Um documentário da Netflix, The Most Unknown, traz diálogos interessantes sobre temas já abordados que é interessante refletirmos sobre alguns, como é o caso do primeiro sobre a Matéria Escura. Vejamos, com a participação de Jennifer Macalady, Ph.D., microbiologista da Universidade de Penn State e Davide D’Ângelo, Ph.D., físico da Universitá degli Studi di Milano.
JM – Estou indo a um laboratório de física conversar com um físico em seu próprio Habitat, o que é sempre interessante de se ver. Um organismo em seu habitat natural. Sou microbiologista. Espero que o físico seja capaz de comunicar o que ele faz e o porquê em termos que eu consiga entender. Quero manter a mente aberta sobre isso.
Ela se dirige para o Laboratório Nacional de Gran Sasso, Itália.
JM – Você é por acaso D’Ângelo?
DD – Sim, sou eu
JM – Sou a Jennifer.
DD – Matéria Escura é algo que não sabemos o que é. Acreditamos que a matéria escura esteja lá, mas nunca a detectamos.
JM – O que é Matéria Escura?
DD – Não sabemos.
JM – Que legal. Por isso é chamada de escura.
DD – Exato.
JM – Sabe, temos matéria escura em microbiologia também. Roubamos o termo.
DD – Por que o usam?
JM – Temos evidência que há cerca de 35 trilhões de espécies microbianas e... conhecemos cerca de um milhão. Então, o resto é matéria escura.
DD – É, acho que faz sentido porque o que chamamos de Matéria Escura é um tipo de partícula nova, que ainda não descobrimos.
JM – Então, a hipótese é que a Matéria Escura exista porque é consistente com todas as nossas observações.
DD – Exato.
JM – Então, talvez não exista, mas achamos que sim por causa do...
DD – Até a detectarmos, não podemos afirmar com certeza. Todas as observações apontam para essa direção.
JM – É muito misterioso.
DD – Matéria Escura é um dos grandes desconhecidos na física de partículas. De toda a matéria que deve existir, cerca de 85% é invisível. Essas partículas se movem através de nós pelos nossos corpos enquanto conversamos. A maioria passa sem nenhuma interação.
JM – Então, como vai encontra-las? Como vai detectá-las?
DD – Então, por que estamos aqui? Estamos abaixo de cerca de 1.800 metros de rocha. Estamos no subsolo porque os experimentos aqui, seja os que procuram Matéria Escura ou neutrino, ou qualquer outro tipo de evento raro, eles precisam estar protegidos da radiação cósmica. Há prótons ou íons mais pesados que aquecem a atmosfera. Eles criam chuva de partículas que nos atingem na superfície. A montanha é um filtro para isso. Então, quando está aqui, há o chamado “silêncio cósmico”.
JM – Estamos no silêncio cósmico. Embaixo da montanha. Amo isso.
DD – Você pode ouvir os raios cósmicos aqui.
JM – Adoraria ver o novo detector.
DD – Tudo bem. Ainda não está pronto.
JM – Tudo bem. Esse é seu novo experimento?
DD – Sim. Ainda é um protótipo. Vai provar todo o conceito da detecção.
JM – E então, dessa Matéria Escura que achamos que existe, mas não temos certeza. O cristal que vai colocar aí dentro vai ajuda-lo, e será o melhor detector possível que você sabe construir?
DD – Sim. Há cristais lá dentro.
JM – Como você ver o que o cristal está vendo? Como o cristal conversa com você aqui fora?
DD – Ele emite luz e há dois fotomultiplicadores em cada lado. Então, você lê os fotomultiplicadores do lado de fora aqui. É bem simples. Você vê a luz e registra. É simples.
JM – Esse é meu amigo, o físico da Matéria Escura.
DD – O que é mais simples que isso?
JM – Confesso que comecei do zero na Matéria Escura. Isso é o que entendo de como funciona.
DD – Estamos rodando em um mar de partículas de Matéria Escura.
JM – Há um... recipiente?
DD – Então, construímos um detector que é... cujo centro é...
JM – Um cristal especial, cultivado de forma cuidadosa.
DD – Um cristal de iodeto de sódio.
JM – Quando o cristal é atingido por essa partícula de Matéria Escura...
