Interessante procurar saber como o mal pode se desenvolver e ameaçar todos os países do mundo. O que se passou na Alemanha Nazista sob o comando de Hitler e seus asseclas, abordado pela Netflix em uma série sob o título “Hitler’s circle of evil” serve como um bom campo para nossas reflexões.
XXIV
Em 1928, o inexperiente Partido Nazista está se recuperando do desastre eleitoral e lutando por legitimidade. Qualquer observador consciente daria o nazismo como perdido. Mas eventos globais vão lhe dar uma tábua de salvação. É uma oportunidade de acessar o poder, o que não pareceria nem nos sonhos mais loucos.
O propagandista Joseph Goebbels dedica-se a fazer campanhas sem parar. Enquanto o ex-herói de guerra Hermann Göring entra no parlamento. E o aspirante a soldado e burocrata Heinrich Himmler recruta um novo aliado perigoso ao círculo íntimo. Ele cria lealdade ao dar uma segunda chance às pessoas que tiveram um colapso na carreira. Na luta por poder político e pessoal, eles vão se voltar uns contra os outros, e um deles será destruído.
Acontece um dos atos mais infames de violência política da história. Esta é a história dos capangas de Hitler, da inveja, da luta pelo poder e dos bajuladores que criarão um monstro e alimentarão os horrores brutais do Terceiro Reich.
Maio de 1928. As eleições dão aos nazistas a chance de conquistar o eleitorado alemão. Combinando a organização obsessiva de Himmler, Göring galanteando o sistema e a incessante campanha de Goebbels, o círculo íntimo tem muita esperança de sucesso político. Mas não acontece.
A eleição de 1928 para o Partido Nazista foi um total desastre. As pessoas não acreditaram nas políticas de Hitler. Qualquer observador consciente daria o nazismo como perdido.
Apesar de apostar tudo em uma campanha profissional, a mensagem de colapso econômico é ignorada. Os bons tempos dominam a Alemanha. Após anos de crise financeira, o país prospera graças aos empréstimos americanos. As coisas nunca estiveram melhores.
Em 1928, os alemães se sentiam confortáveis e não precisavam ser tirados da zona de conforto por Adolf Hitler. Partidos nos extremos do espectro político precisam de uma crise para chegar ao poder.
O círculo íntimo precisa de um milagre. Então, os Estados Unidos dão a esse comprometido grupo a calamidade nacional que previram.
Em 29 de outubro de 1929 fica conhecido como a “Terça-Feira Negra”. Ocorre a quebra da Bolsa de Valores em Wall Street.
A Alemanha conseguiu prosperar nos anos 20 com empréstimos americanos. A exportação alemã dependia de uma economia mundial em expansão. A quebra de Wall Street paralisou a economia internacional.
Da noite para o dia, milhões de dólares em empréstimos bancários são cobrados. A Alemanha e sua economia entram em queda livre.
A quebra da Bolsa e a Grande Depressão são um grande desastre para a Alemanha, que não tem estabilidade nem estrutura para suportar essa grande quebra. É uma grande oportunidade para os nazistas. Se antes pareciam irrelevantes, agora pareciam profetas. Nesse clima caótico, parecia que, finalmente, o círculo íntimo teria chance ao poder. Quando o governo de coalizão cai, outra eleição é convocada para 1930. Para dois jovens maiorais do partido é uma chance para brilhar.
O propagandista e orador público Joseph Goebbels atira-se em campanha política. É uma grande oportunidade para ele, que agora é chefe da propaganda nazista. Agora virou um palco nacional no qual ele pode... não desfilar, mas pode mancar nele.
E o rapaz dos bastidores e planejador meticuloso Heinrich Himmler empresta suas habilidades organizacionais. Eles querem se tornar visíveis, estar em toda parte. A prioridade principal era garantir um representante em cada cidade pequena. Juntos eles fazem campanha para o partido ter exposição máxima. Um Blitzkrieg político. Toda cervejaria, estalagem, taberna, restaurante, toda prefeitura de vila e cidade, toda cabaninha terá um encontro nazista em algum momento da eleição.
Eles usam métodos inovadores para propagar a mensagem às massas. Eles usavam peruas e carros com alto-falante, distribuíam jornais e panfletos. Acima de tudo, sua energia pura e paixão são incessantes. Nas últimas quatro semanas de campanha, houve 34 mil encontros do Partido Nazista. Naquela época de mídia pré-massa, isso mostrava a energia usada na propagação da mensagem. E essa tática provará ser devastadoramente eficaz.
Em 14 de setembro de 1930, sai o resultado da eleição. O número de votos para os nazistas foi absolutamente enorme. Quatro vezes maior do que foi 24 meses antes. Eles receberam 6,5 milhões de votos, e isso lhes dá 107 assentos no Reichstag. Antes eram 12. Foi um terremoto político.
Para Goebbels, é um triunfo inacreditável, ficou chocado. Ele esperava se saírem bem, mas não tanto assim. Esse é o momento em que o Partido Nazista se tornou uma força nacional, e, claramente, uma força a ser levada a sério. Eles ainda não estão no poder, e têm um longo caminho pela frente, mas estão no mapa e, como segundo maior partido no parlamento, estão sendo notados.
Para os protagonistas, o resultado da eleição muda tudo.
Podemos verificar que toda a ação política de Hitler e das pessoas ao seu redor tem uma prática perversa, violenta, agressiva, mesmo que o discurso evoque algo que as pessoas precisam: respeito e dignidade, perdidas com o resultado da primeira grande guerra. As pessoas não se engajam em tal discurso sem ter por motivação uma crise que ameace a sobrevivência. Foi essa crise na Alemanha, surgida num momento de harmonia onde todos estavam evoluindo, que chegou como um milagre ao avesso. Pois um milagre sempre traz em seu bojo coisas positivas, esse milagre caracterizado pela crise, veio permitir que um núcleo do mal predestinado ao fracasso viesse se reerguer como veremos mais adiante.