Não tinha atentado ainda para uma atitude frente à multidão. Pensava no povo, de forma genérica. Não deixa de ter um bom paralelo. Mas quando Jesus diz: “tenho compaixão da multidão” (Marcos, 8:2), de repente o termo adquire um sentido maior. Os espíritos verdadeiramente educados, que sabem das leis de Deus e procuram cumpri-la, se percebe como criatura no meio de tantas outras criaturas, humanas ou não, e sentem o sentido da fraternidade com todos, com a multidão.
Raros homens, no entanto, compreendem esse imperativo das leis espirituais. Estão mais voltados para suas necessidades individuais, cumprindo com rigor o imperativo biológico da sobrevivência, da lei do mais forte. Geralmente, dentro das possibilidades terrestres, meramente instruído na cultura do mundo, o homem esquiva-se da massa comum, ao invés de ajuda-la. Em outras circunstâncias, se aproxima da massa com falsas promessas para que depois de eleito possa desviar os recursos coletivos para os seus bolsos ou de seus amigos e familiares. Explora-lhe as paixões, mantém-lhe a ignorância e costuma roubar-lhe o ensejo de progresso. Traça leis para que ela pague os impostos mais pesados, cria guerras de extermínio, em que deva concorrer com os mais elevados tributos de sangue. O sacerdócio organizado, quase sempre, impõe-lhe sombras, enquanto a filosofia e a ciência lhe oferecem sorrisos escarnecedores.
Em todos os tempos e situações políticas, conta o povo com escassos amigos e adversários em legiões. Vejamos o que acontece hoje no mundo e principalmente no Brasil, com a pandemia do COVID-19 que nos aflige. Governantes sem nenhum pudor praticam decretos abusivos, contra a liberdade da massa, proíbem medicamentos que podem resolver o problema e trazer a cura precoce dos doentes. Não importa a quantidade de mortos em suas consciências, parece que eles não possuem, pois é na consciência que está a lei de Deus.
Acima de todas as possibilidades humanas, entretanto, a multidão dispõe do Amigo Divino. Jesus prossegue trabalhando, como governador da Terra tem como objetivo deixar fluir a lei de evolução para todos, inclusive para o planeta. E aqueles renitentes no mal, que não querem ouvir nem obedecer a voz do Cordeiro de Deus, esses serão obrigados a deixarem este planeta e continuarem suas existências em orbes mais primitivos, mais adequados aos seus padrões vibratórios.
Ele, que passou no Planeta entre pescadores e proletários, aleijados e cegos, velhos cansados e mães aflitas, volta-se para a turba sofredora e alimenta-lhe a esperança, como naquele momento da multiplicação dos pães.
Lembro que sou parte integrante dessa multidão terrestre, e que tenho necessidades como qualquer um dos meus irmãos. Se eu não puder ajudar, por meios materiais e espirituais a quem mais necessita, não posso prejudicar a ninguém, quer esteja próximo ou mais distante.
O Senhor observa o que faço. Não devo roubar o pão da vida de ninguém; pelo contrário, devo procurar multiplicá-lo.