Continuando a leitura interpretativa do livro ˜Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho”.
Esclarecendo
Todos os estudiosos que percorreram o Brasil, estudando alguns detalhes dos seus oito milhões e meio de quilômetros quadrados, se apaixonaram pela riqueza das suas possibilidades infinitas. Eminentes geólogos definiram-lhe os tesouros do solo e naturalistas ilustres lhe classificaram, a fauna e a flora, maravilhados ante as suas prodigiosas surpresas. Nas paisagens suntuosas e inéditas, onde o calor suave dos trópicos alimenta e perfuma todas as coisas, há sempre um traço de beleza e de originalidade empolgando o espírito do viajor sedento de emoções. (Esta riqueza do Brasil não está introjetada na maioria dos seus habitantes, que se movem em busca da sobrevivência, sem condições de eleger pessoas comprometidas com um trabalho honesto. Sempre observamos o poder financeiro deturpar o sentido da democracia).
Afãs, se numerosos pensadores e artistas notáveis lhe traduziram a grandiosidade de mundo novo, contando "lá fora" as inesgotáveis reservas do gigante da América, todo esse espírito analítico não passou da esfera superficial das apreciações, porque não viram o Brasil espiritual, o Brasil evangélico, em cujas estradas, cheias de esperança, luta, sonha e trabalha o povo fraternal e generoso, cuja alma é a "flor amorosa de três raças tristes", na expressão harmoniosa de um dos seus poetas mais eminentes. (Podemos observar este Brasil espiritual, religioso, mas tudo muito superficial. A maioria dos que conduzem a Bíblia não possui uma melhor compreensão do que está sendo ensinado, e quando obtém essa compreensão, não está disposta a colocar em prática).
As reservas brasileiras não se circunscrevem ao mundo de aço do progresso material, que impressionou fortemente o espírito de Humboldt, mas se estendem, infinitamente, ao mundo de ouro dos corações, onde o país escreverá a sua epopéia de realizações morais, em favor do mundo. (Esperemos que chegue em nossa compreensão a importância da prática de reforma íntima, que procuremos realiza-la nos aproximando da família universal, da construção do Reino de Deus).
Jesus transplantou da Palestina para a região do Cruzeiro a árvore magnânima do seu Evangelho, a fim de que os seus rebentos delicados florescessem de novo, frutificando em obras de amor para todas as criaturas. Ao cepticismo da época soará estranhamente uma afirmativa desta natureza. O Evangelho? Não seria mera ficção de pensadores do Cristianismo o repositório de suas lições? Não foi apenas um cântico de esperança do povo hebreu, que a Igreja Católica adaptou para garantir a coroa na cabeça dos príncipes terrestres? Não será́ uma palavra vazia, sem significação objetiva na atualidade do globo, quando todos os valores espirituais parecem descer ao sepulcro caiado" da transição e da decadência? (Sim, esta é a disposição em que nos encontramos hoje, início do século XXI. Muito trabalho deve ser realizado por aqueles que já tem uma consciência mais próxima do ideal cristão).
Mas, a realidade é que, não obstante todas as surpresas das ideologias modernas, a lição do Cristo aí está no planeta, aguardando a compreensão geral do seu sentido profundo. Sobre ela, levantaram-se filosofias complicadas e as mais extravagantes teorias salvacionistas. Em seu favor, muitos milhares de livros foram editados e algumas guerras ensanguentaram o roteiro dos povos. Entretanto, a sublime exemplificação do Divino Mestre, na sua expressão pura e simples, só́ pede a humildade e o amor da criatura, para ser devidamente compreendida. Do seu entendimento decorre aquele "Reino de Deus" em cada coração, de que falava o Senhor nas suas meigas pregações do Tiberíades — reino de amor fraternal, cuja luz é o único elemento capaz de salvar o mundo, que se encaminha para os desfiladeiros da destruição. (As diversas ideologias modernas que tanto sangue deixou rolar nos diversos campos da Terra, como as ideologias comunistas, socialista, que dizendo buscar a justiça e a uniformidade de todos termina por construir uma ditadura perversa, continuam sendo idealizadas como salvacionistas e conduzindo almas ingênuas, como eu fui um dia, seguidor, sem a conscientização que tenho hoje).
