Meu Diário
04/01/2021 00h02
CIRCULO DO MAL DE HITLER (42) – NOITE DOS CRISTAIS

            Interessante procurar saber como o mal pode se desenvolver e ameaçar todos os países do mundo. O que se passou na Alemanha Nazista sob o comando de Hitler e seus asseclas, abordado pela Netflix em uma série sob o título “Hitler’s circle of evil” serve como um bom campo para nossas reflexões.

XLII

            O chamado às armas de Goebbels é calorosamente bem recebido. Mas esse ataque aberto de violência nas ruas vai contra tudo que Himmler argumentava. 

            Himmler investiu muito tempo na construção de um sistema de horror discreto, operado de forma muito brutal e eficiente, mas que não era aparente ao povo. Ele acreditava que políticas antijudeus precisavam ser realizadas de forma sistemática e sem emoção, e que violência nas ruas não deveria fazer parte disso.

            Goebbels não acreditava nisso. Queria um gesto. Ele queria que o povo alemão demonstrasse que compartilhava da convicção do partido de os judeus serem inimigos. 

            Nas horas seguintes, uma enxurrada de telegramas vai e volta entre os departamentos nazistas. A euforia é tanta que Himmler sabe que não adianta se opor. E ele sabe que tem de participar, é o chefa da Polícia alemã. A polícia precisa saber o que deve fazer, que não deve interferir, deve deixar a SA e a Juventude Hitlerista agirem.

            No entanto, Himmler e seu assessor Heinhard Heydrich fazem o possível para limitar o potencial dano. Heydrich passa instruções rigorosas à Polícia de Segurança e à Tropa de Assalto da SA.

            As supostas regras de ataque são rapidamente elaboradas. A ideia é de que nenhuma propriedade alemã seja saqueada ou destruída, e se algo de valor for apreendido dos judeus, não deve ser roubado, deve ser entregue às autoridades. As propriedades de judeus não deveriam ser queimadas ou destruídas, devem ser preservadas. 

            Ciente de um potencial desastre político, Himmler tenta distanciar sua SS dos tumultos iminentes. Ele diz à SS para não usar o uniforme preto, deveriam se vestir como cidadãos comuns.

            Göring não está na cidade enquanto tudo isso acontece, e com Himmler sem forças, Goebbels pode causar um caos. A violência que ele organiza será lembrada como uma das mais chocantes e selvagens na história moderna. A Noite dos Cristais.

            Menos de duas horas após a morte de vom Rath, os tumultos começam. Parece que as Tropas de Assalto não receberam as regras de ataque para preservar bens de valor, em vez disso, houve total carnificina. Casas, propriedades e bens foram queimados e destruídos de toda forma. Sinagogas foram queimadas. Estabelecimentos judeus foram destruídos e saqueados. Mas não destruíram apenas propriedades, pessoas também.

            Pessoas estavam sendo espancadas até a morte com porretes, machados. Foi um verdadeiro massacre, e foi sancionado pelo Estado, sem dúvida alguma. Centenas de sinagogas são queimadas. Casas e estabelecimentos são saqueados. Quase 100 judeus são mortos. Mais de 30 mil foram levados a campos de concentração. Para eles, os horrores estão só começando.

            Interessante como os judeus que moravam na Alemanha se submetem a tais atrocidades. Tudo bem que não reagissem de forma violenta, da mesma forma que eles, mas que fossem para longe de tal país, cujos dirigentes incentivam as brutalidades contra eles, que não existe uma voz ponderada nesse círculo do mal, mas que partissem o mais rápido possível. Talvez o que tenha lhes segurado tenha sido o prejuízo material que iriam ter, pois não conseguiriam levar os seus bens na fuga. Se eles pudessem prever o futuro imediato, certamente isso não seria um obstáculo para reagirem.  


Publicado por Sióstio de Lapa em 04/01/2021 às 00h02


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr