Se o justo é punido na terra, quanto mais o será o ímpio e o pecador? “Salomão”.
Naquela tarde ocupavam-se os discípulos de Rabi Jonathan com os Salmos de Davi. Um dos jovens leu em voz alta: “O Senhor prova o justo; porém, ao ímpio e ao que ama a violência, aborrece a sua alma.”
Competia ao mestre comentar e esclarecer essa passagem do Livro. E o doutíssimo Jonathan assim falou:
- Rico senhor foi ter à oficina de um oleiro onde pretendia adquirir vaso de alto preço. O oleiro mostrou ao visitante bela coleção de vasos e começou a experimentá-los, batendo de leve. Mas não experimentava todos. De quando em vez, tomava de um vaso, olhava-o e deixava-o de lado. O comprador lhe perguntou, apontando para os vasos que haviam sido desprezados: “Por que não experimentas também aqueles?” “Não adianta”, respondeu o oleiro, sem titubear, “são vasos trincados. Neles não posso bater. Qualquer deles, à menor pancada, ficaria em estilhaço. Só experimento os sãos, os perfeitos, sem emendas. Estes resistem aos choques mais fortes e podem ser úteis e preciosos.”
“E assim”, rematou o Rabi Jonathan, “à semelhança do oleiro, Deus não experimenta o perverso, deixa-o; e vai tocar no justo que pode resistir e salvar-se.”
Eis o que, a tal respeito, ensinava o bondoso Rabi José ben Hanina: - O vendedor de linho, sabendo que o seu linho é bom, pisa-o e repisa-o, na certeza de que esta operação melhorará o produto. O bom linho, quanto mais batido, mais brilho e valor terá. Mas, quando sabem que o linho é de má qualidade, não se atreve a pisá-lo, pois a fibra se partiria. Pela mesma razão o Senhor não oprime o mau e sim o justo.
Não menos expressivas eram as palavras do Rabi Eleazar: - Certo lavrador tinha dois bois; um fraco e o outro forte e robusto. Em qual deles punha o lavrador a canga? Sobre o mais forte. Assim faz o Senhor com o homem justo.
Este texto de Bereshit Rabbah, 32. Cf. A. Cohen Le Talmud, p. 169, reúne ensinamentos de três rabinos notáveis. Fico a pensar em mim e nas minhas circunstâncias: eu sou um caminho, assim como todos os meus irmãos espirituais, que podemos estar indo em direção a Deus ou não, de acordo com nossas atitudes. Também somos vasos formados do barro da Terra que formou nossos corpos. O Senhor sonda os nossos corações e ver como estamos, se encontra alguma trinca dentro de nós, se estamos em condições de receber choques, ser pisoteados ou receber a canga pesada. Se determinado sofrimento pelo qual passamos, não encontramos justificativa para tal, é porque o Pai está nos colocando a prova com algum propósito que ainda não conhecemos. Semelhante a Jesus que por ser o mais íntegro de suas criaturas, recebeu a missão de encarnar entre nós e ensinar importantes lições, ao custo do enorme sacrifício, que somente ele estava em condições de suportar.
Com essa compreensão, podemos ficar mais confortáveis na sintonia com o Criador, quando passamos por tais provas, pois essa é uma forma de recebermos dEle um certificado de aprovação em nossa caminhada. Não sei localizar bem onde estou sendo tocado pelo Pai. Onde sinto maior dor na minha caminhada? Acredito que seja na missão que Ele implantou na minha consciência de trabalhar pela implantação da família ampliada como forma de se atingir a família universal, junto a pessoas que não compreendem a dimensão desse projeto e se ressentem das minhas atitudes, jogando críticas e represálias. Esse é o choque, o pisoteamento, a canga pesada que recebo.