Interessante procurar saber como o mal pode se desenvolver e ameaçar todos os países do mundo. O que se passou na Alemanha Nazista sob o comando de Hitler e seus asseclas, abordado pela Netflix em uma série sob o título “Hitler’s circle of evil” serve como um bom campo para nossas reflexões.
XXXIII
Em junho de 1934, Hitler prepara um expurgo da SA. Ele cancela seus exercícios militares anuais e diz para tirarem licença. Dispersos no país em pequenos grupos, será mais fácil lidar com eles.
Uma coisa estranha sobre o expurgo de Röhm foi a ingenuidade dele. Ele parece não ter noção de que é visto como ameaça. Acha que pensa que realmente é útil a Hitler e que a SA ajudará na revolução do jeito que Hitler quer.
Em junho de 1934, Röhm não fica alarmado ao ouvir boatos de que haverá um ataque contra ele. Vai para Bad Wiessee, um lago na Baviera, passar férias. Esse foi um erro fatal. Göring, Himmler e Heydrich, trabalham incessantemente para desacreditar Röhm, e, finalmente, acham seu trunfo.
No final de junho de 1934, incrivelmente, foram achadas provas de que Röhm é traidor. Há um documento que mostra que ele recebeu milhões de marcos do governo francês para derrubar Hitler em nome deles. Claro que são provas fabricadas.
Armados com a aparente prova de que Röhm é um traidor, bem como um degenerado, os conspiradores tentam convencer Hitler a agir rápido. O destino de Röhm está selado.
Então, acontece um dos atos mais infames de violência política da história. Foi a “Noite das Facas Longas”. E, que facas afiadas!
De posse da prova falsificada, em uma ação extraordinária, Hitler, o chanceler da Alemanha, decide agir com as próprias mãos. Ele viaja em um comboio de carros, com escolta de homens armados da SS, até o resort de Bad Wiessee.
Às 6h30, Hitler entra no hotel, com seu revólver na mão. Ele vai até o quarto de Röhm. Abriu a porta de disse: “Levante-se, está preso por alta traição.”
Röhm, sonolento e confuso, não entende o que está havendo e se levanta. Hitler e seu grupo prendem homens da SA que estão dormindo juntos. Isso é algo que os nazistas usarão após o acontecimento para mostrar que tentavam se livrar da torpeza moral de a SA ser considerada a força homossexual.
Cumprindo seu papel de cavaleiros puros da ordem nazista, a SS de Himmler reúne 200 oficiais superiores da SA e limpa toda sua decadência. Nas 24 horas seguintes, muitos são executados, baleados. Esta é a oportunidade para a qual Himmler preparou a organização durante muito tempo. Eles demonstram claramente que são instrumentos leal do Führer. Outros homens, incluindo Röhm, são presos.
Por consideração pessoal a Röhm, Hitler quer poupar a sua vida, mas é convencido do contrario por Göring e Himmler, que dizem: “Não é bom, mein Führer, matar os subordinados de Röhm, mas poupar o chefão nojento.”
Depois de chegar tão longe, não havia mais volta.
No dia seguinte, Hitler oferece uma festa de chá para seus ministros e familiares nos jardins da Chancelaria em Berlim.
Enquanto o evento acontece, a continuidade da Noite das Facas Longas é como o Poderoso Chefão II. Parece filme de gângster. Há pessoas sendo massacradas, literalmente assassinadas, baleadas.
Mas há uma morte que Göring e Himmler ainda desejam. Durante a tarde, eles tentam convencer Hitler repetidamente, e ele finalmente cede.
Hitler ainda está reticente quanto a matar Röhm, então ele manda avisar que ele poderia tirar a própria vida com um revólver. Os guardas da SS entregam um revólver com uma bala a Röhm. Dizem a ele: “Sabe o que fazer, se em 10 minutos não ouvirmos um tiro, atiraremos.”
Pode ser um xeque-mate, mas Röhm não é traidor. Passam-se 10 minutos. Nenhum som. Lutador até o fim, ele não vai lhes dar esse prazer.
Dois homens da SS abrem a porta... e ele diz: “Atirem, ou Adolf Hitler deveria atirar.” Eles dão três tiros no peito dele e um na cabeça.
A morte de Röhm é o final sangrento do expurgo mortal de Göring e Himmler. Ainda não se sabe quantos morreram naquele fim de semana sangrento. Mas com certeza foram centenas. E isso foi um aviso, não só para a Alemanha, mas para o mundo, que se opor aos nazistas era correr risco de vida.
Em poucos meses, a antes poderosa SA não passa de uma organização cerimonial. E sem Röhm, os protagonistas do círculo têm um rival a menos.
Após o expurgo de Röhm, o grupo ao redor de Hitler começa a desenvolver suas próprias bases de poder, seus interesses, mas com Hitler no centro. Era preciso ser leal, não poderia ser como Röhm, ou sofreria as consequências.
Duas semanas depois, o enfermo presidente Hindenburg morre e Hitler unifica os cargos de chanceler e presidente, declarando-se o líder supremo da Alemanha: o Führer.
Agora o círculo íntimo é incontrolável.
O assassinato de Röhm poderia ser um sinal para a Alemanha e para o mundo, de que o mal estava no poder. Mas não houve um protesto significativo, nem na Alemanha, nem no mundo. Na Alemanha, podemos até justificar. Um crítico do sistema nazista, do círculo íntimo, poderia estar assinando a sua sentença de morte, como acontecia frequentemente com os comunista e judeus. Cada um queria ficar longe do foco perverso desse círculo do mal. Mas, e no mundo? Não havia observadores que levantassem tal crítica? Ou o mundo estava absorvido nas falsas narrativas que davam amis crédito ao que o círculo do mal produzia? Mais uma vez muito parecido com o Brasil, cujas narrativas falsas ou tendenciosas que chegam no exterior, são consideradas como verdadeiras e dignas de reação. Lá, os países podiam estar evitando um confronto que os levassem novamente a uma guerra mundial que eles queriam evitar; aqui, em muitos casos, os países acham conveniente aceitar as falsas narrativas, pois privilegiam os grupos políticos que facilitavam o vampirismo econômico em nossas riquezas naturais.