Interessante procurar saber como o mal pode se desenvolver e ameaçar todos os países do mundo. O que se passou na Alemanha Nazista sob o comando de Hitler e seus asseclas, abordado pela Netflix em uma série sob o título “Hitler’s circle of evil” serve como um bom campo para nossas reflexões.
XLVI
Os métodos de Bormann são contundentes, mas eficazes. Ele força a aquisição de terras ao redor, que inicialmente formam um modesto chalé na montanha, para criar um enorme império que se torna a corte de Hitler.
À medida que Berghof toma forma, Bormann faz o que sabe melhor, faz todos trabalharem sem parar para realizar os desejos do Führer. Ele coordena bem de perto e, claro, é um grande supervisor. Um intimidador. Ele inferniza os capatazes, mas o serviço é feito.
Enquanto Bormann começa a fazer seu nome, seu chefe, Rudolf Hess, está ocupado demais para ver que seu vice está passando à sua frente. E mesmo após aproximar Bormann do Führer, ele não aprende a lição. Está prestes a cometer o mesmo erro.
Albert Speer é um jovem arquiteto que trabalha em projetos no ministério de Hess, inclusive nos comícios de Nuremberg, onde os leais vão reafirmar sua lealdade ao Führer e ao Partido Nazista. Speer projetou uma águia enorme para ser o pano de fundo. Sem querer assumir a responsabilidade pela aprovação do desenho, Hess o manda até Hitler. É um encontro que mudará a vida de Speer. Hitler se entusiasma com o jovem talento, um arquiteto glamoroso, e o pôs para trabalhar em um incrível projeto nazista.
Então, por um tempo, Speer está em um mundo de sonhos, passando a ter muitas conquistas. Está no controle das coisas e conta com a apreciação de Hitler. Logo é nomeado arquiteto oficial de Hitler. Ele está fascinado, veio do nada e passou a ser um membro remunerado do círculo em menos de quatro anos.
Após seu projeto da águia, o jovem talento tem mais grandes ideias para o encontro anual. Ele quer algo marcante para o comício de Nuremberg. Ele soube que nos EUA eram usados holofotes apontados para o céu e que, se ficassem virados para cima, pareciam colunas romanas sem fim.
Mas as ambições de Speer o colocam em conflito com um dos pesos pesados do Reich. Ingenuamente, ele acha que pode pedir à Luftwaffe 130 holofotes de defesa antiaérea emprestados. Mas ele está mexendo com o homem errado. O comandante Hermann Göring se revolta, dizendo que é um risco para a segurança nacional.
Göring diz que não, ele não podia pegar equipamentos da Luftwaffe e usar em um evento cerimonial. Claro que ele só está com ciúmes de que Albert Speer tenha virado o queridinho. Isso revela que seu ego pode ser atingido.
Speer passa por cima de Göring e vai falar direto com o Führer. Hitler concorda com seu garoto de ouro e vai contra o condecorado herói de guerra. Tem-se ali um arrivista insolente, um jovem presunçoso recém-chegado que fica falando no ouvido do Führer, e isso é irritante.
Speer consegue o que quer e sua chamada Catedral de Luzes torna-se uma imagem icônica da propaganda nazista. O novato no círculo de Hitler ganhou do corpulento nazista, mas arrumou um inimigo que não vai perdoar nem esquecer. É esse tipo de coisa que provoca pessoas como Göring, e Speer acha que só precisa ter um pouco de cuidado.
Um jovem talentoso pode ser cooptado por qualquer sistema de poder, principalmente aquele que se mostra vitorioso e de certa forma aceito pela maioria, incluindo até críticos. A questão é conseguir observar os construtos do mal que estão bem disfarçado e as vezes nem tanto. Como aceitar o que aconteceu na Noite dos Cristais, com tanta violência contra os judeus e não partirem para uma ação de solidariedade? Este é o caminho do jovem Albert Speer. Entrou no covil do mal, mas será que ele, se considerando uma pessoa boa, irá identificar o mal que está ao seu redor ou terminará sendo cooptado?