Meu Diário
11/09/2020 00h10
O BRASIL TEM UMA MISSÃO – HILEL ABRE A POLÊMICA (5)

            Continuemos o estudo interpretativo da obra de Humberto de Campos / Chico Xavier... “Brasil coração do mundo, pátria do Evangelho”, continuando no capítulo “O coração do mundo”, onde o Mestre estava descendo das esferas superiores.

Embalde seus olhos compassivos procuraram o ninho doce do seu Evangelho; em vão procurou o Senhor os remanescentes da obra de um de seus últimos enviados à face do orbe terrestre. No coração da Umbria haviam cessado os cânticos de amor e de fraternidade cristã. De Francisco de Assis só haviam ficado as tradições de carinho e de bondade; os pecados do mundo, como novos lobos de Gúbio, haviam descido outra vez das selvas misteriosas das iniqüidades humanas, roubando às criaturas a paz e aniquilando-lhes a vida. 

O Mestre procura ver onde se encontra praticado o seu Evangelho na face da Terra. Até mesmo a obra de Francisco de Assis, enviado para restaurar a igreja cristã, Ele não encontra. Ver apenas a disseminação dos pecados oriundos da natureza humana, deixando as pessoas sem paz e sem vida de qualidade.

            — Helil — disse a voz suave e meiga do Mestre a um dos seus mensageiros, encarregado dos problemas sociológicos da Terra — meu coração se enche de profunda amargura, vendo a incompreensão dos homens, no que se refere às lições do meu Evangelho. Por toda parte é a luta fratricida, como polvo de infinitos tentáculos, a destruir todas as esperanças; recomendei-lhes que se amassem como irmãos, e vejo-os em movimentos impetuosos, aniquilando-se uns aos outros como Cains desvairados. 

            Rabino Hillel, o ancião (c. 60 a.C. - c. 9) é o nome de um conhecido líder religioso judeu, que viveu durante o reinado de Herodes, o Grande na época do Segundo Templo. Estudioso respeitado em seu tempo, Hillel é associado à diversos ensinamentos da Mishná e do Talmud, tendo fundado uma escola (Beit Hillel) para ensino de mestres no judaísmo.

            Vejamos o que diz Celso Martins, na revista Reformador (FEB) Fevereiro 1981: 1. A palavra de Allan Kardec

Quando estudamos com afinco a Doutrina dos Espíritos, encontramos em O Evangelho segundo o Espiritismo, nas Notícias Históricas, inseridas na Introdução da mencionada obra básica, a informação de Allan Kardec de que, entre as seitas judaicas mais influentes, ao tempo de Jesus, sobressaía-se a dos fariseus, cuja origem remonta aos anos 180 ou 200 a.C. Apesar de duramente perseguidos, conseguiram manter-se no cenário religioso até o ano 70 da Era Cristã, quando desapareceram com a dispersão do povo judeu no mundo.

            Informa ainda o insígne Codificador terem os fariseus exercido papel ativo nas controvérsias religiosas por observarem rigorosamente as práticas exteriores das cerimônias do culto. Na verdade, muitos deles, debaixo das aparências de meticulosa devoção, escondiam costumes dissolutos, excessivo desejo de dominação (tanto que eram poderosos em Jerusalém); e o povo, que não lhes conhecia o lado negativo das intenções, os tinha na conta de criaturas virtuosas. Jesus, no entanto, que lhes devassava os mais íntimos pensamentos, sabendo de sua hipocrisia, frequentemente os desmascarava em público, nascendo daí então a ligação dos referidos fariseus com os demais companheiros do Sinédrio, para levantar o povo contra o Mestre, e fazê-lo sacrificar.

            Tudo isso aprendemos lendo a obra de Kardec. Pois bem, é ainda aí que aparece o nome de Hilel. Aparece como um chefe dos fariseus, na qualidade de um doutor judeu, nascido na Babilônia, fundador de uma célebre escola, onde - ainda consoante a informação de Kardec - se ensinava que a fé era dada pelas Escrituras.

