Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
10/11/2020 00h08
OPINIÃO DO BISPO ROBERT BARRON

            Achei interessante puxar aqui para nossa reflexão o texto publicado em 13-08-2018, na revista IHU ON-LINE, do bispo auxiliar de Los Angeles, Robert Barron, fundador do blog Word on Fire. Vejamos:

Quando eu estava na escola, o demônio nos foi apresentado como um mito, um artifício literário, uma maneira simbólica de sinalizar a presença do mal no mundo. Admito internalizar essa visão e, em grande parte, perder meu senso sobre o diabo como uma pessoa espiritual real. O que abalou meu agnosticismo em relação ao maligno foi o escândalo de abuso sexual clerical dos anos noventa e os primeiros anos do século XXI.

Digo isso porque aquela terrível crise pareceu muito pensada, muito bem coordenada, para ser simplesmente o resultado do acaso ou da perversa escolha humana. O diabo é caracterizado como "o inimigo da raça humana" e particularmente o inimigo da Igreja. Desafio qualquer um a propor uma estratégia mais devastadora para atacar o corpo místico de Cristo do que o abuso de crianças e jovens por padres. Esse pecado teve inúmeras vítimas diretas, é claro, mas também enfraqueceu financeiramente a Igreja, minou as vocações, levou as pessoas a perder a confiança no cristianismo, comprometeu dramaticamente as tentativas de evangelização, etc., etc. Foi uma obra-prima diabólica.

            O bispo Barron um pouco de sua evolução consciencial e muito da sua perspectiva de entender o transcendental, de Deus e do Diabo. Mostra a estratégia de Deus de colocar no mundo uma instituição inspirada nos ensinamentos do Cristo, a Igreja Católica, e todo esforço que o Diabo tem realizado, desde a Campanha das Cruzadas, Santa Inquisição, até o abuso de crianças.

Em algum momento no início do século XXI, eu estava participando de uma conferência e me vi vagando mais ou menos sozinho na área onde grupos e organizações tinham seus estandes. Cheguei a uma das mesas e uma mulher disse: “Você é o pe. Barron, não é? ”Respondi afirmativamente, e ela continuou: “Você está fazendo um bom trabalho para a Igreja, mas isso significa que o diabo quer impedi-lo. E você sabe, ele é muito mais esperto do que você e muito mais poderoso”. Eu acho que acabei resmungando qualquer coisa para ela naquele momento, mas ela estava certa, e eu sabia disso. Tudo isso voltou para mim depois da catástrofe do arcebispo McCarrick. São Paulo nos advertiu que nós lutamos, não contra carne e sangue, mas contra “poderes e principados”. Consequentemente, a principal obra da Igreja neste momento devastador deveria ser a oração, a invocação consciente e insistente de Cristo e dos santos.

Quando se pretende fazer um trabalho para Deus, dentro ou fora de qualquer igreja, o Diabo logo nos reconhece como adversário, pois nos mostramos como amigo do seu inimigo. Certamente ele irá nos dar uma pequena demonstração do seu grande poder sobre nós, simples mortais, criados simples e ignorantes, num grande esforço para adquirir sabedoria. Sofreremos pressões de todos os lados, principalmente das pessoas mais próximas afetivamente de nós, e que não têm tão boa sintonia com Deus ou que são atacadas onde mostram mais fragilidades. Temos, pelo menos, de reconhecer que estamos envolvidos numa luta espiritual, que não lutamos contra carne e sangue que envolve os prazeres e temores do corpo, e sim contra poderes e principados que não querem nossa evolução para perto do Reino de Deus. 

Posso até ouvir as pessoas dizendo: “Então o bispo Barron está culpando o demônio por tudo”. Não mesmo. O diabo trabalha através da tentação, sugestão e insinuação - e ele não realiza nada sem a nossa cooperação. Se você quiser ver este princípio ilustrado, procure a imagem do Anticristo de Luca Signorelli na Catedral de Orvieto.

Este é um grande insight de nossa condição humana dentro desta batalha espiritual. Deus e o Diabo não estão se digladiando diretamente e sim através de nós. Deus atua através da intuição, da verdade, do amor; o Diabo atua através da tentação, da sugestão, da insinuação. Com quem nosso psiquismo irá sintonizar, aí se encontra o nosso Pai, nosso Mestre, nossos irmãos... se Deus ou o Diabo, se o Cristo ou o anticristo, se as ovelhas ou os bodes. 

Como saber se estamos ao lado de Deus como desejamos? Basta procurar os sinais do Amor, que é a essência de Deus dentro de nós: harmonia, tolerância, paciência, perdão, solidariedade, trabalho, justiça, verdade, liberdade... tudo que fugir a esses sentimentos e virtudes mostra que o Amor está bloqueado de alguma forma e o Diabo pode se insinuar na nossa mente como aconteceu com Eva no Paraíso e continua acontecendo conosco a cada instante. Por isso o nosso Mestre Jesus advertiu: orai e vigiai a cada momento, pois a cada momento sofremos tentações, sugestões e insinuações.    

Publicado por Sióstio de Lapa
em 10/11/2020 às 00h08