Há 2.000 anos Tu andaste entre nós, humilde e de tanta graça. Trazias uma missão dolorosa cuja compreensão Te fez verter suores de sangue. Pelo veículo carnal que administravas, tinhas completo domínio sobre o Behemoth, jamais vimos a expressão dele em Teu comportamento, a não ser quando fizestes a maior confusão com os mercadores do Templo, se aquilo foi verdade.
Tuas lições ecoaram por todos os séculos, passados e vindouros. Nós, tão dependentes do Behemoth, citado na Bíblia, temos em Tuas lições um verdadeiro manual de como domesticar essa fera, para que ela atue apenas nos atributos pelos quais Deus a criou: facilitar e administrar a nossa sobrevivência automática, mas sem levar prejuízos ao próximo que tem idênticas necessidades como nós.
O Mestre se coloca como exemplo, com suas lições teóricas e com seu comportamento prático. Um modelo ao qual devemos seguir como Caminho, Verdade e Vida. Tenho essa convicção de fazer a vontade de Deus seguindo as lições do Mestre Jesus. Mas, confesso, parece que ainda não estou preparado para adentrar essa sala de aula, estudar e procurar imitar, pois não consigo disciplinar adequadamente esse monstro que habita em mim. Como poderei entrar nessa sala de aula tão maravilhosamente divina, se trago em meu veículo corporal as marcas tão evidentes do Behemoth, como o sobrepeso perto da obesidade?
Parece que tenho de passar por uma fase de desintoxicação dos efeitos mentais dessa fera, ficar 40 dias no deserto como uma prova de controle do meu espírito sobre as tentações ilícitas do Behemoth, assim como o Cristo antes de iniciar sua missão, passou 40 dias no deserto sofrendo as piores tentações do inimigo de nossas almas.
Há muito tempo eu tento ingressar nessa sala de aula, mas não consigo. Aos 33 anos, imaginei: agora irei pegar o bastão do Mestre que foi morto aos 33 anos de idade. Como naquela corrida de revezamento, eu imaginava pegar o bastão das mãos do Cristo e seguir adiante com a tarefa que ele tinha. Ledo engano! Facilmente me esqueci desse propósito. Ao completar 60 anos, observei que Jesus ao completar 30 anos iniciou sua missão. Então imaginei... já que sou mais fraco e menos competente, o Pai está me dando o dobro da idade do Cristo e daí em diante desenvolverei uma missão própria para mim, mas muito parecida com a do Cristo, e conduzirei o bastão durante 6 anos, o dobro do trabalho missionário do Cristo.
Mais uma tristeza para a minha alma. Agora, faltando 4 dias para completar os 68 anos, faço uma retrospectiva e me vejo ainda sem o devido fardamento para adentrar a sala de aula do Mestre. Mas o Pai, sempre me aparece com nova chance de redenção. Coloca em minhas mãos um livro com o título “Imitação de Cristo”, escrito pelo padre Tomás de Kempis, em um convento para monges. Nele fala o Cristo, o homem de todos os tempos e lê-se o Evangelho que será pregado até a realização do Reino de Deus.
Será que é isto que o Pai quer de mim desta vez? Me preparar mais uma vez para adentrar a sala de aula do Cristo pegar o seu bastão e seguir na caminhada até o fim dos meus dias? E como será agora esses novos prazos?
Então, chega a intuição. Eu deverei me preparar para pegar o bastão, a partir dos meus 68 anos, lendo e praticando este livro que é uma recapitulação prática do Evangelho. Com o bastão nas mãos, terei o tempo de vida dado a João Evangelista, 94 anos, produzindo todo esse tempo da mesma forma que ele. João mais tarde voltaria à Terra assumindo o corpo biológico de Francisco de Assis, o qual, por milagre, adquiri o seu próprio nome acrescido da partícula “das Chagas”, como prenúncio do sofrimento que eu iria sofrer.