Sempre que escuto ou leio essa história da Maria e Marta, que se passou na casa delas quando Jesus a visitava, fico com sérias indagações que até hoje não foram devidamente compreendidas.
Jesus estava conversando sobre o seu tema preferido, do Reino de Deus entre outras lições importantes para que chegássemos próximos do Pai. Maria estava entre a pequena plateia que se enriquecia com as lições. Marta estava na cozinha, fazendo a comida para todos os presentes. Ficou irritada, pois estava trabalhando sozinha para alimentar a todos, inclusive a irmã que poderia estar na cozinha lhe ajudando. Foi reclamar a jesus, e o que foi dito? Que Maria estava certa, que ela escolhera a melhor parte. Compreendo o que Jesus quis dizer com isso, que as lições espirituais que Ele estava oferecendo tinha mais valor que as necessidades materiais que Marta estava providenciando, que era melhor para Maria que ela ficasse ali com Ele.
Escutei uma palestra sobre o caso, com um viés feminista, ressaltando mais uma vez a inteligência de Maria, de ter saído do jugo da mulher ter que sempre estar na cozinha e para o homem ter sempre que usufruir das melhores coisas.
Mesmo assim, nem uma nem outra coisa, satisfaz o meu senso de Justiça. Acredito que eu possa me colocar na posição de um dos discípulos de Jesus, agora nesta época, na categoria de um trabalhador de última hora, e fazer uma observação ao Mestre.
-“Jesus, porque não convidamos Marta para sentar conosco e participar destas importantes lições? Ela apagará o fogo onde está preparando a comida, e depois que o Senhor terminar as lições, iremos em busca da alimentação. Poderemos até ajuda-las, a Marta e Maria, a preparar os alimentos, não nos incomodaremos, se isso for trazer justiça e solidariedade para todos nós.”
Se alguém naquela pequena assembleia tivesse se comportado assim, como seria a resposta do Mestre? Penso que seria dessa forma...
-“Bem pensado, Francisco, se Marta tem o mesmo interesse que tem a Maria de ouvir essas lições, de se instruir e praticar o que aprendeu, nada mais justo que venha sentar conosco também. A não ser que ela não tenha o interesse que a Maria tem, e que prefere gastar o seu tempo no preparo da comida e depois ser elogiada e agradecida por isso. Todos ficaremos devendo esse tipo de favor a ela, e isso não deixa de ser um passo a frente no caminho da evolução, o servir a todos sem expectativa de recompensa. O que acontece é que Marta se aborreceu por estar fazendo um serviço sozinha e imaginou que a irmã deveria ter os seus mesmos interesses. Este é o ponto crítico de Marta. Impor ao outro à sua vontade. Fiquei na condição de decidir o certo ou o errado de Maria. É claro que, se Marta estivesse comigo e reclamasse que Maria estava na cozinha e não dava a mínima importância ao que eu ensinava, eu daria resposta parecida. Diria que você, Marta, escolheu a melhor parte da tarefa, mas Maria prefere ficar onde se sente melhor, preparando a comida para servir a todos. Não é isso que eu sempre ensino? Que quem deseja ser o maior, que seja o servidor de todos? Pois Maria agora estar na cozinha se preparando para essa posição de destaque. Está vendo como tudo é relativo?”
Depois desse diálogo, sai com minha mente atordoada. Sei que as respostas do Cristo são impecáveis. Não consigo assimilar de imediato essa verdade, mas sei que ela existe, que está presente na lição. Por mais que eu não entenda, sei que o Cristo está correto. Se não consigo validar na minha consciência de imediato, pela razão, a intuição me diz que a falha é minha, na minha pouca capacidade de raciocinar. Mas que, com o amadurecimento da minha alma, um dia estarei pleno dessas verdades.
Talvez eu tenha sido a Maria naquele passado longínquo, tão sedento de aprender as lições do Cristo e até hoje sem compreender bem, e talvez a minha irmã, Marta, no seu ato de servir, tenha tido um melhor aprendizado que o meu.