2. A referência de Humberto de Campos

Posteriormente, o estudante das obras espíritas vai encontrar nova referência a Hilel (o mesmo Helil) na obra mediúnica Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, do Espírito de Humberto de Campos, através de psicografia de Francisco Cândido Xavier, livro que apareceu, em 1ª edição, em 1938. Esta nova citação aparece no capítulo inicial. O Cordeiro de Deus realizava ‘uma de suas visitas periódicas à Terra, a fim de observar os progressos de sua doutrina e de seus exemplos no coração dos homens.’ Uma corte maravilhosa de Espíritos Superiores o acompanhava nessa peregrinação, clarificando os caminhos cheios de trevas; Jesus contemplou então o planeta terreno que ‘lhe apresentava ainda aquelas mesmas veredas escuras, cheias da lama da impenitência e do orgulho das criaturas humanas, e repletas dos espinhos da ingratidão e do egoísmo. Embalde seus olhos compassivos procuraram o ninho doce do seu Evangelho; em vão procurou o Senhor os remanescentes da obra de um dos seus últimos enviados à face do orbe terrestre. No coração da Úmbria havia cessado os cânticos de amor e de fraternidade cristã. De Francisco de Assis só haviam ficado as tradições de carinho e de bondade; os pecados do mundo, como novos lobos de Gúbio, haviam descido outra vez das selvas misteriosas das iniqüidades humanas, roubando às criaturas a paz e aniquilando-lhes a vida.’

 Nesta ocasião surge um emissário solícito que tentou alinhavar alguma desculpa, à guisa de explicação, como que desejando desfazer a penosa impressão do Mestre acerca das guerras religiosas que semeavam luto e dor sobre o mundo de então. Este emissário solícito que acompanhava Jesus - era Helil!

Em seguida, a caravana celestial procurou concentrar sua atenção em continentes ainda desconhecidos onde Espíritos jovens e simples aguardavam a semente de uma nova vida. Vieram, pois, visitar, além dos mares, as terras que, um pouco mais tarde, seriam consideradas o continente americano. E se detiveram no Brasil. Mãos erguidas para o alto, como que invocando as bênçãos de Deus para todos os elementos daquele solo extraordinário e opulento. Jesus, suave e mansamente assim se expressa:

            - “Para esta terra maravilhosa e bendita será transplantada a árvore do meu Evangelho de piedade e de amor. No seu solo dadivoso e fertilíssimo, todos os povos da Terra aprenderão a lei da fraternidade universal. Sob estes céus serão entoados os hosanas mais ternos à misericórdia do Pai Celestial. (...) Aqui, Helil, sob a luz misericordiosa das estrelas da cruz, ficará localizado o coração do mundo!”

            Nesta mesma ocasião, o Mestre designava para Helil uma nova vida corpórea ‘no seio do povo mais nobre e mais trabalhador do Ocidente’, onde seria instalada ‘uma tenda de trabalho para a nação mais humilde da Europa, glorificando os seus esforços na oficina de Deus”.

Com efeito, Hilel (o mesmo Helil) reencarnava em Portugal em 1394, na personalidade do infante Dom Henrique (ver Brasil, Mais Além!, de Duílio Lena Bérni, edição da FEB). Graças a seu denodado esforço, instituiu-se a famosa Escola de Sagres, concentrando-se aí todos os conhecimentos aperfeiçoadores da arte de navegar, atraindo sábios a geógrafos da época, bem como navegantes de nomeada, dando aos portugueses condições de se lançarem aos mares nunca dantes navegados (como cantou Camões) e de descobrirem novas paisagens na costa ocidental da África, o caminho marítimo para as índias e sobretudo o nosso Brasil, a 1500, por Pedro Álvares Cabral. Lançam-se assim os pródromos de uma nação, em cujo seio promissor os elementos indígenas, africano e português - as três raças tristes, na opinião de Ronald de Carvalho - haveriam de construir os fundamentos de uma nacionalidade para a germinação sublime da semente sacrossanta dos ensinamentos eternos de Jesus!

Ao lado dessas considerações, surge um estudo crítico da obra de Humberto de Campos / Chico Xavier, por Leonardo Marmo Moreira, que é interessante colocarmos aqui para entrar em nossas reflexões.

É estranho que Jesus pareça amargurado, desanimado. Os Mentores espirituais de André Luiz, por exemplo, são sempre cuidadosos ao tratar dos mais complexos problemas com pensamento positivo, buscando não criar impressões negativas nos interlocutores e nos eventuais leitores. Já é tempo dos homens se compenetrarem de que não há nenhum ser humano em condições de radiografar a alma do Divino Amigo para afirmar como Ele se sente. Entretanto, alguns podem comparar a expressão de amargura de Jesus com as palavras do Espírito de Verdade no item 5 do capítulo 6 (“O Cristo Consolador”) de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” [Kardec, 1973]: “Sinto-me por demais tomado de compaixão pelas vossas misérias, pela vossa fraqueza imensa, para deixar de estender mão socorredora aos infelizes transviados que, vendo o céu, caem nos abismos do erro.” 


Publicado por Sióstio de Lapa em 11/09/2020 às 00h10


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr