O site consciencial trouxe um texto sobre espíritos negros e índios que considero interessante para nosso conhecimento e reflexão sobre o mundo espiritual.
ESPÍRITOS NEGROS (E ÍNDIOS) IMPORTAM
Em tempos do (bem-vindo) repúdio mundial ao racismo, talvez seja oportuno lembrar que existe e já existiu pior, forte “racismo espiritual” discriminatório de entidades astrais, e infelizmente, é necessário que se diga, no meio espírita. E ele está intrinsecamente ligado ao surgimento da única religião brasileira, a umbanda.
A abolição em 1888 foi da escravatura, não do racismo. Ignorando que a construção deste país se deu basicamente pelo braço escravo do africano que lhe gerou as riquezas, a classe média branca continuou olhando com prevenção nossos irmãos negros. E esse desprezo se estendeu, é forçoso que se diga, até às sessões mediúnicas, onde espíritos que se apresentassem identificados e falando como os velhos pais pretos encontravam, e – incrivelmente, em pleno terceiro milênio, ainda encontram! – a interdição de se expressarem como tais. Alegam que “os espíritos não precisam usar essa linguagem”, num flagrante desrespeito às individualidades e à liberdade de expressão, numa arrogância e ausência de caridade que em nada refletem o espírito cristão e tampouco a verdadeira Doutrina Espírita. Engraçado que, quando um doutor Fritz ou análogo se apresenta com forte sotaque europeu numa incorporação, ninguém acha ruim...
Pois foi a uma sessão espírita, no longínquo ano de 1908, na Federação Espírita de Niterói, que um jovem que andava apresentando estranhos sintomas foi encaminhado, na tentativa de curá-lo (de uma incomum mediunidade). Convidado à mesa da reunião mediúnica, o jovem Zélio em seguida incorpora uma entidade e, ao mesmo tempo, diversos médiuns recebem vários espíritos de índios e pretos velhos – todos, é claro, falando como tais ( como o espírito de um ex-francês poderia falar com sotaque parisiense). Grande confusão e ostensivo repúdio aos comunicantes. Índios e pretos invadindo uma mesa mediúnica de brancos! Foram de imediato convidados a se retirar. Evangelicamente.
A isso, a entidade do Zélio indagou por que motivo eram assim impedidos de se expressar os visitantes, sem mesmo analisarem o que lhes poderiam dizer... desculpas esfarrapadas se seguiram. A entidade do Zélio as contestava serenamente. A certa altura, perguntaram-lhe o nome: Caboclo das Sete Encruzilhadas, informou. Mas um médium vidente da mesa contestou: “Por que o irmão alega ser um indígena, quando o estou enxergando com vestes sacerdotais católicas?” Deve ser, respondeu o espírito, porque em anterior existência fui padre, Frei Gabriel Malagrida, queimado na fogueira pela Inquisição em 1761. E depois disso, encarnei como um cacique brasileiro. Grande alvoroço na mesa mediúnica.
E aí segue-se o momento emblemático, a encruzilhada espiritual prevista pelo Alto para os destinos desta Terra do Cruzeiro. A nobre entidade declara que, visto os espíritos de índios e pretos serem impedidos de se manifestar livremente nas mesas dos brancos, recebera ordem do Alto e viria iniciar um novo culto, uma nova religião, onde todos eles poderiam livremente se manifestar, e que o faria no dia seguinte, na casa de seu médium – Zélio Fernandino de Moraes.
Fora preciso tirar a “prova dos nove”, comprovar ao vivo que o coração do brasileiro espírita ainda não estava aberto para acolher os espíritos de seus irmãos das duas raças formadoras de seu povo, índia e negra, nem mesmo no intercâmbio espiritual. Nesse dia, aquela sessão mediúnica de Niterói simbolizou de forma marcante o preconceito vigente na comunidade espírita, reflexo do que sobrenadava na sociedade brasileira. (Note-se que a atitude era e é de espíritas, jamais da Doutrina!)
No dia seguinte, o Caboclo das Sete Encruzilhadas incorporou e declarou textualmente: “VIM PARA FUNDAR UMA NOVA RELIGIÃO, BASEADA NO EVANGELHO DE JESUS E QUE TERÁ COMO SEU MAIOR MENTOR O CRISTO”. E nela, todos, índios e pretos, poderiam manifestar-se livremente, já que na mesa dos brancos não lhes era permitido... Assinalou o nome de UMBANDA para o novo culto, o qual, disse, seria “a manifestação do espírito para a caridade”. E na sequência, já saiu curando um paralítico e vários outros doentes que estavam na assistência.
Era o dia 16 de novembro de 1908.
Nascia assim, aparentemente em contrapartida ao racismo espiritual das mesas mediúnicas, mas na verdade com um propósito muitíssimo mais alto e que ainda não foi totalmente visualizado nem pela maioria dos seus adeptos, uma vertente ou ramo do Conhecimento Único, da Sabedoria Eterna, que no decorrer do terceiro milênio há de ser incorporado à religião universal que abarcará o planeta após as grandes transformações que estão no momento começando. E seus veículos terão sido, na Terra da Cruz de Estrelas, os dois povos que a enriqueceram com seu legado espiritual: índios e negros.
Mariléa de Castro (Vide o capítulo “Umbanda” da obra “A Missão do Espiritismo”, de Ramatís (Ed. do Conhecimento).
Observamos como deficiências morais como o preconceito racial pode se encontrar entre pessoas que participam de uma doutrina tão próxima dos ideais cristãos como é o Espiritismo. No entanto, a espiritualidade superior está alerta e sempre está concertando as falhas que nossa obscura humanidade ainda apresenta. Vamos aguardar agora a religião mais próxima do universal, que favoreça família universal e o Reino de Deus. Talvez o nosso pensamento de edificar a Escola-Igreja Trabalho e Amor (EITA) esteja dentro dessas expectativas.