DD – Você vê um pequeno flash de luz.
JM – Essa luz é detectada por esses aparelhos na borda do recipiente. E esses aparelhos, então, traduzem a luz em um pulso elétrico que vai para um computador que diz: “Oi, Matéria Escura. Estou aqui.” Se você tivesse que... sei que não é o que fazemos, mas se você fosse chutar, onde estaria a Matéria Escura? Dá para chutar? Não arriscaria um chute?
DD – Ciência não chuta.
JM – Eu sei que não chuta. Mas, às vezes, sonho com resultados que talvez possa atingir.
DD – Posso dizer. Aqui, você vê o modelo... o Modelo Padrão Supersimétrico Mínimo para ver Matéria Escura nessa área aqui. Modelo de dimensões extra para ver Matéria Escura nessa área aqui. Esses outros estarão aqui. Esses outros estarão aqui.
JM – Em minha área, há uns dez anos, se me perguntasse onde estaríamos hoje, teria dificuldade de responder porque estamos... Não estamos só...
DD – Entendo.
JM – Não estamos só preenchendo detalhes, estamos examinando uns abismos escuros nos quais não conseguimos enxergar bem. E dependendo de onde a lanterna ilumine primeiro, talvez tomemos uma direção completamente diferente. É difícil, quando se está nesse limite do desconhecido, é muito difícil dizer para onde a ciência vai em seguida. É onde a física da Matéria Escura está agora ou... há algo mais análogo?
DD – Estamos prestes a conseguir algo que não sabemos o que é. É inacreditável que haja muito mais matéria no universo do que percebemos até agora. Não sabemos o que é. Precisamos descobrir se é verdade, se há Matéria Escura lá, se há outra explicação sobre a qual ainda não pensamos. Porque ciência também é isso. Às vezes você passa anos procurando algo, e no final, ele não está lá. E você tem que mudar a forma como estava pensando sobre as coisas.
JM – Pessoal, isto é incrível, são estalactites. Está vendo? Um canudo de soda. São estalactites.
DD – Este lugar não existia há 20 anos, não pode ser.
JM – Pode sim. Gostaria de saber do que é feito.
DD – Pode ser sal. Então pode crescer rápido. Vê essas manchas? São todas de micróbios que buscam a luz. Todas. O vermelho é um tipo, o escuro é outro, o verde é outro.
DD – Então há sabores como neutrinos.
JM – Sim. Sabores de micróbios.
DD – Quantos há?
JM – Há 35 trilhões de sabores.
DD – É mais que nossos três sabores. Os seus são estéreis?
JM – Os nossos não são estéreis. Não conhecemos nenhum sabor estéril ainda. Isso seria... uma pergunta interessante. Há um problema em biologia onde achamos que toda a vida, todas as 30 trilhões de espécies, descendem do mesmo ancestral. Mas, e isso significa que é fácil vê-las, porque sabemos o que procurar. Mas se há outro ancestral, não seríamos capazes de vê-lo, por não sabermos pelo que procurar.
JM – Há quanto tempo procuramos por isso? Essa Matéria Escura? Há quanto tempo a estamos buscando?
DD – Pelo menos 20 anos em Fond du Lac. Talvez mais. Claro, se você vir a Matéria Escura, ganhará o Nobel. Se não, fará uma boa publicação.
JM – O que o torna diferente? O que o faz querer pesquisar algo que nem sabemos que existe?
DD – Deve existir.
JM – Como sabe disso?
DD – Ciência é uma jornada que o leva a lugares onde ainda não esteve. Alguns preferem se concentrar na Ciência da Vida. Outros preferem entender como o universo foi construído. Só estudei Física, então não sei como minha mente seria se tivesse estudado outro assunto
Esse diálogo entre dois cientistas mostra como existem dúvidas e incertezas dentro da ciência. Esta hipótese da Matéria Escura é uma boa aproximação com o mundo espiritual que sabemos da sua existência, temos dados que provam cognitivamente essa realidade, mas que a ciência não tem aproximação. Eu poderia dizer que o mundo espiritual coexiste dentro da Matéria Escura, que ambas permeiam todo o universo material sem com eles oferecerem interação direta. Essas reflexões ainda vão se estender ao longo do tempo.