa Sé, e me pede que eu ratifique. Não quer mais ser cardeal arcebispo, será que ainda quer ser um padre? Não concordo com nada do que diz.
A conversa seguiu por caminhos diferentes. Ocorre choque de opiniões. O cardeal Jorge tem razão, a simples confissão do erro do padre pedófilo não é suficiente para resolver o sofrimento das crianças que ele abusou. A simples mudança de paróquia não é garantia para que a sua doença não se manifeste outra vez. A convocação de um julgamento com a punição proporcional ao crime cometido é necessária, mesmo que isso cause um escândalo dentro da igreja. As vezes o escândalo é necessário, mas ai de quem o provoca, frente as leis do próprio Deus.
Observo que o cardeal Jorge é bem criterioso com as ocorrências dentro da igreja, que procura se nivelar com o que ocorre no mundo, corrigindo atitudes férreas da Santa Sé com um bom nível de tolerância, assim como punindo criminosos da mesma corporação, cortando na própria carne. Até aí não vejo desvios da vontade de Deus. O que não me parece correto é a minimização dos crimes ocorridos fora da igreja. Entendo que os pastores devam ser exemplos para suas ovelhas, não podem ser criminosos e se assim forem, devem ser punidos com mais severidade, pois conhecem muito bem a lei de Deus e com isso assumem maior responsabilidade. Mas as ovelhas que cometem seus crimes devem ser punidas com a mesma justiça, pois foi assim que o Cristo ensinou: julgarmos com os mesmos critérios da lei de Deus, tanto dentro como fora da Igreja. Sim, sim; não, não. Os criminosos que matam milhões em nome de uma ideologia não podem simplesmente ser perdoados por fazer os seus crimes em nome de uma justiça social, que se orgulham de realizar tais crimes. Pessoas que não chegam a confessar os seus crimes ao ouvido do padre, mas frequentam as igrejas para mostrar as ovelhas das quais querem tosquiar, que seguem as lições do Cristo. Um pedófilo que abusa de dezenas de crianças deve ser punido conforme a natureza e amplitude do seu crime; mas um corrupto que abusa de milhões de pessoas, também deve ser punido conforme a natureza e a amplitude do seu crime.