Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
18/02/2020 00h17
PINGO

            Nosso Pai Celestial sempre nos faz surpresas agradáveis, e outras vezes, como se querendo testar nosso nível de virtudes, nos faz passar por experiências desagradáveis.

            Foi assim que aconteceu com Pingo. Um cãozinho da raça Fox Paulistinha ou Terrier Brasileiro, de personalidade inquieta, gentil, esperto, ativo, vigilante, corajoso, alerta, amigável, mas agressivo com desconhecidos. Ele já era idoso, tinha 8 anos. E o dono dele estava desesperado. Havia ganhado dois cães grandes, mestiços com Pitbull, mas Pingo não se intimidava. Partia para cima e batia nos dois constantemente. Tentando contornar o problema, para não deixar os dois cães mofinos, seu dono autorizou a castração, na esperança que, deixando de produzir a testosterona, amenizasse a agressividade. Mas não deu jeito, Pingo continuava com a agressão constante contra os dois intrusos na sua casa.

            Sem outra alternativa, seu dono pensou na doação e falou comigo. Aceitei a oferta e fui pega-lo. Foi dito que ele era um cãozinho muito saudável, pouco adoecia, comia de tudo, gostava muito de pão e era o protetor da casa. Vi a raiva dele contra mim e minhas companhias que iam traze-lo para minha casa. Com muita dificuldade foi colocado na mala do carro. Durante todo o trajeto apresentava um jeito ameaçador, rosnando agressivamente. Com muito cuidado, ao chegar em casa, o tiramos do carro e procuramos faze-lo adaptar-se à nova morada. Pensava que ia demorar um tempo, devido o grau de raiva que ele estava demonstrando. Passou a primeira noite uivando como se chorasse a saudade de sua antiga casa, de seus donos originais. Mas logo ele se acostumou conosco e nós com ele. Conquistou amor de quem nunca pensava amar algum animal, principalmente um cachorro. Realmente, era agressivo com desconhecido e com qualquer ser vivo que ele considerasse uma ameaça. Mas com os seus novos donos e qualquer outra pessoa que ele entendesse que era amigo, ele se tornava também amigo e afetuoso. Ganhou o afeto de todos, só fazia raiva quando ele aproveitava uma oportunidade e corria pela rua afora sem atender o chamado. Era necessário que alguém fosse pega-lo e traze-lo no braço. Quanto a agressividade com desconhecidos era até positivo. Todos sabiam que na casa existia um cachorro vigilante e que não tinha medo de enfrentar o perigo.

            Tudo estava bem harmonizado, até convivíamos com Pingo dentro de casa em muitas ocasiões. Mas, numa tarde de domingo, quando eu estava no lazer com meus irmãos, houve duas quedas de energia que imaginávamos ter sido problemas na Cosern. Estávamos sentindo a falta de Pingo, pois ele sempre ficava perto de nós, querendo aproveitar alguma guloseima. Observamos que ele estava imóvel perto do motor do portão, como se tivesse dormindo. Mas não atendia ao chamado nem aos toques. Observamos que os seus dentes estavam mordendo o fio do motor. Aí entendemos tudo. Ele na sua curiosidade, encontrou a fiação do motor, puxou com os dentes e ao sofrer a descarga elétrica que apagou a casa, também sofreu o apagamento súbito.

            Foi assim a passagem de Pingo por nossas vidas. Não chegou a completar um ano. Foi um pingo de Luz que Deus nos deu a oportunidade de vivenciar, de vê-lo comer pão e banana como se fosse ração, de sentir os seus abraços nas nossas pernas, de seu focinho querendo cheirar nosso rosto. Corria incessantemente para onde fôssemos, como se não quisesse nos deixar desprotegido por nenhum instante. Obedecia com inteligência quando pedíamos para ficar em determinado canto da casa ou que saísse para outro local.

            Tudo bem, nós adultos entendemos que Deus deu também pode levar, afinal tudo é dEle, pode colocar aqui no mundo material, ao lado de quem Ele quer, e pode levar a qualquer hora para o mundo espiritual. Mas quanto às crianças? Que brincavam com ele como se fosse um irmão? Talvez eu tenha que explicar a elas o que Deus quer com isso. Trazer o Pingo de luz como uma amostra grátis do Amor divino, um ser que não se ressente pelas ausências, até pelos gritos que as vezes recebia. Sempre mantinha o seu coto de rabo balançando como a dizer: eu amo vocês, apesar de tudo!

Publicado por Sióstio de Lapa
em 18/02/2020 às 00h17