A Natureza é bela, digna representante da imagem do Criador. Nela está inserida uma sabedoria que nenhum dos maiores gênios da humanidade chegou perto. Contemplo as estações e vejo a dança do reino vegetal como se quisesse encantar o reino animal, principalmente a nós, seres humanos, com nossos olhos sofisticados e cérebros qualificados como o suprassumo da racionalidade.
Observo o verdor das folhas que se abraçam com os raios do sol, produzindo frutos e cheiros. O tempo passa, as frutas amadurem, as folhas amarelam e caem. A nostalgia parece dá o tom da natureza. É o outono da existência.
Mas eis que vejo, lá no meio uma flor. Como pode um ser tão frágil desafiar o poder da Natureza? Da sua caminhada inexorável em direção ao fim? A flor rebelde perfuma a nostalgia da despedida, enfeita a cena da melancolia com seu vigor derradeiro.
Essa flor é minha conselheira. Estou no outono da minha vida, minhas folhas amareladas já começam a cair. Mas o meu coração, como flor rebelde quer manter o viço do amor, mesmo que não tenha os gametas reprodutores, mas quer perfumar o ambiente com gestos e sorrisos, beijos e abraços.
Eu destoo de todos ao redor, que cabisbaixos seguem a rotina de uma vida cadente, cambaleantes, em direção ao sepulcro, reta final de tal corrida.
Sou amante da Natureza, mas agora filho rebelde, não quero acompanha-la em seus acordes melancólicos. Devo gastar minhas últimas energias na beleza de minhas formas, na maciez de minhas pétalas, na essência do meu perfume.
Quero que, no último alento, seja eu oferecido como prova de amor por algum amante apaixonado que me leva para sua amada; quero representar a cola de unir corações, ver o sorriso da donzela ao me fitar; quero ser colocado num jarro com agua no meio da sala, como prova que o amor pode se expressar na mais suntuosa mansão ou na mais humilde casinha, na beira mar ao som das ondas quebrando na praia, ou no alto da montanha, ouvindo o som da cascata se desmanchando no abismo verdejante de uma floresta virgem da ganância humana..
Quero, ao sentir minha pétalas murchando inexoravelmente, exalar a última gota de perfume ao abraço dos primeiros raios do sol do novo dia, como uma oferenda ao Deus criador pelo presente recebido de ter vivido, de amar e de ser amado; que as primeiras estrelas do crepúsculo, venha ajudar a iluminar meus últimos restos de beleza, como bilhões de velas a crepitar no infinito espaço em honra de tão finito e explosivo amor.
Sim, serei essa flor do outono, filho rebelde do Criador, mas que deixarei nEle o orgulho de ter criado um ser tão minúsculo e tão próximo da Sua magnitude; que trouxe pinturas do amor onde Ele não imaginara por.