Pouca gente sabe quem seja a padroeira da Psiquiatria. No Hospital João Machado, Natal-RN, existe uma capela com a imagem da santa, Nossa Senhora da Cabeça. Ao lado diversas imagens de cabeças de gesso, como indicativo de promessas na área da saúde mental. Mas, qual a história dessa santa? Será ela a padroeira?
Nossa Senhora da Cabeça tem uma história bem antiga, desde o século VIII, quando os muçulmanos ocuparam a maior parte da Península Ibérica, Espanha e Portugal. A luta pela retomada continuou durante sete séculos, até a tomada de Granada, último reduto dos mouros, em 1492.
Nas imediações da cidade Andújar, na região da Andaluzia, sul da Espanha, vivia um jovem pastor chamado João Rivas. Os mouros lhe cortaram o braço direito, provavelmente, por não renegar a fé cristã. Porém, seguindo os ensinamentos de Cristo e devoto de Maria Santíssima, soube perdoar-lhes e não guardou ressentimento. Levava uma vida simples e de oração.
Um dia, enquanto apascentava as ovelhas nas imediações do Monte Cabeça da Serra Morena, ouviu o som de uma campainha que vinha do penhasco. No início, pensou que se tratasse do sino da ovelha madrinha de outro rebanho, pois havia outros pastores por toda a encosta. Como o ruído se fazia cada vez mais insistente, resolveu aproximar-se daquele ponto. À medida que subia naquela direção, o som tornava-se mais nítido, e uma luz extraordinária envolvia todo o cume. Vencendo o medo e movido pela curiosidade, continuou. Próximo de uma gruta, ficou extasiado ao ver sobre as rochas uma belíssima Senhora e, ao lado dela, uma campainha que tocava sozinha.
Nesse momento teve a intuição de estar de estar diante de Nossa Senhora, que invocava todos os dias. Caiu de joelhos, continuando a olhá-la com um certo espanto. Nossa Senhora, com voz meiga, o tranquilizou dizendo-lhe: “Não temas. Vai à cidade dizer a todos que é vontade de Deus que seja construído neste lugar um santuário, onde eu seja venerada e onde serão operados grandes prodígios”.
O pastor estava disposto a fazer tudo o que a Senhora ordenara, mas estava receoso que os habitantes de Andújar zombassem dele, achando-o visionário e mentiroso. Mais uma vez, Nossa Senhora o tranquilizou, dizendo-lhe: “Vai, o testemunho de tuas palavras será o teu braço perdido, que eu te restituo”. No mesmo instante, João Rivas sentiu o braço normal, como se nunca o houvesse perdido.
Chegando à cidade, exultante, transmitiu a mensagem da Virgem Santíssima. Mais do que ouvir suas palavras, ao ver o milagre, o povo acolheu a mensagem e iniciou a construção da igreja, que se tornou ponto de romarias e local de realização de inúmeros milagres.
O povo a escolheu como a padroeira, e a igreja ficou conhecida como santuário de Nossa Senhora da Cabeça. Entre os prodígios que as crônicas do santuário registram, há o de um condenado à morte, que, na proximidade de sua execução, invocou Nossa Senhora da Cabeça, prometendo depositar aos pés de sua imagem uma cabeça de cera, caso recebesse a graça do reconhecimento de sua inocência e perdão. Quando o cortejo da execução se encaminhava para cumprir a sentença, chegou um mensageiro do califa trazendo-lhe o perdão. O agraciado cumpriu a sua promessa.
Por outro lado, existe a história de Santa Dimpna. Era a filha de um rei irlandês pagão e de sua esposa cristã, no século VII, que fora assassinada por seu pai. Esta história foi relatada pela primeira vez no século XIII num cânone da igreja de Santo Alberto em Cambrai, encomendado pelo bispo da cidade, Guido I. O autor afirma expressamente que seus escritos foram baseados numa tradição oral muito antiga e em persistentes histórias de curas milagrosas e inexplicáveis de pessoas acometidas por doenças mentais. Seu dia é comemorado pela Igreja Católica em 30 de maio, conforme o Martirológio Romano.
De acordo com a narrativa, Dimpna era filha de um rei pagão da Irlanda, tornou-se cristã e foi batizada secretamente. Após a morte de sua mãe, que era de extraordinária beleza, seu pai desejava casar-se com sua própria filha, que era tão bonita quanto a mãe, mas ela fugiu com o sacerdote Gereberno e desembarcou em Antuérpia, na atual Bélgica. Daí, eles se refugiaram na aldeia de Geel, onde havia uma capela de São Martinho, ao lado da qual eles levantaram a sua morada.
Os mensageiros de seu pai no entanto, descobriram o seu paradeiro, o pai dirigiu-se para lá e renovou sua oferta. Vendo que tudo foi em vão, ele ordenou a seus servos para matar o padre, enquanto ele degolou a cabeça de sua filha. Os cadáveres foram colocados em um sarcófago e sepultado em uma caverna onde foram encontrados mais tarde.
Portanto, a igreja considera como a padroeira da psiquiatria e da Psicologia, Santa Dimpna, por seus milagres relacionados com as doenças mentais, enquanto Nossa Senhora da Cabeça recebeu este nome pela geografia do seu aparecimento e não por milagres na área de saúde mental.