E os verdadeiros aprendizes, os crentes sinceros no poder e na misericórdia do Senhor, esperam, com os seus labores obscuros, o advento da cristianização da humanidade, quando os homens, livres de todos os símbolos sectários de separabilidade, puderem entender, integralmente, as maravilhas ocultas da obra cristã. Nas suas dolorosas provações dos tempos modernos, quando quase todos os valores morais sofrem o insulto da mais ampla subversão, esses espíritos heróicos e humildes sabem, na sua esperança e na sua crença, que, se Deus permite a prática de tantos absurdos, por parte dos poderosos da Terra, que se embriagam com o vinho da autoridade e da ambição, é que todas essas lutas nada mais representam do que experiências penosas, por abreviar a compreensão geral das leis divinas no porvir. E, serenos na sua resignação e na sua sinceridade, conhecem, ainda, que as lições do Evangelho não são símbolos mortos e aguardam, cheios de confiança no mundo espiritual, a alvorada luminosa do renascimento humano. (Este é o caminho para nossa preparação cristã deixando o Brasil capacitado para cumprir sua missão. Considerar o Evangelho como “Manual de Instruções” para alcançar essa capacitação).
Nessa abençoada tarefa de espiritualização, o Brasil caminha na vanguarda. O material a empregar nesse serviço não vem das fontes de produção originariamente terrena e sim do plano invisível, onde se elaboram todos os ascendentes construtores da Pátria do Evangelho. (Devemos acreditar nas fontes do ilustre espírito Humberto de Campos quando diz que estamos na vanguarda dessa tarefa, pois constatamos tanta iniquidade praticada pelos homens públicos mais proeminentes, que nos deixa o sentimento de incapacidade espiritual, do ponto de vista coletivo).
Estas páginas modestas constituem, pois, uma contribuição humilde à elucidação da história da civilização brasileira em sua marcha através dos tempos. Têm por único objetivo provar a excelência da missão evangélica do Brasil no concerto dos povos e que, acima de tudo, todas as suas realizações e todos os seus feitos, forros dos miseráveis troféus das glórias sanguinolentas, tiveram suas origens profundas no plano espiritual, de onde Jesus, pelas mãos carinhosas de Ismael, acompanha desveladamente a evolução da pátria extraordinária, em cujos céus fulguram as estrelas da cruz. São elas, ainda, um grito de fé e de esperança aos que estacionam no meio do caminho. Ditadas pela voz de quem já atravessou as estradas poeirentas e tristes da Morte, dirigem-se aos meus companheiros e irmãos da mesma comunidade e da mesma família, exclamando: — Brasileiros, ensarilhemos, para sempre, as armas homicidas das revoluções!... Consideremos o valor espiritual do nosso grande destino.' Engrandeçamos a pátria no cumprimento do dever pela ordem, e traduzamos a nossa dedicação mediante o trabalho honesto pela sua grandeza! Consideremos, acima de tudo, que todas as suas realizações hão de merecer a luminosa sanção de Jesus, antes de se fixarem nos bastidores do poder transitório e precário dos homens! Nos dias de provação, como nas horas de venturas, estejamos irmanados numa doce aliança de fraternidade e paz indestrutível, dentro da qual deveremos esperar as claridades do futuro. Não nos compete estacionar, em nenhuma circunstância, e sim marchar, sempre, com a educação e com a fé realizadora, ao encontro do Brasil, na sua admirável espiritualidade e na sua grandeza imperecível! (Excelente exortação. Este é o caminho que devemos trilhar, seguindo a bandeira hasteada por Ismael, designado por Jesus para ficar ao nosso lado no Brasil, para o cumprimento de nossa missão).
HUMBERTO DE CAMPOS. (Espírito)