Meu Diário
17/01/2020 00h15
MAIAKOVSKI

            Ao pegar no livro, “Maiakovski – o Poeta da Revolução”, que traz a biografia de Vladimir Maiakovski feita por Aleksandr Mikhailov, achei interessante dividir aqui com meus leitores a percepção feita do biografado a partir do texto aplicado na orelha do livro, por Zoia Prestes. Vejamos.

            Na imaginação de todos que conheciam Maiakovski pessoalmente ou daqueles que pelo menos o conheciam por suas apresentações públicas ou suas obras, Maiakovski é vida...

            A frase foi proferida por Lunatcharski, o primeiro Comissário do Povo para instrução do País dos Sovietes, em 17 de abril de 1930, quando o poeta já estava morto. Lunatcharski tinha toda razão. O Poeta da Revolução não só amava a vida, a luta, as mulheres, e a Rússia, como se entregou com paixão a tudo em que acreditava. Assim foi com a militância política, que teve início aos 14 anos, com a revolução socialista, saudada e denominada por ele “a minha revolução”, e com as mulheres que amou, pois ao se apaixonar exigia exclusividade, sofria e era movido pelo amor. Assim foi com a poesia, pois usou seu verso original para louvar a revolução, defender um futuro mais justo para seu país, criticar os males da burocracia que se instalava e, é claro, para falar dos seus amores.

            A Rússia sofreu muitas mudanças ao longo do século XX. De uma monarquia absolutista decadente, o país transformou-se no primeiro Estado socialista, que desafiou o mundo capitalista e pôs em pauta a justiça social e a igualdade. Mas não foi fácil o caminho: o “navio da vida” se chocou contra pessoas perversas e ambiciosas que chegaram ao poder. Até hoje são debatidos os motivos que levaram Maiakovski a se matar. Uns atribuem o suicídio às decepções amorosas, outros à frustração com os rumos que a URSS tomava. E há ainda quem aponte a soma dos dois sentimentos. Acredito que, após conhecer a biografia do poeta, tão detalhadamente descrita neste livro, o leitor brasileiro vai perceber que não adianta tentar adivinhar o que o levou a tomar a trágica decisão. Maiakovski viveu apaixonado pela vida, pela poesia, pela revolução, pelas mulheres, era “todo coração”, como disse em verso: “Mas em mim / A anatomia ficou louca / Sou todo coração - / Pulsa por toda parte”.

            Assim é Maiakovski. A contradição de seu ato contra a vida que tanto amava nos deixa perplexos. Não adianta, não há lógica na vida. Temos de vive-la, nada mais. E quem dera vive-la tão intensamente como o fez Vladimir Maiakovski.

            A situação social que existia na Rússia e que deflagrou a revolução, tinha todos os motivos éticos para que tal mudança acontecesse. Acredito que mesmo eu, e a maioria dos meus leitores, tivesse se engajado em tais propósitos. Acontece que a forma pela qual aconteceu deteriorou numa burocracia sufocante e genocida que faz ter náuseas os pensamentos mais sensíveis, e talvez tenha sido esse um grande motivo para o suicídio de alma tão sensível quanto a de Maiakovski.

            Acredito ainda que, se ele tivesse tido conhecimento mais aprofundado das lições do Cristo, teria encontrado um meio mais pacífico de correção das injustiças, sem pegar nas armas, sem colocar um grupo social contra o outro, como até hoje continua a existir essa influência pelo mundo afora.   


Publicado por Sióstio de Lapa em 17/01/2020 às 00h15


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr