Existe muitas dúvidas quanto a realidade dos agêneres, até mesmo dentro do movimento espírita kardecista, oficializado. Observamos que livros como este que estudamos, A Marca da Besta, não são comercializados nas livrarias da Federação Espírita Brasileira. No entanto, no mesmo livro é colocado um apêndice, que reproduzimos, escrito na Revista Espírita (ano II, 1859), produzida pelo próprio Allan Kardec, codificador do Espiritismo. Vejamos como está escrito:
Se um Espírito tem o poder de tornar visível e palpável uma parte qualquer de seu corpo etéreo, não há razão para que não o possa fazer com os outros órgãos.
Se, para certos Espíritos, é limitada a duração da aparência corporal, podemos dizer que, em princípio ela é variável, podendo persistir mais ou menos tempo; pode produzir-se a qualquer tempo e a toda hora. Um Espírito cujo corpo fosse assim visível e palpável teria, para nós, toda a aparência de um ser humano; poderia conversar conosco e sentar-se em nosso lar qual se fora uma pessoa qualquer, pois o tomaríamos como um dos nossos semelhantes. (...)
Pedimos ao Espírito São Luiz que nos esclarecesse sobre esses diferentes pontos, dignando-se responder nossas perguntas. (...)
2. Isto depende de sua vontade?
- Não exatamente. O poder dos Espíritos é limitado, só fazem o que lhes é permitido fazer.
3. O que aconteceria se ele se apresentasse a uma pessoa desconhecida?
- Teria sido tomado por uma criança comum. Dir-vos-ei, porém, uma coisa: por vezes existem Espíritos na Terra que revestiram essa aparência, e que são tomados por homens.
4. Esses seres pertencem a classe dos Espíritos inferiores ou superiores?
- Podem pertencer ás duas; são fatos raros. Deles tendes exemplos na Bíblia. (...)
6. Eles têm paixões?
- Sim, como Espíritos têm as paixões dos Espíritos, conforme sua inferioridade. Se algumas vezes tomam um corpo aparente é para fruir as paixões humanas; se são elevados, é com um fim útil que o fazem.
7. Podem procriar?
- Deus não o permitiria. Seria contrário ás leis que estabeleceu na Terra e elas não podem ser derrogadas.
8. Se um ser semelhante se nos apresentasse, haveria um meio de o reconhecer?
- Não, a não ser que o seu desaparecimento se fizesse de modo inesperado. Seria mesmo que o transporte de móveis de um para outro andar (...).
9. Qual o objetivo que pode levar certos Espíritos a tomar esse estado corporal? É antes o mal do que o bem?
- Frequentemente o mal; os Espíritos bons têm a seu favor a inspiração; agem pela alma e pelo coração. Como o sabeis, as manifestações físicas são produzidas por Espíritos inferiores, e aquelas são desse número. Entretanto, como disse, os Espíritos bons podem igualmente tomar essa aparência corporal com um fim útil. Falei de maneira geral.
10. Nesse estado podem eles tornar-se visíveis ou invisíveis á vontade?
- Sim, pois podem desaparecer quando bem entenderem.
11. Têm eles um poder oculto superior ao dos demais homens?
- Só tem o poder que lhes faculta a sua posição como Espírito.
12. Tem necessidade real de alimento?
- Não, o corpo não é real.
13. Entretanto, embora não tivesse um corpo real, o jovem de Londres almoçava com seus amigos e apertou-lhes a mão. Em que teria se transformado o alimento absorvido?
- Antes de apertar a mão, onde estavam os dedos que apertavam? Compreendeis que o corpo desapareça? Por que não quereis compreender que a matéria também desapareça? O corpo do rapaz de Londres (...) Era, pois, uma aparência; o mesmo ocorre com a nutrição que ele parecia absorver.
14. Se tivéssemos entre nós um ser semelhante, seria um bem ou um mal?
- Seria antes um mal. Aliás, não se pode adquirir grandes conhecimentos com esses seres. (...)
Essas informações são muito fortes e exige muito desempenho da lógica. Tem a favor o senso crítico do codificador do Espiritismo, Sr. Allan Kardec. Certamente a sua inteligência supera a minha e não achou necessário fazer as observações que faço aqui.
Compreendo que o Espírito possa, encontrando circunstâncias favoráveis e sendo bem treinado, materializar partes do corpo e em consequência o corpo todo, pelo período que for necessário e permitido pelas leis naturais as quais deve ser submetido. Agora, na questão da alimentação, vejo uma incoerência, na minha forma de raciocinar. É justificado que o Agênere aparece e desaparece porque é uma aparência, não tem a substância material. Mas o alimento que o rapaz de Londres ingeriu tinha substância material. Como poderia desaparecer junto com o Agênere, este sim, sem substância material? Então, a aparência pode ingerir, incluir uma realidade, o alimento, e faze-la tornar-se aparência também? Isso não vai de encontro a lei da Natureza?
Bem, são minhas dúvidas. Não quero dizer com isso que estou negando a existência dos Agêneres, mas que precisamos estudar com mais profundidade esses seres para saber até onde vai o limite do fenômeno.