Interessante procurar saber como o mal pode se desenvolver e ameaçar todos os países do mundo. O que se passou na Alemanha Nazista sob o comando de Hitler e seus asseclas, abordado pela Netflix em uma série sob o título “Hitler’s circle of evil” serve como um bom campo para nossas reflexões.
XXXIV
É 1933. Os nazistas estão no poder. Querem transformar suas ideologias distorcidas em realidade. E o marqueteiro eleitoral Joseph Goebbels se volta contra os judeus. Ele desenvolveu um ódio patológico e profundo pelos judeus. Mas seus inimigos mais perigosos estão no círculo íntimo. Entre eles, Hermann Göring.
Göring podia grampear conversas telefônicas, e ele usava seu poder de forma desonesta. E Heinrich Himmler, que queria o antissemitismo de forma discreta. Era melhor fazer as coisas longe dos olhos do público.
Enquanto disputam o poder, esses três homens impulsionarão a Alemanha a seu período mais sombrio.
Essa é a história dos capangas de Hitler, da inveja, da luta pelo poder e dos bajuladores que criarão um monstro e alimentarão os horrores brutais do Terceiro Reich.
O AVANÇO DO ANTISSEMITISMO
24 de março de 1933.
Em 1933, o Partido Nazista saiu da obscuridade para se tornar o partido mais popular da Alemanha, e seu líder, Hitler, agora é chanceler. Agora ele pode avançar com suas ambições para uma Alemanha nazista.
Mas por trás da fachada de liderança unida do partido, o círculo íntimo de conselheiros de Hitler logo se dividirá.
O leal assessor de Hitler, Hess, torna-se vice do Führer. Mas sua influência logo será superada pelos outros.
O burocrata Heinrich Himmler já tem o papel de líder da SS. Agora ele começa sua tomada da Polícia alemã. E o herói de guerra Hermann Göring comanda o maior estado da Alemanha. Isso o colocará em conflito direto com o implacável marqueteiro, Joseph Goebbels. E é Goebbels que tomará a iniciativa.
Goebbels foi fundamental para levar os nazistas ao poder. Sua máquina de propaganda legitimou o partido e conquistou os alemães ao prometer paz e fim da pobreza. A Alemanha está nas profundezas da Grande Depressão, e ele disse que a prioridade seria corrigir a economia.
O slogan nazista era... Brot und Arbeit, “Pão e Trabalho”. Coisa básicas que os alemães se acostumaram a não ter, eles prometeram restaurar.
Mas a economia pode ser uma cortina de fumaça. Uma vez no poder, eles focam uma obsessão de longa data.
26 de março de 1933
Hitler convida Goebbels para falar do principal tópico da pauta deles: os judeus. Ele formou o partido sob extremo antissemitismo. “Nossos problemas sempre têm origem nos judeus. É uma grande trama para dominar o mundo, e nós, alemães, sofremos com isso. É um movimento internacional, mas na Alemanha, por causa de nossa precariedade pós-guerra, somos as vítimas. Para avançarmos, temos de nos livrar dos judeus.”
Goebbels passou a odiar os judeus talvez até mais que Hitler. Ele desenvolveu um ódio virulento, patológico e profundo pelos judeus, e os considerava a fonte de todos os problemas da Alemanha.
Eles querem enviar uma mensagem clara de que os judeus são inimigos do país. O plano era fazer um boicote nacional aos estabelecimentos judeus. Um grande gesto.
Goebbels fica encarregado de unir o povo por meio de campanha. Enquanto Goebbels se envolve na tarefa, nem todos estão a bordo. Hermann Göring mantém visível distância. Ao contrário dos outros, ele não é louco pelo antissemitismo virulento de seus colegas. Göring cresceu com um padrinho judeu, Hermann Epenstein. Era um aristocrata rico que tinha um castelo em Salzburgo, Áustria.
Göring gostou muito de crescer com o luxuoso estilo de vida da aristocracia e tinha grande apreço por Epenstein.
Göring era mais do tipo antiga elite conservadora, não dessa nova crença de que o judaísmo era um perigo para os alemães. Eu não diria que Göring não era antissemita, ele era, mas sua interpretação disso era mais pragmática.
Enquanto Göring mantém distância, isso dá a seu rival a chance perfeita par se aproximar do Führer. Ele quer obter o apoio do povo no boicote aos negócios de judeus. Ele tem o controle total sobre a propaganda contra os judeus. É Goebbels quem escreve mordazes artigos antissemitas na imprensa que vão propagar a ideia de que os judeus são malignos, sob a perspectiva nazista.
Seus preparativos para o boicote estão completos.
Essa influência maléfica da imprensa, divulgando falsas narrativas para influenciar a opinião pública, experimentamos e ainda estamos sentindo o amargo sabor desse veneno sutil no Brasil. O partido de esquerda que estava no poder fez todo o esforço de dividir o país, colocando grupos contra grupos, raciais, profissionais, de gênero, etc. Saíram do poder central, da presidência, mas a lengalenga do ódio ainda se sente pelas páginas de jornais, pelas imagens da televisão e onda de rádio. A igreja que defende a solidariedade, a justiça, a tolerância, quando não cooptada se torna um alvo desses agentes do ódio, disfarçados em pessoas boas que lutam pelo politicamente correto. Na Alemanha de Hitler, o povo de senso crítico mais afiado, não embarcou de primeira nesse ataque à liberdade, de participar de um boicote que eles não viam sentido. Aqui no Brasil, de povo acostumado à subserviência, facilmente são cooptados pela engenharia do ódio, não conseguem ver criminosos a um palmo diante dos seus narizes. Mesmo que as ações criminosas tenham sido atenuadas, ainda sentimos o seu odor fétido pela atmosfera social que circulamos.