Interessante procurar saber como o mal pode se desenvolver e ameaçar todos os países do mundo. O que se passou na Alemanha Nazista sob o comando de Hitler e seus asseclas, abordado pela Netflix em uma série sob o título “Hitler’s circle of evil” serve como um bom campo para nossas reflexões.
XXXVII
Ao contrário de Goebbels que quer uma política explícita contra os judeus, outros, como Heinrich Himmler, querem fazer o oposto. Ele prefere discrição e enganação.
Após brigas de rua em Munique, centenas de judeus e comunistas foram presos como agitadores. Himmler faz uma coletiva de imprensa defendendo essas prisões. Alega que foram presos para a própria proteção. Afirma que os judeus em custódia não estão sendo discriminados.
Heinrich Himmler, líder da SS, diz que judeus são cidadãos alemães como quaisquer outros alemães. É estranho Himmler dizer isso, já que ele é antissemita desde os anos 20. Ele estava ansioso para garantir que a política antissemita não fosse evidente nem divulgada demais, pois eles não sabem o que o povo alemão pensará.
Enquanto Himmler passa a impressão pública de lei e ordem, nos bastidores a realidade é bem diferente. Um campo de concentração é construído especificamente para deter inimigos do nazismo, perto de Munique, em Dachau. A maioria é de adversários políticos da esquerda e alguns ativistas judeus. Em questão de dias, os nazistas provocam uma orgia de violência contra os prisioneiros, resultando na morte de quatro judeus. Muitos mais morrerão.
Quando o campo de concentração de Dachau foi aberto, as condições não eram boas. Lá estavam pessoas consideradas inimigas da Alemanha, que haviam minado o país durante 15 anos. Os prisioneiros são agredidos, pendurados com as mãos para trás, são chicoteados, e alguns morrem no campo.
Himmler sabe que muitos alemães podem desaprovar essa brutalidade, então ordena que a escala de violência seja acobertada. A violência, a tortura e as execuções que aconteceram nesses campos foram totalmente encobertas. Ele reconhece a importância de manter suas ações em sigilo, escondendo os verdadeiros horrores. Isso é algo que ele fará com crescente sucesso.
Contrário a seus dois rivais, Goebbels quer levar sua campanha contra os judeus a um público maior ainda. Ele tenta convencer Hitler de que precisa do controle de toda a rede de estações de rádio. E inicia um ataque contínuo ao homem em seu caminho: Göring.
Goebbels desaprova o estilo de vida de Göring. Não gosta da extravagância, da opulência e coisas assim. Ele se torna uma figura ridícula, cômica e extravagante, caricata, com seu peito largo cada vez mais cheio de medalhas em seus uniformes opulentos e ridículos.
O estilo de vida extravagante de Göring o tornou alvo fácil de ataque para Goebbels, que envenena Hitler contra o Reichsmarschall. Tentou persuadir Hitler de que a ostentação, o estilo de vida não era nacional-socialista, certamente não socialista.
Mas Goebbels tem que tomar cuidado para não ser tão obvio. Por causa do estilo de governo de Hitler, qualquer ataque contra um colega ou adversário dentro do partido ou governo tinha de ser indireto. Era crucial usar a técnica da omissão relevante. Você não menciona a pessoa pelo nome, diz: “Muitos no partido e no governo estão descontentes com toda a ostentação. Estamos perdendo de vista os verdadeiros propósitos e princípios.”
E Goebbels manipula Hitler com perfeição. Quando Hitler discursa no partido atacando a grandiosidade, não há dúvidas de que é um ataque velado ao seu Reichsmarschall.
Goebbels está muito feliz por Hitler atacar a ostentação, pois vê isso como uma crítica a Göring. Em seu diário naquela noite, Goebbels alegremente escreve que Hitler, mentalmente, já abriu mão de Göring, que ele agora é um zé-ninguém, uma piada. Goebbels está empolgadíssimo. Conquista duas vitórias, já que Hitler comanda que Göring entregue sua rádio prussiana. Goebbels superou um importante rival, e agora tem controle total das ondas de rádio alemãs.
