A série “Messiah” que passa na Netflix, traz em seu 4º episódio, temporada 1, um diálogo interessante que se passa na detenção, onde o preso se encontra algemado. O diálogo é entre aquele que é considerado o Messias e a agente da CIA, Eva, que anda investigando os seus passos, e que merece reproduzirmos para nossa reflexão.
E – Olá.
M – Olá.
E – Está sendo bem tratado?
M – Sim, obrigado. Você quer perguntar algo?
E – Não, só quero conversar. Sou o que você pode chamar de seguidora, porque tenho seguido você. Síria, Israel, Jordânia, México.
M – Você é da CIA.
E – Você passeia bastante.
M – É da natureza da minha obra.
E – E que obra é essa?
M – A obra de Deus.
E – E Deus quer você aqui? Em um centro de detenção do Texas?
M – Por enquanto.
E – Está planejando outra fuga?
M – Não depende de mim.
E – Deve ser reconfortante saber que o que quer que faça é a vontade de Deus.
M – Pelo contrário. É uma grande responsabilidade. Ele não pede coisas fáceis.
E – Responsabilidade? Sente-se responsável pelas centenas de mulheres e crianças que levou à fronteira de um país que nunca as deixará entrar?
M – Não podemos questionar a vontade de Deus.
E – Não estou questionando a de Deus. Estou questionando a sua. Foi você quem os levou. Logo começarão a morrer. E será culpa sua. Você já fez muitos inimigos.
M – Falar a verdade costuma ter esse efeito.
E – A verdade? Chegaremos a Verdade.
M – Sim.
E – Ótimo. Quanto mais cooperar,, mais posso ajuda-lo.
M – Não preciso da sua ajuda. Deus proverá.
E – Sabe, talvez eu faça parte do plano de Deus.
M – Você faz.
E – Então, me diga qual é o plano. Esclarece para mim.
M – Quem dera fosse assim tão simples.
E – Mas nunca é. Não é mesmo? É sempre uma ideia inalcançável. E as pessoas só precisam confiar em você e segui-lo. Sabe, meu trabalho... encontro pessoas como você o tempo todo, pessoas que acham que têm a resposta. Se o mundo as escuta e faz o que dizem, elas se comprometem tanto com uma ideia que distorcem a si mesmos. Tornam-se a encarnação desse ideal, o que faz com que se sintam especiais. Por um tempo. Mas mais cedo ou mais tarde, todas essas pessoas, no fundo, querem parar. Sentem falta de serem humanas. Mas acham que não têm escolha a não ser continuar o que começaram, se isolando, se afastando de amigos e família, e ficando cada vez mais longe do que sabem, até que não haja escolha a não ser pular do penhasco. E é isso o que torna pessoas como você, perigosas. Para todos, inclusive para você mesmo. Meu trabalho é pegar você antes desse penhasco.
M - Apanhadores no campo centeio.
E – O que disse?
M – Nós somos apanhadores no campo de centeio, nós dois. Tentando impedir que as crianças caiam. Você é muito devotada ao seu trabalho.
E – Por que diz isso?
M – É domingo. Você é uma mulher que lutou muito para ter o que tem. Lutou para ser reconhecida, para ser a melhor, para se destacar, para ser melhor do que os homens ao redor.
E – Como toda mulher.
M – Mas você está pronta para ir além. Ignorar os problemas pessoais e se arrastar para cá num domingo. É isso que você idolatra.
E – Idolatrar?
M – Todos idolatram. Só muda a escolha do que idolatrar. Alguns se ajoelham perante o dinheiro. Alguns perante o poder, o intelecto. E você? Você é uma acólita da CIA. E sacrificou tudo por uma ideia. E, quanto mais perseguiu essa ideia, mais isolada você ficou. Mas, à noite, você deita na cama e se pergunta se valeu a pena desistir do que desistiu. Deus ouve as lágrimas que você não chora.
E – Você não sabe nada sobre mim.
M – Sei que está sofrendo. Não vai durar.
E – Estou ótima, obrigada.
M – Ficará ótima quando passar. Posso fazer passar.
E – Seu sotaque... você é do Irã. Tem família lá, amigos? E tem razão. Sou boa no que faço. E vou descobrir tudo sobre você.
M – Está procurando pelas coisas erradas. “Nada faltará àqueles que buscam o Senhor.”
E – Quem te ensinou hebraico?
M – Foi meu pai.
E – Quer me convencer que é judeu?
M – Segue a linhagem materna. Como você sabe. Assim como sua mãe teve você. Ela quer que você saiba que você foi um presente de Deus.
E – Você não sabe nada sobre a minha mãe.
M – Ela está sempre olhando você. Ela... e seu marido. Eva... tudo bem. Você pode chorar.
Eva sai da entrevista desnorteada, como ele sabe tanto sobre ela? Os argumentos são interessantes. Como ser tão direto na consciência de fazer a vontade de Deus, assumindo tão grande responsabilidade? E falar a verdade é motivo para criar inimigos? E essa vontade de Deus, é uma realidade ou distorção dela, que atrapalha nossa evolução? Que pode nos destruir e a quem convive conosco? Que ficamos tão convictos de ser a coisa certa que não podemos rever a posição e mudar de rumo? Será?