Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
21/10/2020 00h19
MINHA AMADA

            Este é o segundo texto que escrevi naquele caderno que já falei antes e que registrava meus sentimentos depois que fui de casa expulso pela minha segunda esposa...

            09-09-96 (21h30)

            Minha amada!

            Estou aqui sozinho, no meio do campo, dentro de uma barraca recém adquirida. Como eu queria que você estivesse aqui, mesmo se não fizesse sexo. Seria tão bom sentir seu calor, seus carinhos, sua voz... me aconchegar junto de você e me estirar no chão, como fizemos recentemente em São Paulo.

            Eu sinto que ao longo do tempo que convivemos, meu amor aumentou, e acho que continua a aumentar progressivamente. Tanto é verdade que aqui estou, sozinho, ouvindo a chuva cair no teto da barraca e não tenho nenhum interesse em sair e procurar alguém para me envolver sexualmente. Isso é uma prova mais do que suficiente para mostrar que o amor que sinto por você é maior que qualquer impulso sexual que eu possua. 

            Mas, você não pode jamais esgrimir esse amor e tentar inibir esses impulsos, pois eles são fortes e estão enraizados no fundo da nossa cabeça e podem causar graves estragos no nosso amor. E não quero que jamais isso aconteça. Por isso respeito tanto a liberdade que eles exigem, pois, sem eles sentirem, já estão tão limitados!

            Lembro que num passado recente eles tinham uma potencia incrível e não me deixavam parado um só instante. Hoje me surpreendo passar dias, semanas, meses até, curtindo ficar só ao teu lado, ouvindo discos, vendo filmes, fazendo feira, passeando, chafurdando na cama... e às vezes sexo!

            Como gostaria agora de lhe beijar. Vou deitar no meu chão. Tchau!

            Lendo agora esses textos, 24 anos depois de escritos, quando eu tinha 44 anos, em plena efervescência dos meus hormônios sexuais, vejo o quanto eu prezava o meu relacionamento conjugal, o quanto tinha prazer com ele em todas as instâncias comportamentais. O fato dessas forças hormonais me levarem a desenvolver afetos fora do casamento, que chegavam ao relacionamento sexual e até a geração de filha, como foi o caso e daí, por eu ter informado, ter sido expulso de casa, não eliminavam a qualidade do meu afeto conjugal. Pode ser que afetasse o quantitativo de tempo que eu passasse com minha esposa, já que eu estaria envolvido com outra pessoa.

            Essa conjuntura é interessante, pois minha parceira extraconjugal sabia do meu casamento e da minha intenção de não acabar com minha esposa para ficar com qualquer outra pessoa. Mesmo assim minha parceira extraconjugal tinha afeto suficiente para ficar dentro desse relacionamento, e até gerar um filho nesse contexto, mesmo que não fosse um filho planejado, mas que foi devidamente aceito e registrado. 

            Será que ela fez o correto tendo fez o que fez? Hoje, com o aval desses 24 anos passados, a minha consciência diz que não, que ela fez errado, que poderíamos viver até hoje com o mesmo clima de harmonia e felicidade, se ela não desse tanto valor a esses encontros que todos sabiam ser fortuitos e não permanentes.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 21/10/2020 às 00h19