Mas Göring é um homem perigoso. Como comandante da polícia prussiana, Göring transforma essa organização na Polícia Secreta do Estado, a Gestapo. Ela se torna uma rede muito poderosa de coleta de informações, que tenta conseguir informações de todo mundo, inclusive de membros do círculo íntimo de Hitler. A Gestapo cerca Goebbels, observando seus passos, cada movimento, esperando que ele cometa algum erro.
Sem saber que está sendo espionado, Goebbels avança com suas ambições de propaganda. Com a rádio sob seu controle total, ele quer garantir que todos sintonizem. Queria que todos tivessem um rádio, ou pelo menos cada cortiço tivesse um rádio para ouvirem. Uma forma pela qual Goebbels espera unir a Alemanha fazendo com que todos compartilhassem alguns programas diariamente, e no intervalo, haverá pequenas peças de propaganda.
E o que Goebbels faz? Primeiro ele atualiza todo o hardware de transmissão para transmitir para o máximo de casas. Depois, ele ordena produção em massa de rádios, e no primeiro ano disso, são produzidos um milhão de novos rádios. O consumidor alemão fica feliz, pois acha que é um exemplo de economia em expansão. Eles têm esse novo bem de consumo. Mas era Goebbels se inserindo na casa das pessoas. E para garantir que as pessoas ouvissem, ele coloca “guardas de rádio” nas vizinhanças para garantir que as pessoas ouçam as transmissões do partido.
Depois, Goebbels visa os impressos. Ele cria a Lei dos Editores. Ela oficialmente tira os poderes editoriais dos donos de jornais e os passa para o Estado. Ele juntava editores e correspondentes dos principais jornais e lhes dava um resumo de como deveriam abordar os diferentes assuntos.
Agora Goebbels tem todas as ferramentas para propagar as conquistas e ideologias nazistas a toda a Alemanha.
As entranhas do poder quando caracterizadas no mal, não respeitam limites quando qualquer elemento observa uma chance de conseguir uma fatia maior. É o império da lei do mais forte, sem nenhum constrangimento ético. Se isso ocorre dentro do círculo íntimo onde poderia se imaginar algum tipo de companheirismo, de camaradagem, mas nunca fraternidade, imagine com o povo que eles agora representam, que foram eleitos baseados em falsas narrativas.
Também pode ser observado nas entranhas do mal a tendência ao mal explícito ou ao mal implícito. É o que se observa nas atuações de Goebbels e Himmler, respectivamente. Ambos são nefastos, mas o mal implícito é pior. Ao mal explicito, as pessoas de boa tendência, de mente critica, podem reagir de forma contrária, como aconteceu com muitos alemães que não aderiram ao Boicote promovido por Goebbels contra os judeus. Por outro lado, o mal implícito desenvolvido por Himmler é o pior, pois fingindo ser amigo da vítima, essa termina sendo amigável e defendendo os atos que só mais tarde podem ser identificados como o mal. Identificamos esse mal implícito aqui no Brasil nos atos de Lula enquanto presidente. Distribuía bolsas e outras benesses à população carente enquanto por outro lado desviava pela corrupção para os próprios bolsos e de seus comparsas, de crime e de ideologia. Até hoje, acusado, punido e preso por esses crimes, ainda tem diversas pessoas honestas que o defendem. Nem falo dos comparsas encastelados em posições estratégicas na administração pública, pois esses sentem ter perdido o seu provedor e temem a mão da justiça humana chegar até eles. Um temor que pode ou não ser realizado, mas acredito que eles não consideram a justiça divina, pois senão não teriam se envolvidos em tantas iniquidades.
Esse é mal da corrupção parece contaminar todos os candidatos a algum tipo de cargo. Também somos vítimas aqui no Brasil dessa condição, em todas as esferas do poder. Felizmente, tivemos uma grata surpresa com o último presidente eleito, sem falsas narrativas, sem corrupção.