Começo a perceber a jogada do Pai. Relembrando o jogo de xadrez onde os jogadores têm cada um sua estratégia pessoal, e só mais adiante é que o adversário vai sabendo onde o outro quer chegar. Pois é isto que está acontecendo entre mim e Deus. Desde a minha infância Ele está do outro lado do tabuleiro da vida. Nessa época, em quase a totalidade das jogadas era Ele que tinha o domínio, geralmente com jogadas de proteção, até da minha própria vida. A partir do meu desenvolvimento, Ele ficava apenas analisando minhas jogadas, ingênuas, sem nenhum sentido transcendental. Mas Ele já podia observar o que havia de bom ou ruim em mim, qual era a minha essência. Foi assim que Ele percebeu a minha intenção de fazer a Sua vontade, mesmo que não houvesse muita determinação ou consolidação do pensamento. Passei por um período que até duvidava da Sua existência. Mas a maioria de minhas ações tinha sintonia com Ele. Aos poucos o Pai foi colocando caminhos mais sofisticados à minha frente, que exigia maior racionalização, poder de imaginação, e verificava se a minha escolha era a que mais se aproximava dEle. Foi assim que entrei por caminhos tortuosos, que se afastavam da cultura humana onde eu estava inserido, mas era coerente com a lei do amor, ensinada por Jesus Cristo, em nome do Pai.
Dessa forma fui entendendo cada vez mais as mensagens que Ele enviava para mim e os desafios que eu teria que enfrentar.
Dentro dos diversos contextos que iam tomando forma na minha imaginação com a proposta de consolidá-las à nível prático, veio a ideia da construção do Reino de Deus, anunciado por Jesus, da forma mais eficiente possível. Veio a ideia da criação de uma igreja: Escola-Igreja Trabalho e Amor (EITA). Teria o objetivo de ensinar a todos, independente de filiação religiosa a qualquer outra denominação, sobre a hierarquia da vida dentro de um projeto evolutivo, onde as leis morais trazidas por Jesus e reforçadas pelo espiritismo procurariam ser cumpridas por todos, num contexto de trabalho, solidariedade e amor.
Essa ideia parecia muito distante da minha prática. Como poderia eu, um professor universitário, à nível de doutorado, defender uma prática pessoal a nível de pastor de ovelhas, perdidas na luta pela sobrevivência, ou na luta pela aquisição de poderes exagerados e iníquos. Qualquer uma dessas condições, o homem perde a sua dignidade de obra prima da criação, conforme o diagnóstico da nossa consciência, recém-saída dos limites dos instintos.
Começo a perceber agora os lances do Criador. Colocou-me dentro do trabalho da irmandade de Alcoólicos Anônimos, fez ser criada a escola do Evangelho, e agora esse recente trabalho de Evangelho em Família, escolhendo uma casa para falar sobre o Evangelho, sobre o trabalho e sobre doenças como o alcoolismo, tudo leva a uma prática coerente com a igreja que lá atrás foi por mim imaginada.
Sim, agora eu sei que é o Criador que está do outro lado do tabuleiro, jogando comigo uma partida que integra todos os seres vivos, toda a Natureza. Ele mostra os desvios que o livre arbítrio humano levou à sociedade e agora necessita de voluntários para a correção de rumos.